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TEATRO
Texto premiado em 2001 marca a estréia de Sergio Salvia Coelho na direção e traz Angela Dip em registro dramático
Emaranhado de ambigüidades circula "UmBigo"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Tudo é uma caixa-preta, inviolável. E eu já desisti de tentar compreender as coisas", afirma o Homem na reta final de "UmBigo".
Mas é quando justamente as
certezas diminuem que as coisas
começam a ficar mais claras, se é
que se pode dizer assim.
O texto de Rubens Rewald recorta tempos, espaços e personagens de modo que um se sobreponha, dialogue ou desautorize o
outro.
A ambigüidade permeia essa
história em aberto que envolve os
personagens Homem, Menino,
Mulher e Garota.
Uma soma de três na matemática dramatúrgica de Rewald, cujo
texto marca a estréia profissional
do crítico da Folha Sergio Salvia
Coelho na direção teatral. O espetáculo inicia temporada amanhã
no Centro Cultural São Paulo.
Premiado em 2001 em concurso
do Ministério da Cultura, "UmBigo" ganha primeira montagem. A
remissão à parte do corpo que
guarda a cicatriz do corte do cordão umbilical ajuda a ilustrar o
que se carrega vida adentro.
No passado, houve um romance transformador entre a Mulher
e o Menino. Dele, nasceram a Garota, que hoje questiona o pai,
com idade para ser seu irmão, sobre a morte da Mulher.
O texto espalha ambíguas memórias de incesto, desenterra um
suicídio e traz um recorte para o
drama urbano do menino de rua
versus adulto burguês.
"Passei a entender a peça a partir do universo dos meninos de
rua, que são vistos como vítimas e
vivenciam a esquizofrenia de se
adaptar a cada situação ou risco
que surgem", diz Coelho, 40, que
também é dramaturgo ("Só, Ifigênia, sem Teu Pai" e "Amor: Modo
de Usar").
"Mais que denúncia, é uma metáfora de como a gente vive."
Angela Dip contracena com três
atores recém-formados no cenário de Mauro Martorelli, que sugere uma caixa-preta hermeticamente fechada. Todos permanecem o tempo todo em cena.
Atriz conhecida pelo registro de
interpretação mais cômico, Dip
surge aqui em tom diferente, segundo Coelho, que explora um
trabalho próximo ao melodrama,
"mas nem tanto".
Em dez anos de dramaturgia
-"O Rei de Copas", "Narrador",
"Ante-Câmara" etc.-, Rewald
manifesta, com recorrência, insatisfação com os limites do personagem. "UmBigo" aprofunda isso
e dá margem ao revezamento de
personagens/atores.
"Não é o caso do curinga, que
vai do zero ao infinito, mas de
uma opção estética na qual um
personagem que busca sua forma
pode adotar um RG num momento e outro depois, sem deixar
de ser o mesmo", diz Rewald, 39.
Ele também é cineasta e co-dirige com Rossana Foglia o longa-metragem "Corpo", em fase de
produção.
Rewald e Coelho (formado em
direção teatral) se conhecem há
pelo menos 15 anos. Estudantes
na USP, um criou vídeo para espetáculo de curso do outro, e outro dirigiu atores para o curta-metragem do um. Enfim, "UmBigo"
os une novamente.
Feita à própria custa (nem
apoio de restaurantes), a produção chega a R$ 1.000.
UMBIGO. Texto: Rubens Rewald.
Direção: Sergio Salvia Coelho. Figurino:
Helena Cerello. Iluminação: Rafael Losso.
Sonoplastia: Junae Andreazza. Com:
Angela Dip, Anna Cecília Junqueira,
Leandro Siqueira e Mairun Sevá. Onde:
Centro Cultural São Paulo - sala Paulo
Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro, 1.000,
Paraíso, SP, tel. 0/xx/11/3277-3611).
Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e
sáb., às 21h; dom., às 20h. Quanto: R$ 12
(dia 3/12; sex., promoção a R$ 1,20). Em
cartaz até 19/12.
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