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LITERATURA
Poeta lança "Poesia Reunida" e critica neofilia
Alexei Bueno faz o balanço de 21 anos de poemas e polêmicas
DA REDAÇÃO
Autor de uma "Carta Aberta"
que provocou solavancos na poesia brasileira, em janeiro de 2002,
ao apontar uma suposta "ditadura estética" de concretistas e de seguidores de João Cabral de Melo
Neto, Alexei Bueno lança agora
sua "Poesia Reunida". Se a obra é
um painel de seus dez livros em 21
anos, também serve a um balanço
da polêmica após o manifesto.
"Não quero destruir nada. Tem
uma horda de idiotas que pode
continuar azurrando do meu lado
que eu vou continuar esculhambando", diz Bueno, 40, que considera cumprida a função da "Carta". "A descrição da farsa de maneira pública lava a alma de quem
pensa da mesma maneira."
Bueno é verborrágico, e sua
poesia reflete essa personalidade.
Em sua "Poesia Reunida", percebe-se sua dedicação às formas fixas e a poemas de longo fôlego,
sem economia de versos nem de
imagens. Apenas a partir do sexto
livro, "A Via Estreita", decide usar
o verso livre. "Em qualquer poesia
séria, a forma se autodefine. Não
poderia ter dito o que queria de
forma metrificada", aceita.
Imerge em temas metafísicos,
caros às vertentes simbolistas brasileiras, como Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Cecília Meireles, a portugueses como Fernando
Pessoa, "cuja poesia foi chamada
de "porcaria" por João Cabral",
lembra Bueno.
"João Cabral é um poeta fabuloso, mas seu pensamento estético
não me desperta nenhum interesse, é desqualificado", atira.
Os principais alvos do poeta
eram e são as vanguardas brasileiras dos anos 50, que teriam se tornado academias, "mas que ainda
posam de rebeldes e malditos", e
o estado atual da crítica brasileira,
"eminentemente universitária".
"A crítica decaiu quando deixou
de ser uma crítica de imprensa
para se tornar puramente universitária, com uma linguagem fechada. A função social se perde
completamente, dando espaço a
modismos, pinçando autores a
partir de teorias prévias, quando
na verdade a crítica deveria surgir
a partir da existência literária."
Nesse cenário advindo das
"vanguardas-que-viraram-academias", vê uma fixação pela originalidade, que chama de neofilia
e que explica como "a busca incessante do novo pelo novo". "Isso é coisa de interesse duvidoso
em arte, na medida em que a originalidade é uma imposição; se o
cara é bom, ele vai ser original de
alguma maneira", diz Bueno. "A
única forma de ser original e bom
é ser autêntico. Vem da necessidade implacável de expressão."
Essa neofilia é, para Bueno, o
braço estético de um capitalismo
tecnológico, "que cria a obsolescência crescente e produtos que
vão ser superados em seguida".
Sistema ao qual o poeta dedica
nojo particular em "Os Resistentes", que fecha "Poesia Reunida".
Ao encarar o volume, sente-se
tranquilo. "Deixei tudo num estado final. Não mexo mais de jeito
nenhum", diz. Após as revisões
exaustivas e entre as discussões,
Bueno diz esperar o julgamento
do tempo. "Ele resolve tudo."
(MÁRVIO DOS ANJOS)
POESIA REUNIDA. De: Alexei Bueno.
Editora: Nova Fronteira. Quanto: R$ 65,
(446 págs.).
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