São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2000

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LITERATURA

Concurso, que vai de hoje a quinta, em Belo Horizonte, contempla poetas que escrevem assumidamente mal

Bienal escolhe o que há de pior nos piores

CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Você não sabe quando um poema é bom ou ruim? Os criadores da Bienal dos Piores Poemas, cuja segunda edição acontece de hoje a quinta-feira, em Belo Horizonte, também não têm a menor idéia.
Acham que os critérios que regem concursos literários e a própria edição de livros são subjetivos demais ou cedem em excesso aos modismos. Por isso criaram a bienal: para contemplar quem escreve assumidamente mal, mas com certo talento.
Traduzindo, o autor que escreve um poema para se candidatar às medalhas (não há prêmio em dinheiro) que serão entregues no encerramento aos piores dos piores tem que ser bom -o que nos leva de volta ao princípio da história. Então, como saber se um poema é bom, sendo ruim?
"É fácil", explica Ione de Medeiros, diretora do grupo cultural Oficcina Multimédia, que organiza a bienal. "Para um poema ser ruim, tem de ser conscientemente ruim. Mas tem de ter originalidade e a dose certa de banalidade." Para tentar ser mais clara, ela apela para o "slogan" da bienal: "Um lápis na mão e uma idéia ruim na cabeça". Ou para a frase emprestada do (bom) poeta Paulo Leminski: "Distraídos venceremos".
"No fundo, a gente quer estimular o risco, o arriscar-se. Essa competição em que se vive hoje é muito estressante, e os critérios sobre o que é bom ou ruim são muito vagos. Isso inibe a manifestação artística", defende Ione. "A escrita deveria ser, ao contrário, a arte mais democrática, porque é a mais simples que existe."
Outra vantagem apontada pelos organizadores em participar da bienal é que quem não tiver o poema escolhido entre os piores tampouco ficará triste. Afinal, pode ser que, não sendo o pior, o poema até seja bom. "É uma competição onde quem entra se diverte. Se ganhar está bom e, se perder, também", diz Ione.
A bienal abre hoje às 21h no teatro Marília (av. Alfredo Balena, 586, tel. 0/xx/31/3224-4445), com a apresentação do espetáculo "In-Digestão", a produção mais recente do Oficcina Multimédia, e com a instalação "1.000 caixas-surpresas", da artista plástica Adriana Peliano. Os ingressos custam R$ 3.
Até sexta-feira, mais de 600 poemas de vários autores já se candidatavam a ser escolhidos entre os piores. As inscrições podem ser feitas até quarta-feira, via e-mail (aubienal@yahoo.com.br) ou pelo correio (r. Outono, 366, Cruzeiro, Belo Horizonte-MG, CEP 30.310-020). Mais informações pelo tel. 0/xx/31/3221-6200 ou no site www.gomultimedia.cjb.net.


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