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SOCIOLOGIA
Falta o sociólogo nas "Memórias" de Tragtenberg
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
O sociólogo Maurício Tragtenberg, morto em novembro do ano
passado, é dessas figuras cuja história pessoal merece respeito e
admiração. "Memórias de um
Autodidata no Brasil", edição de
uma entrevista de 12 horas concedida ao Centro de Memória Sindical em 1983, acaba, entretanto,
ficando aquém do personagem.
Tendo feito apenas o primário,
esse judeu gaúcho, nascido em
1929, tornou-se em São Paulo um
intelectual e professor respeitado
(formou-se em sociologia na USP
e deu aulas na PUC e na FGV), em
especial por sua liberdade e independência política.
No início dos anos 80, decidiu
escrever no jornal "Notícias Populares" a coluna "No Batente",
em que discutia problemas cotidianos de operários. "Para dar
força ao sindicato que não seja pelego", escolheu o "Notícias Populares" porque "é jornal lido por
peão". No jornalismo, já trabalhara na Folha, cuidando do noticiário internacional, nos anos 60, a
convite de Cláudio Abramo ("Me
deu treino para escrever a tese").
Tragtenberg se iniciou na arte
da contestação em casa. Não partiu para o comércio, como queria
a família, "achava aquele Cristo
um cara legal", lia obras de Stefan
Zweig em cima do telhado, escondido da irmã, dona dos livros, e
optou pelo ateísmo quando chegou "aos 14, 15 anos".
Aproximou-se do PCB, mas,
sem nunca abandonar suas leituras e companhias "heréticas",
adotou as críticas que os trotskistas faziam ao stalinismo, sem deixar de criticar o próprio Trótski.
Num ambiente em que se falava
e se lia o iídiche, depois também
aprenderia catalão, francês, italiano e alemão (traduziu Max Weber). Estudava aonde podia, "lendo oito, nove horas por dia", seja
em centros culturais do Bom Retiro e do Brás, seja na Biblioteca
Mário de Andrade.
Em "Memórias de um Autodidata no Brasil", o leitor não encontrará o sociólogo Maurício
Tragtenberg autor de "Burocracia
e Ideologia", escreve na introdução Sonia Alem Marrach, organizadora do livro-depoimento. E
essa ausência é o grande "buraco"
do livro, que frusta o leitor que espera conhecer um pouco da obra
de Tragtenberg.
Falta uma discussão mais profunda de suas idéias sobre burocracia, sindicalismo, planificação
e academia, ainda que o objetivo
inicial da entrevista, feita pela socióloga Carmen Lúcia Evangelho
Lopes, fosse mais factual.
Avaliação:
Livro: Memórias de um Autodidata no
Brasil - Maurício Tragtenberg
Autor: Sonia Alem Marrach (org.)
Editoras: Escuta/Unesp/Fapesp
Quanto: R$ 26 (134 págs.)
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