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MIX BRASIL 2005
Festival tem pequena mostra da produção do país, que está crescendo, mas enfrenta censura do governo
Cinema gay procura seu espaço na China
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em abril deste ano, os organizadores da 2ª edição do Festival de
Cinema Gay e Lésbico de Pequim
viram sua sessão de abertura na
Universidade de Pequim ser cancelada dez minutos antes do início da projeção. A tentativa de
burlar a censura oficial, dizendo
que se tratava de uma mostra sobre Aids, acabou desmascarada
pelo projecionista, que alertou
para o conteúdo dos filmes. Sessão cancelada, cerca de 500 pessoas ficaram do lado de fora, a ver
navios. Até que o festival transferiu a programação para um bairro
de artistas, distante do centro da
capital chinesa, onde tiveram sossego. E nenhuma censura.
"A mais famosa e maior universidade chinesa é também a mais
preconceituosa", reclama Yang
Yang, diretora do festival de Pequim, sem perder a esperança.
"Não tivemos tempo de divulgar a
mudança de endereço do festival,
mas, mesmo assim, tivemos um
público total de cerca de mil pessoas em dois dias."
Alguns dos filmes do festival
chinês estão na mostra dedicada
ao país que a 13ª edição do Mix
Brasil apresenta. Hoje, há sessões
do documentário "Belos Homens", sobre drags dançarinas
chinesas, e do poético "Encanto
Estelar", dois exemplos do cinema gay chinês, de baixo orçamento e feitos em tempo recorde. Títulos que são proibidos no país e
que, salvo versões em DVD ou
baixadas da internet, por enquanto um bom negócio para os produtores, permanecem inéditos lá.
De acordo com o produtor Xiao
Wu, o número de documentários
e ficções no cinema gay chinês é
equilibrado. Nunca exibidos em
circuito comercial, os filmes chegam ao público somente em mostras independentes como o festival que foi censurado em abril. A
platéia em geral é formada por estudantes homens de classe média.
Pequena, a produção tem crescido nos últimos anos.
"É difícil dizer se vai crescer
mais. Depende do governo, que
não quer que filmes gays entrem
no mercado. E, se eles não entram, como vão crescer?", indaga.
Diretor de "Encanto Estelar" e
"Shitou e Nana", que também está na seleção do Mix, Cui Zi'en
conta que o cinema gay de seu
país se debruça sobretudo sobre a
condição do homossexual na fechada sociedade chinesa, seus
medos e dificuldades.
"São filmes mais concentrados
nos sentimentos e numa atitude
crítica contra o preconceito do
que no sexo", diz o diretor, cujo
"Encanto Estelar" conta a história
de um alienígena envolvido num
triângulo amoroso com um homem e uma mulher.
Cui Zi'en está otimista em relação ao futuro. A imprensa, diz ele,
tem dado mais atenção aos filmes
e, nos últimos dois anos, há uma
certa onda de interesse.
"Se o governo não continuar
proibindo, haverá mais realizadores e público. Há uma grande paixão pelo cinema gay, as pessoas
querem ver os filmes, não importa se num cinema grande ou em
salas pequenas", sustenta.
Em dezembro deste ano, os
mesmos organizadores do festival
de cinema vão realizar em Pequim um evento multicultural
com temas gays. Haverá palestras,
teatro, dança, exposições e shows.
E cinema, é claro.
"A boa imagem da propaganda
governamental é forte. Mas a China não é Pequim, Taiwan ou
Hong Kong. A realidade está nas
Províncias", ressalva Yang Yang.
"Mas, se o festival der certo, quer
dizer que a sociedade está ficando
mais aberta."
Belos Homens
Direção: Du Haibin
Produção: China, 2004, vídeo
Quando: hoje, às 16h, no Cinusp (r. do
Anfiteatro, 181, favo 4, tel. 3091-3540)
Encanto Estelar
Direção: Cui Zi'en
Produção: China, 2005, vídeo
Quando: hoje, às 18h, no Cinusp
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