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Trio grava Villa-Lobos autodidata
Grupo Aulustrio interpreta primeiros trios com piano do músico, época de seus anos de aprendizado
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Brasil parece continuar preferindo falar
de Villa-Lobos a ouvir
sua música. Se o mercado editorial, especialmente no final
de 2009, recebeu uma série de
lançamentos sobre o compositor, nossas grandes orquestras
e teatros deixaram a efeméride
de seus 50 anos de falecimento
passar praticamente batida, e a
área fonográfica parece ter ignorado solenemente a data.
Nesse cenário, aparece como
uma bem-vinda exceção a iniciativa do selo Clássicos de editar a gravação que o grupo Aulustrio, de São Paulo, fez dos
dois primeiros trios com piano
do maior músico brasileiro de
todos os tempos.
Trata-se de obras de juventude, com idioma ainda algo distante do Villa-Lobos que "urdiu
uma maneira brasileira de se
expressar em música", para utilizar a feliz expressão do violonista Fabio Zanon.
Não temos aqui ainda as longas cantilenas nacionalistas das
"Bachianas Brasileiras", a
agressividade fauvista e vanguardista dos "Choros", ou o
neoclassicismo exuberante do
período posterior à Segunda
Guerra Mundial.
Datados da década de 1910,
os trios refletem a influência
francesa que perpassava o Brasil da República Velha. A alta
sociedade sonhava com Paris e
lia romances gauleses, e o principal compositor de música de
câmara que tínhamos naquela
época era Henrique Oswald
(1852-1931), paulista criado na
Itália cuja estética remetia ao
mundo de Gabriel Fauré
(1845-1924).
Semana de 22
O Villa-Lobos dos primeiros
trios com piano conversa não
apenas com a França mais
"acadêmica" e "tradicional" de
Oswald, Fauré, César Franck
(1822-1890) e Vincent D'Indy
(1851-1931) mas também com a
modernidade de Maurice Ravel
(1875-1937) e Claude Debussy
(1862-1918). O "Trio para Piano
nº 2" foi executado no Teatro
Municipal de São Paulo, em
1922, no âmbito da Semana de
Arte Moderna.
Nos dois primeiros trios com
piano, um Villa-Lobos essencialmente autodidata digere e
processa as influências francesas de forma absolutamente
pessoal, já apresentando a exuberância temática e as texturas
ricas que seriam a marca de
suas obras tardias.
Formado pelos três irmãos
Brucoli, ativos na vida musical
de São Paulo, o Aulustrio os
executa de maneira convicta,
fazendo do disco um excelente
cartão de visitas para os anos de
aprendizado de nosso músico
maior.
VILLA-LOBOS: PIANO TRIOS 1 E
2
Artista: Aulustrio
Gravadora: Clássicos
Quanto: R$ 22 (em média)
Avaliação: bom
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