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CDS
JAZZ
Seis discos reúnem shows do músico nos anos 60; "Miles in Tokyo" é destaque
Álbuns percorrem o período de mutação de Miles Davis
1º jun. 1987/Associated Press
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Miles Davis durante apresentação, em 1987, no antigo anfiteatro romano, em Tel Aviv (Israel) |
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Miles Davis (1926-1991) adentrou a década de
60 sem um grupo fixo, com o seu
primeiro grande quinteto (depois
sexteto) dissolvido definitivamente, muitos se perguntaram se
o melhor momento do trompetista já tinha ficado para trás. Mas o
músico americano mostrou mais
uma vez fôlego para renascer e
voltar ao centro da cena jazzística.
Um pacote de seis CDs, que acaba de desembarcar nas prateleiras
em edição nacional, mostra o que
foi esse período de transição
-nem por isso menos interessante ou relevante na discografia
do trompetista.
Somente no fim de 1964 Davis
teria no palco o que passaria a ser
conhecido como seu segundo
grande quinteto: Wayne Shorter
(sax), Herbie Hancock (piano),
Ron Carter (contrabaixo) e Tony
Williams (bateria).
"Miles in Berlin", show de setembro de 64 que está entre os
lançamentos, traz o primeiro registro desse que seria um dos grupos mais influentes e requintados
da história do jazz.
Após o saxofonista John Coltrane (1926-1967) deixar de vez o
grupo de Davis, na virada dos
anos 50 para os 60, o trompetista
tateou por alguns anos até chegar
a Shorter. George Coleman ocupou o posto por um bom tempo.
Mas acabou perdendo a vaga após
pressão dos outros músicos que
formariam o "segundo grande
quinteto" e queriam alguém com
um toque menos "clássico".
Em sua autobiografia, Davis
aponta Tony Williams, o baterista-prodígio que começou a tocar
com ele com apenas 17 anos, em
63, como o grande fomentador da
saída de Coleman. "Tony não
gostava de George. Ele preferia alguém que estivesse buscando algo
diferente, como Ornette Coleman
[um dos pais do free jazz]", conta
o trompetista.
George Coleman aparece em
quatro dos álbuns que acabaram
de sair, sendo uma boa oportunidade para conferir seu sopro (e
julgar se merecia ter saído ou não
do grupo). Se Coleman nunca foi
um inovador -no sentido que
Coltrane, Pharoah Sanders e Archie Shepp o foram-, não se pode classificá-lo como medíocre:
ele foi um importante saxofonista, apenas não incorporou a seu
estilo as inovações do free jazz.
Mas basta ouvir Coleman em
ação, tocando nos CDs faixas como a conhecida "My Funny Valentine", "All Blues" ou "Joshua"
para atestar a beleza de seu sopro.
Davis disse que sua primeira
opção para substituir Coleman
era Wayne Shorter -saxofonista
que se apresentou no Brasil no
mês passado e mostrou o quanto
a sua música permanece viva e
fundamental-, mas ele estava na
época envolvido com os Jazz Messengers de Art Blakey (1919-1990).
E a espera rendeu o mais belo
dos álbuns recém-lançados: "Miles in Tokyo", gravado em julho
de 64. Enquanto Shorter não estava disponível, Sam Rivers ocupou
seu lugar, sendo o grande destaque daquela excursão ao Japão.
As dissonâncias produzidas pelo sax-tenor de Rivers temperaram as performances, fazendo
com que até Davis soprasse seu
trompete com maior liberdade
que o usual, como pode ser conferido em "So What" e "Walkin",
presentes no álbum.
Pena que a parceria de Rivers
com Davis foi curta demais, ocasional. Mas Shorter tinha de ocupar seu posto no grupo de Davis
ou o segundo quinteto não teria
sido o que foi. E não teríamos álbuns como "Nefertiti" e "Miles
Smiles".
Shorter apenas abandonaria
Davis anos depois, para montar o
Weather Report, um dos mais importantes grupos de fusion da década de 70.
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