São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2000

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LITERATURA
Manifestantes tentam impedir divulgação de títulos neonazistas
Editora Revisão é motivo de protestos em Feira do Livro

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Com um abaixo-assinado, um grupo de manifestantes tenta impedir que a editora Revisão, acusada de fazer apologia do nazismo, participe da próxima Feira do Livro de Porto Alegre.
No entanto, é quase certa a presença da editora no evento, que ocorre de 27 de outubro a 15 de novembro, na capital gaúcha.
A Revisão pertence ao escritor Sigfried Ellwanger, condenado judicialmente pela prática do anti-semitismo. Entre outros livros, a editora distribui ""Holocausto -Judeu ou Alemão?", de autoria do próprio Ellwanger.
Não é a primeira vez que os livros da Revisão e sua participação na feira despertam polêmica. Sempre que foi questionado, o escritor entrou na Justiça para garantir sua participação na feira, invocando a liberdade de expressão.
Paulo Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, que organiza a feira, confirma o recebimento do abaixo-assinado, com mais de cem assinaturas. No documento, os signatários dizem que a Revisão se utiliza da tática da "mentira até virar verdade" ao negar o extermínio de judeus. Ainda acrescenta que a editora representa "a antítese do propósito da feira".
Ledur informa que a Revisão garantiu na Justiça a condição de associada da entidade, depois de ter sido expulsa. E diz que, mesmo não concordando "com qualquer forma de discriminação, seja ela racial, religiosa ou político-ideológica", não cabe à Câmara Rio-Grandense do Livro "poder de Justiça, muito menos de polícia".
"A editora Revisão é uma entidade legalmente constituída e preenche os requisitos estatutários para admissão como associada desta Câmara. Sendo regularmente associada, cabe-lhe o direito de participar de todas as atividades realizadas pela entidade", escreveu, em resposta aos signatários do abaixo-assinado.
"No ano de 1989, a editora Revisão foi declarada "persona non grata" pelo município de Porto Alegre (ato também revogado judicialmente) e, em assembléia geral da Câmara Rio-Grandense do Livro, foi excluída do quadro associativo. Poucos dias depois, uma liminar determinou sua reintegração ao quadro associativo, havendo decisão definitiva a esse respeito no ano de 1992", lembrou Ledur.

Outro lado
A Folha tentou ouvir Sigfried Ellwanger, mas este não foi encontrado até o fechamento desta edição. Sua mulher, Leonilda, disse que ele estava viajando e que não daria entrevistas.
De acordo com Leonilda, um advogado do editor, com escritório em Brasília, estará em Porto Alegre durante a feira para sustentar eventuais defesas de seu cliente.


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