São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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MIX BRASIL 2005

Festival tem pequena mostra da produção do país, que está crescendo, mas enfrenta censura do governo

Cinema gay procura seu espaço na China

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em abril deste ano, os organizadores da 2ª edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Pequim viram sua sessão de abertura na Universidade de Pequim ser cancelada dez minutos antes do início da projeção. A tentativa de burlar a censura oficial, dizendo que se tratava de uma mostra sobre Aids, acabou desmascarada pelo projecionista, que alertou para o conteúdo dos filmes. Sessão cancelada, cerca de 500 pessoas ficaram do lado de fora, a ver navios. Até que o festival transferiu a programação para um bairro de artistas, distante do centro da capital chinesa, onde tiveram sossego. E nenhuma censura.
"A mais famosa e maior universidade chinesa é também a mais preconceituosa", reclama Yang Yang, diretora do festival de Pequim, sem perder a esperança. "Não tivemos tempo de divulgar a mudança de endereço do festival, mas, mesmo assim, tivemos um público total de cerca de mil pessoas em dois dias."
Alguns dos filmes do festival chinês estão na mostra dedicada ao país que a 13ª edição do Mix Brasil apresenta. Hoje, há sessões do documentário "Belos Homens", sobre drags dançarinas chinesas, e do poético "Encanto Estelar", dois exemplos do cinema gay chinês, de baixo orçamento e feitos em tempo recorde. Títulos que são proibidos no país e que, salvo versões em DVD ou baixadas da internet, por enquanto um bom negócio para os produtores, permanecem inéditos lá.
De acordo com o produtor Xiao Wu, o número de documentários e ficções no cinema gay chinês é equilibrado. Nunca exibidos em circuito comercial, os filmes chegam ao público somente em mostras independentes como o festival que foi censurado em abril. A platéia em geral é formada por estudantes homens de classe média. Pequena, a produção tem crescido nos últimos anos.
"É difícil dizer se vai crescer mais. Depende do governo, que não quer que filmes gays entrem no mercado. E, se eles não entram, como vão crescer?", indaga.
Diretor de "Encanto Estelar" e "Shitou e Nana", que também está na seleção do Mix, Cui Zi'en conta que o cinema gay de seu país se debruça sobretudo sobre a condição do homossexual na fechada sociedade chinesa, seus medos e dificuldades.
"São filmes mais concentrados nos sentimentos e numa atitude crítica contra o preconceito do que no sexo", diz o diretor, cujo "Encanto Estelar" conta a história de um alienígena envolvido num triângulo amoroso com um homem e uma mulher.
Cui Zi'en está otimista em relação ao futuro. A imprensa, diz ele, tem dado mais atenção aos filmes e, nos últimos dois anos, há uma certa onda de interesse.
"Se o governo não continuar proibindo, haverá mais realizadores e público. Há uma grande paixão pelo cinema gay, as pessoas querem ver os filmes, não importa se num cinema grande ou em salas pequenas", sustenta.
Em dezembro deste ano, os mesmos organizadores do festival de cinema vão realizar em Pequim um evento multicultural com temas gays. Haverá palestras, teatro, dança, exposições e shows. E cinema, é claro.
"A boa imagem da propaganda governamental é forte. Mas a China não é Pequim, Taiwan ou Hong Kong. A realidade está nas Províncias", ressalva Yang Yang. "Mas, se o festival der certo, quer dizer que a sociedade está ficando mais aberta."


Belos Homens
Direção:
Du Haibin
Produção: China, 2004, vídeo
Quando: hoje, às 16h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4, tel. 3091-3540)

Encanto Estelar
Direção:
Cui Zi'en
Produção: China, 2005, vídeo
Quando: hoje, às 18h, no Cinusp


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