São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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SOCIOLOGIA
Falta o sociólogo nas "Memórias" de Tragtenberg

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local


O sociólogo Maurício Tragtenberg, morto em novembro do ano passado, é dessas figuras cuja história pessoal merece respeito e admiração. "Memórias de um Autodidata no Brasil", edição de uma entrevista de 12 horas concedida ao Centro de Memória Sindical em 1983, acaba, entretanto, ficando aquém do personagem.
Tendo feito apenas o primário, esse judeu gaúcho, nascido em 1929, tornou-se em São Paulo um intelectual e professor respeitado (formou-se em sociologia na USP e deu aulas na PUC e na FGV), em especial por sua liberdade e independência política.
No início dos anos 80, decidiu escrever no jornal "Notícias Populares" a coluna "No Batente", em que discutia problemas cotidianos de operários. "Para dar força ao sindicato que não seja pelego", escolheu o "Notícias Populares" porque "é jornal lido por peão". No jornalismo, já trabalhara na Folha, cuidando do noticiário internacional, nos anos 60, a convite de Cláudio Abramo ("Me deu treino para escrever a tese").
Tragtenberg se iniciou na arte da contestação em casa. Não partiu para o comércio, como queria a família, "achava aquele Cristo um cara legal", lia obras de Stefan Zweig em cima do telhado, escondido da irmã, dona dos livros, e optou pelo ateísmo quando chegou "aos 14, 15 anos".
Aproximou-se do PCB, mas, sem nunca abandonar suas leituras e companhias "heréticas", adotou as críticas que os trotskistas faziam ao stalinismo, sem deixar de criticar o próprio Trótski.
Num ambiente em que se falava e se lia o iídiche, depois também aprenderia catalão, francês, italiano e alemão (traduziu Max Weber). Estudava aonde podia, "lendo oito, nove horas por dia", seja em centros culturais do Bom Retiro e do Brás, seja na Biblioteca Mário de Andrade.
Em "Memórias de um Autodidata no Brasil", o leitor não encontrará o sociólogo Maurício Tragtenberg autor de "Burocracia e Ideologia", escreve na introdução Sonia Alem Marrach, organizadora do livro-depoimento. E essa ausência é o grande "buraco" do livro, que frusta o leitor que espera conhecer um pouco da obra de Tragtenberg.
Falta uma discussão mais profunda de suas idéias sobre burocracia, sindicalismo, planificação e academia, ainda que o objetivo inicial da entrevista, feita pela socióloga Carmen Lúcia Evangelho Lopes, fosse mais factual.


Avaliação:   


Livro: Memórias de um Autodidata no Brasil - Maurício Tragtenberg
Autor: Sonia Alem Marrach (org.)
Editoras: Escuta/Unesp/Fapesp
Quanto: R$ 26 (134 págs.)


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