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CINEMA
Responsável por registros definitivos de Bob Dylan, diretor finaliza documentário para estrear no Festival de Sundance
"Há sede de sangue nos EUA", afirma Pennebaker
AMIR LABAKI
EM AMSTERDÃ
Aos 76 anos, D.A. Pennebaker,
mestre do documentário musical
americano, termina novo filme
sobre rhythm and blues. No 14º
Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, encerrado no último dia 2, ele falou à Folha sobre "Only the Strong Survive", que deve estrear no Festival
de Sundance, em janeiro.
Também em Sundance Pennebaker lançou, no ano passado, o
mais recente longa que produziu,
"Startup.com", exibido na abertura do Festival de Amsterdã. Co-dirigido por sua mulher, Chris
Hegedus, o longa acompanha ascensão e queda de uma empresa
de internet entre 1998 e 2000.
Pennebaker é a história viva do
documentário americano do pós-guerra. No final dos anos 50 e início dos 60, foi um dos protagonistas da revolução do "cinema direto", ao lado de Robert Drew, dos
irmãos Maysles e de Richard Leacock, em clássicos como "Primary" (1960) e "Crisis" (1963), retratos fílmicos definitivos de JFK.
Na sequência, Pennebaker elevou a novo patamar o documentarismo musical. Em "Don't Look
Back" (1967), flagrou o nascimento do mito Bob Dylan. Em "Monterey Pop" (1968), considerado o
"pai" dos filmes-concertos, captou momentos definitivos de Jimi
Hendrix e Janis Joplin.
Bem-humorado e jovial, parecendo ter 20 anos menos, Pennebaker fala com entusiasmo da revolução digital. "Meu filho começou a fazer videoclipes. Agora é
ele que roda em filme. Eu lhe empresto minhas câmeras 16 mm,
ele me empresta sua Sony digital."
Durante o Festival de Amsterdã,
Pennebaker conversou com a Folha sobre a Nova York pós-atentados, as dificuldades de produção de documentários nos Estados Unidos e seu novo projeto.
Folha - É inevitável começar perguntando: como está Nova York?
D.A. Pennebaker - Deprimida.
Há muito medo. Muita gente perdeu o emprego, mesmo em altas
esferas. Os restaurantes estão vazios. O dinheiro parece ter saído
da cidade. Nem mesmo a turma
de Nova Jersey, que costumava lotar tudo, tem aparecido. Há uma
sensação estranha, para além do
choque evidente. É como na Roma antiga. Há sede de sangue. Então tudo voltará ao normal.
Folha - Com seu currículo, foi
tranquila a produção de "Startup.com"?
Pennebaker - Produzimos o filme inteiro com nosso dinheiro.
Foi o mesmo que ocorreu com
"The War Room" (de 1993, sobre
a primeira campanha presidencial de Bill Clinton). Nos dois casos foi fundamental o apoio de
Nick Fraser, da BBC. Nenhuma
TV americana, pública ou privada, se interessou pelos projetos
antes de prontos. É terrível.
Folha - Qual seu novo projeto?
Pennebaker - Chris [Hegedus" e
eu estamos terminando um documentário sobre rhythm and blues.
Foi todo rodado com performances especiais, no último ano e
meio. Não tem qualquer material
de arquivo. Traz apresentações do
lendário Rufus Thomas, incluindo um dueto com sua filha Carla,
de Sam Levine e muitos outros. Só
o direito das músicas custou o
mesmo que toda a produção de
"The War Room", mais de US$
200 mil. Estamos correndo para
tentar ir a Sundance. O título é
"Only the Strong Survive". Uma
grande canção, não?
Folha - O senhor já foi ao Brasil?
Pennebaker - Estive num festival
no Rio em 1993, convidado por
Fabiano Canosa. Fiquei apenas
três dias, pois estava finalizando
"The War Room". Não paramos
um minuto. A carne é maravilhosa. E a música também.
O jornalista Amir Labaki viajou a convite da organização do festival
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