São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2001

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A crônica de uma casa abandonada

DA REPORTAGEM LOCAL

A crônica da casa abandonada começou cedo. Não era nem escuro e os refletores e holofotes já iluminavam o céu do Morumbi. Na frente da Casa, uma comissão de frente de seguranças em ternos escuros espiava, braços cruzados na altura do segundo botão do paletó, o desfile agitado de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. A ala dos PMs carregava cones listrados, preparava cordões de isolamento, manobrava o furgão que barrava a entrada no Quarteirão dos Artistas.
O "show da vida" (velho slogan do combalido "Fantástico") estava todo armado na rua para acompanhar o "show da vida" por trás do portão cinza da casa número 482. Epa, mas cadê a vida? Onde estaria o público que a parafernália fazia imaginar?
Sem ter quem entrevistar, jornalistas entrevistavam jornalistas. Até que começa a correria. Não era Supla, Mari, nem Pati. Era "Seu" Silvio, que começava o programa em um aparelho 29 polegadas instalado por uma emissora na calçada.
E foi o logotipo do programa aparecer e uma micromultidão autofermentou-se para tentar olhar ao vivo pelo buraco da fechadura. Molecada berrando "Supla, eu te amo!", madame de calça fuseau e blusa Donna Karan e a galera da favela de Paraisópolis. "Sou filho do Supla com o Taiguara", brincava o rapaz baixinho, mulato com cabelo descolorido. Ao lado, a senhora loira de olhos verdes carregava no colo o poodle branco felpudo.
Bebê, cachorro, grávida, skatista, dondoca e vendedor de bala. A noite escureceu. Holofotes apagaram. Só faltaram mesmo artistas na crônica da casa abandonada. (CASSIANO ELEK MACHADO)


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