DE NOVA YORK

Escrita e desenho se entrelaçaram na vida artística de Vincent van Gogh. Além de usar os mesmos materiais, as numerosas cartas falavam de técnicas, descreviam desenhos realizados e muitas vezes continham esboços, reproduções e obras originais, feitas apenas para ilustrar seu trabalho aos amigos e familiares.
As cartas de Van Gogh foram essenciais para que os curadores da exibição detalhassem a cronologia e objetivos dos desenhos -muitas passagens são citadas, inclusive um lema de Van Gogh: "O desenho é a raiz de tudo".
No início da carreira artística, Van Gogh se esforçava para explicar ao irmão e também mecenas Theo sua compulsão por dominar as técnicas de desenho tradicionais e delas derivar seu próprio estilo. Cansado de buscar o realismo, escreveu ao irmão que nas distorções queria encontrar algo "mais verdadeiro do que a verdade literal".
"Na vida é como no desenho; se deve agir rapidamente, decisivamente, atacar com energia, traçar um esboço rápido como um raio. Não há tempo para hesitação ou dúvida, a mão não pode tremer", escreveu em 1882.
Nesse ano, buscava, incansável, uma essência nos desenhos: "O problema é encontrar aquelas linhas principais para que a essência se expresse em apenas alguns traços ou arranhões".
As cartas de Van Gogh também expressam sua ansiedade pela carreira artística que não deslanchava e sua fraca saúde mental.
Já em 1883 disse saber que não viveria muito e escreveu: "O mundo me concerne tão-somente na dívida e no dever que tenho com ele. Andei pela terra por 30 anos. Por gratidão, quero deixar um suvenir, um desenho ou uma pintura, que não seja feito para agradar a um determinado gosto, mas que expresse um sentimento humano sincero".
Van Gogh sempre disse ter um "punho de desenhista", mas foi apenas em 1886, quatro anos antes da morte, que escreveu: "Estou começando a desenhar como se fosse escrever, com a mesma facilidade". Prolífico escritor de cartas, considerou conquistada a habilidade de expressar sentimentos também nos desenhos.


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