São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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CRÍTICA
Produção tende à mão única

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Trata-se do mais ambicioso entre os projetos de songbooks de Almir Chediak, e, sendo assim, os oito volumes de Chico Buarque estão coalhados de interpretações memoráveis.
Nesse rol incluem-se, antológicas, "Olhos nos Olhos" por Nana Caymmi, "Rosa dos Ventos" por Cida Moreira, "Apesar de Você" por Beth Carvalho, "Futuros Amantes" por Angela RoRo, "Valsinha" por Zezé Gonzaga, o fado "Tanto Mar" pela portuguesa Eugênia Melo e Castro -não é coincidência o convescote de intérpretes mulheres; Chico é o imperador delas.
Na reelaboração de arranjos, alguns momentos também são arrepiantes, como "A Banda" com Dominguinhos e "Construção", contaminada de referências a Tom Zé (ausente) por José Miguel Wisnik e Luiz Tatit.
É no diapasão arranjo/produção, mesmo, que o songbook perde pontos -aliás, é o que ocorre a cada projeto de Chediak, já virou rotina. O que ele tem feito é agrupar canções importantes de autores importantes sobre (sob?) sua própria produção e os esforços de um grupo meio constante de músicos.
O resultado é via de mão única. Todos os autores vão sendo adaptados a um estilo de produção e a um universo constante de referências. Criadores importantes -Caetano, Gil, Gal, Bethânia, blablablá- são reduzidos a meras vozes. O tributo aí parece ser a Almir Chediak, não aos luminares da MPB.
Artistas de cor mais contemporânea -Lenine, Cris Braun- se descaracterizam pelas insistentes leituras "MPBzinha"; quem fura o bloqueio -como Chico César, em "Pedro Pedreiro", ou Wisnik e Tatit-se sai bem, muito bem, mas fica perdido na multidão.
Percebem-se furos de elenco (por que Paulinho da Viola, Jorge Ben Jor, Rita Lee e outros muitos nunca participam?), que vão sendo acomodados ao sabor de outras virtudes -a acomodação intérprete/canção, aqui, é das mais inteligentes, como na corrente em que Angela Maria tira "Bastidores" de Cauby Peixoto, que tira "Viver do Amor" de Marlene, que tira "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" de Ney Matogrosso...
Por aí, Sérgio Ricardo canta "Angélica" aproximando Chico de Caymmi, e Zeca Baleiro reinterpeta "Até o Fim" confrontando-o com o maldito Sérgio Sampaio -dialogam com (e até criticam) o criador, Chico Buarque, e não o produtor. Seria histórico se fosse sempre assim.


Coleção: Songbook Chico Buarque (8 volumes) Lançamento: Lumiar Quanto: R$ 20, em média, cada CD

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