CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Ele demorou, mas já está chegando. Hoje as livrarias recebem "Babado Forte - Moda, Música e Noite da Virada do Século 21", livro de Erika Palomino, colunista da Folha. O livro terá lançamento oficial, festa e autógrafos no próximo dia 28, na praça Paulista, ao lado do restaurante Spot (al. Ministro Rocha Azevedo, 72, São Paulo),
O volume consumiu um total de três anos de pesquisas, período no qual a autora realizou mais de cem entrevistas com personalidades da noite clubber, um mundo do qual ela foi indiscutível protagonista, desde o final dos anos 80, quando essa garota de Ipanema trocou as manhãs e tardes no Rio de Janeiro pelas agitadas noites paulistanas.
"Babado Forte" tem tudo para ser a bíblia do comportamento jovem da década de 90. O trabalho não se resume a festas e ferveções, mas analisa moda, tendências, música e comportamento da juventude desta década.
Organizado de maneira mista -cronológica, mas também temática-, o livro começa com o surgimento da cena underground paulistana e carioca no final dos anos 80 e início dos 90, em casas como as pioneiras Madame Satã, Nation e Kitschnett (no Rio de Janeiro).
Trata, a seguir, da consolidação do cenário clubber, com as casas Massivo e Sra. Krawitz. "O Massivo foi o primeiro passo, e dessa vez vi o clube nascer, em meio a uma inédita diversão: almôndegas, ferveção, fechação. Com as bichas aprendi o catwalk no mezanino do clube, a colocar cílios postiços e a me divertir", escreve na pág. 10 do livro.
O momento coincidiu ainda com o lançamento da coluna semanal "Noite Ilustrada", em 22 de maio de 1992, que a colunista assina até hoje na Ilustrada e que traz notas sobre moda, música e noite: "polaróids do comportamento jovem", define a autora.
A posterior profusão de clubes como o Hell's Club, abordada no capítulo seguinte, está associada à explosão da moda no Brasil e fez com que a jornalista deixasse de ser apenas uma cronista do momento e passasse também a protagonizá-lo, tornando-se ela própria um importante personagem da cena. "Eu estive no epicentro dos dois", escreve Erika Palomino, sem falsa modéstia.
Essa parte cronológica do livro termina no exato momento da ascensão recente da música tecno e das raves.
Em seguida, Palomino aborda temas específicos, em capítulos como "A Cena Gay", "A Experiência do Rio" e "A Cena Fashion". Cada um deles traz os tópicos "Que Fim Levou..." (uma referência à banda clubber Que Fim Levou Robin?), que dá o paradeiro de alguns artífices da noite, e "Outros Momentos", em que a autora elenca fatos importantes para a cena clubber e acontecimentos que se tornaram marcantes durante o período abordado no capítulo.
Não satisfeita, organizou um glossário com os termos musicais que ganharam os ouvidos e o comportamento dos jovens nesta década. E construiu ainda um índice onomástico completo, para todo clubber ou personalidade da noite localizar seu nome ou sua casa noturna favorita em sua obra.
Uma exceção às superficiais referências estrangeiras presentes no livro se encontra no tópico dedicado ao surgimento e disseminação do Ecstasy.
Nele, Erika detalha dados históricos e se aventura em explicações socioeconômicas sobre o surgimento da droga.
A influência do trabalho da autora na Folha é amplamente sentida no livro, seja na linguagem jornalística utilizada na redação do texto, que intercala entrevistas, impressões pessoais e descrições da época, seja na utilização de recursos do jornal, como as remissões às páginas com mais informações sobre o assunto tratado (o "leia mais") e a precisão na apuração dos fatos e festas que marcaram o período.
Também não falta no livro o humor e o nonsense que sempre marcam seu trabalho realizado na Ilustrada, como, por exemplo, na descrição do motivo de fechamento do Dandy's ("O Dandy'sfechou porque o dono, um japonês, vendeu o lugar, que se transformou no estacionamento da Casa Centro, loja de eletrodomésticos").
O capítulo "A Cena Gay" é uma atração à parte, com as biografias das drags mais invejadas da cena clubber paulistana, como Silvetty Montilla, Kaká de Polly, Alma Smith e Dimmy Kier, entre outras divas.