São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Trio grava Villa-Lobos autodidata

Grupo Aulustrio interpreta primeiros trios com piano do músico, época de seus anos de aprendizado

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil parece continuar preferindo falar de Villa-Lobos a ouvir sua música. Se o mercado editorial, especialmente no final de 2009, recebeu uma série de lançamentos sobre o compositor, nossas grandes orquestras e teatros deixaram a efeméride de seus 50 anos de falecimento passar praticamente batida, e a área fonográfica parece ter ignorado solenemente a data.
Nesse cenário, aparece como uma bem-vinda exceção a iniciativa do selo Clássicos de editar a gravação que o grupo Aulustrio, de São Paulo, fez dos dois primeiros trios com piano do maior músico brasileiro de todos os tempos.
Trata-se de obras de juventude, com idioma ainda algo distante do Villa-Lobos que "urdiu uma maneira brasileira de se expressar em música", para utilizar a feliz expressão do violonista Fabio Zanon. Não temos aqui ainda as longas cantilenas nacionalistas das "Bachianas Brasileiras", a agressividade fauvista e vanguardista dos "Choros", ou o neoclassicismo exuberante do período posterior à Segunda Guerra Mundial.
Datados da década de 1910, os trios refletem a influência francesa que perpassava o Brasil da República Velha. A alta sociedade sonhava com Paris e lia romances gauleses, e o principal compositor de música de câmara que tínhamos naquela época era Henrique Oswald (1852-1931), paulista criado na Itália cuja estética remetia ao mundo de Gabriel Fauré (1845-1924).

Semana de 22
O Villa-Lobos dos primeiros trios com piano conversa não apenas com a França mais "acadêmica" e "tradicional" de Oswald, Fauré, César Franck (1822-1890) e Vincent D'Indy (1851-1931) mas também com a modernidade de Maurice Ravel (1875-1937) e Claude Debussy (1862-1918). O "Trio para Piano nº 2" foi executado no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, no âmbito da Semana de Arte Moderna.
Nos dois primeiros trios com piano, um Villa-Lobos essencialmente autodidata digere e processa as influências francesas de forma absolutamente pessoal, já apresentando a exuberância temática e as texturas ricas que seriam a marca de suas obras tardias.
Formado pelos três irmãos Brucoli, ativos na vida musical de São Paulo, o Aulustrio os executa de maneira convicta, fazendo do disco um excelente cartão de visitas para os anos de aprendizado de nosso músico maior.


VILLA-LOBOS: PIANO TRIOS 1 E 2

Artista: Aulustrio
Gravadora: Clássicos
Quanto: R$ 22 (em média)
Avaliação: bom




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