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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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LITERATURA

Poeta lança "Poesia Reunida" e critica neofilia

Alexei Bueno faz o balanço de 21 anos de poemas e polêmicas

DA REDAÇÃO

Autor de uma "Carta Aberta" que provocou solavancos na poesia brasileira, em janeiro de 2002, ao apontar uma suposta "ditadura estética" de concretistas e de seguidores de João Cabral de Melo Neto, Alexei Bueno lança agora sua "Poesia Reunida". Se a obra é um painel de seus dez livros em 21 anos, também serve a um balanço da polêmica após o manifesto.
"Não quero destruir nada. Tem uma horda de idiotas que pode continuar azurrando do meu lado que eu vou continuar esculhambando", diz Bueno, 40, que considera cumprida a função da "Carta". "A descrição da farsa de maneira pública lava a alma de quem pensa da mesma maneira."
Bueno é verborrágico, e sua poesia reflete essa personalidade. Em sua "Poesia Reunida", percebe-se sua dedicação às formas fixas e a poemas de longo fôlego, sem economia de versos nem de imagens. Apenas a partir do sexto livro, "A Via Estreita", decide usar o verso livre. "Em qualquer poesia séria, a forma se autodefine. Não poderia ter dito o que queria de forma metrificada", aceita.
Imerge em temas metafísicos, caros às vertentes simbolistas brasileiras, como Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Cecília Meireles, a portugueses como Fernando Pessoa, "cuja poesia foi chamada de "porcaria" por João Cabral", lembra Bueno.
"João Cabral é um poeta fabuloso, mas seu pensamento estético não me desperta nenhum interesse, é desqualificado", atira.
Os principais alvos do poeta eram e são as vanguardas brasileiras dos anos 50, que teriam se tornado academias, "mas que ainda posam de rebeldes e malditos", e o estado atual da crítica brasileira, "eminentemente universitária".
"A crítica decaiu quando deixou de ser uma crítica de imprensa para se tornar puramente universitária, com uma linguagem fechada. A função social se perde completamente, dando espaço a modismos, pinçando autores a partir de teorias prévias, quando na verdade a crítica deveria surgir a partir da existência literária."
Nesse cenário advindo das "vanguardas-que-viraram-academias", vê uma fixação pela originalidade, que chama de neofilia e que explica como "a busca incessante do novo pelo novo". "Isso é coisa de interesse duvidoso em arte, na medida em que a originalidade é uma imposição; se o cara é bom, ele vai ser original de alguma maneira", diz Bueno. "A única forma de ser original e bom é ser autêntico. Vem da necessidade implacável de expressão."
Essa neofilia é, para Bueno, o braço estético de um capitalismo tecnológico, "que cria a obsolescência crescente e produtos que vão ser superados em seguida". Sistema ao qual o poeta dedica nojo particular em "Os Resistentes", que fecha "Poesia Reunida".
Ao encarar o volume, sente-se tranquilo. "Deixei tudo num estado final. Não mexo mais de jeito nenhum", diz. Após as revisões exaustivas e entre as discussões, Bueno diz esperar o julgamento do tempo. "Ele resolve tudo."
(MÁRVIO DOS ANJOS)


POESIA REUNIDA. De: Alexei Bueno. Editora: Nova Fronteira. Quanto: R$ 65, (446 págs.).


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