São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2004

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Cavaleiro místico

Tuca Vieira/Folha Imagem
A soprano Graciela de Gyldenfeldt, durante ensaio da ópera "Lohengrin", de Richard Wagner, anteontem no Teatro Municipal de São Paulo


A partir de amanhã, Ira Levin rege "Lohengrin", ópera de Richard Wagner, no Teatro Municipal de SP

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Teatro Municipal de São Paulo tem a reputação de tratar muito mal o repertório de Richard Wagner (1813-83). A ópera "Lohengrin", que estréia amanhã em temporada de cinco récitas, foi montada pela última vez em 1940.
Mas agora temos bons motivos para perdoar a negligência, com a apresentação da Orquestra Sinfônica Municipal, que atravessa um grande momento. Seu regente, Ira Levin, é um reconhecido wagneriano. E há sobretudo o elenco. O personagem-título será cantado pelo tenor russo Leonid Zachozhaev, especialista em Wagner que fará em dezembro o papel de Siegfried, na Ópera de Toronto.
Outra wagneriana é a soprano argentina Graciela de Gyldenfeldt, radicada há 20 anos na Europa e que em 1985 participou de uma montagem de "Carmen", em Salzburgo, regida por Karajan.
O rei Henrique será o baixo americano Steven Bronk, radicado em Belo Horizonte e que cantou neste ano no Paço das Artes, em "Turandot", o papel de rei Timur. Frederick, o conde de Brabant, terá como intérprete o barítono brasileiro Lício Bruno e, no papel de Ortrud, a soprano brasileira Leila Guimarães.
"Lohengrin" é ópera de um Richard Wagner ainda jovem. Estava com 34 anos quando a terminou, em 1847. A estréia se deu em Weimar, três anos depois, sob a regência de Franz Liszt.
A ópera retoma a Idade Média e a mística cristã, já presentes em seu trabalho anterior, "Tannhäuser" (1865). Lohengrin é o filho de Parsifal, da lenda dos cavaleiros guardiões do santo graal, que em 1882 vira o tema da última peça lírica do compositor alemão.
O enredo é de certo modo singelo e se passa em Antuérpia no século 10. O rei Henrique busca apoio de seus súditos para combater os húngaros. Mas encontra muita confusão no ducado de Brabant. Após a morte do duque, sua filha, Elsa, está sob a suspeita de ter matado o irmão para se apoderar do trono.
Quem assume o poder é Frederick, que se casa com Ortrud, princesa de uma etnia de reis pagãos e autora da intriga que incrimina Elsa. As coisas estão de certo modo tão amarradas que apenas a intervenção de um deus ex-machina fará a história ir adiante.
Ele surge deslizando num bote, acompanhado de um misterioso cisne. O cavaleiro desconhecido provará por meio de um duelo que Elza é inocente. Compromete-se a casar com ela. Mas impõe uma única condição: que jamais perguntem seu nome.
Elsa cai na bobagem de fazer a pergunta. O compromisso se desfaz. O cavaleiro diz se chamar Lohengrin, da corte de Montsalvat, guardiã do cálice sagrado, usado por Cristo na Última Ceia. Ele deixa Brabant, mas antes quebra o encanto feito por Ortrud, pelo qual o cisne volta a ser o irmão supostamente assassinado de Elsa.
É um espetáculo musical e teatralmente bonito. Cleber Papa, cenógrafo e diretor cênico, manteve-se na ortodoxia wagneriana. Não caiu na tentação de modernizar a lenda de Lohengrin ou modificar seu sentido.
É por fim um espetáculo longo, que, contando os dois intervalos, tem quatro horas de duração, por isso as récitas começam às 17h ou às 19h30, horários pouco habituais para o Municipal.


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