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Peter Tosh, de carreira tortuosa, ganha caixa de luxo
especial para a Folha
Ao lado de Bob Marley, o cantor
Peter Tosh foi um dos responsáveis pela disseminação mundial do
reggae. Mas nunca gozou da mesma popularidade do parceiro famoso. Ao contrário: quando foi
assassinado em 87, Tosh devia dinheiro para Jah e o mundo e implorava por shows que o tirassem
do limbo em que estava.
A caixa "Honorary Citizen",
porém, mostra que a situação desconfortável de Tosh se devia muito
mais ao seu comportamento irascível do que à falta de talento. São
três CDs num caixote luxuoso,
com textos de Roger Steffens.
Os CDs ajudam a acompanhar a
tortuosa trajetória de Winston
Hubert MacIntosh, rapagão criado nas ruelas de Kingston e com
um pé na marginalidade. "Jamaican Singles", o primeiro CD, retrata o início de sua carreira.
Há negações ao cristianismo
("You Can't Fool Me Again"),
parcerias ao lado dos Wailers
("You Can't Blame the Youth",
"Fire Fire"), cover dos Beatles
("Here Comes the Sun") e uma
versão primitiva de "Legalize It".
Nelas, Peter Tosh apresentava
muitas das qualidades que o tornariam respeitado: o vozeirão de barítono, uma pegada reggae na guitarra que influenciou muita gente
e o discurso anti-Babilônia e
pró-maconha que lhe trouxe vários problemas com a polícia (alguém pensou em Planet Hemp?).
"Live" apresenta algumas das
performances ao vivo de Tosh. E
que performances. Quando saiu
dos Wailers, em 73, o cantor montou a Word Sound and Power com
os melhores bambas dos estúdios
jamaicanos, como Sly Dunbar e
Robbie Shakespeare, uma espécie
de Pelé e Coutinho do reggae, o
guitarrista de blues Donald Kinsey
e o tecladista Keith Sterling.
Em shows que beiram o êxtase
rastafari, o cantor manda alguns
de seus maiores sucessos, como
"Mystic Man", "Coming In
Hot" e a versão chacundum para
"Johnny B. Good", de Chuck
Berry. O couro come solto com viradas fantásticas de bateria, o baixo rimbombando e a guitarra de
Kinsey tocando fogo em tudo.
O último CD é "Hits & Classic
Album Cuts", com faixas dos álbuns internacionais. Tem o duo
com Mick Jagger em "Don't Look
Back", regravação do clássico dos
Temptations, o hino pan-africanista "African", as bravatas de
"I'm the Toughest" e outra saudação à erva em "Bush Doctor".
Acima de tudo, "Honorary Citizen" mostra que, como reggae
star, Tosh era perfeito. Cantava como poucos e tinha um talento nato
para compor hinos libertários.
A caixa sabiamente deixa de lado
o Peter Tosh de caráter dúbio, que
roubou a casa de Keith Richards e
deu calote nos empresários brasileiros, em 83. Fica só a música de
qualidade incomparável. Afinal,
até Bob Marley, tido como santo,
já deu seus pulinhos em direção à
Babilônia...
(SM)
Disco: Honorary Citzen
Artista: Peter Tosh
Lançamento: Columbia (importado)
Quanto: R$ 66
Onde encontrar: Nuvem Nove Discos
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