São Paulo, Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2000


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Sundance 2000 tenta recuperar fôlego criativo

Divulgação
Cena do mexicano "Santitos", que concorreu em 99



Maior festival do cinema independente dos EUA começa amanhã e vai até dia 30 com mais de 1.600 longas inscritos, número recorde


AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas


"What's Cooking?" (O Que Está Sendo Cozinhado?), de Gurinder Chadra, garante o tempero multiétnico à sessão de abertura, amanhã, do Sundance Film Festival 2000.
A meca do cinema independente norte-americano tenta provar que foi circunstancial a perda de fôlego criativo nas safras finais dos anos 90. Terá até o próximo dia 30 para fazê-lo.
Não que se possa falar de crise no festival. O Sundance conheceu a mais meteórica das ascensões no circuito internacional das mostras de filmes.
Desenvolveu-se a partir de um evento regional, o Utah/US Film Festival, surgido em 1978. A partir de 1985, o festival passava a ser coordenado pela turma reunida por Robert Redford em seu Sundance Institute, formado visando o apoio à jovem produção extra-hollywoodiana.
Quatro anos depois, o vencedor do prêmio do público, "Sexo, Mentiras e Videoteipe", consagrava o estreante Steven Soderbergh também com a Palma de Ouro de Cannes.
Da noite para o dia, o Sundance tornava-se compromisso anual obrigatório. Começava a corrida à Park City coberta de neve em janeiro -e os Estados Unidos ganhavam finalmente seu grande festival.

Poucas surpresas
Desde então, distribuidores, produtores e jornalistas acotovelam-se na cidade em troca da regalia de descobrir os novos Jarmuschs, Tarantinos e irmãos Coen.
Não tem sido fácil. O coeficiente de surpresas reduziu-se diante da rápida absorção pela indústria da franja independente. Praticamente todo grande estúdio americano adquiriu ou abriu sua própria produtora "alternativa" -a Miramax dos estúdios Disney é o caso clássico.
A produção cresceu, mas não necessariamente aprimorou-se. No ano passado, a safra dos longas de ficção esteve pouco acima do medíocre, abrindo espaço para a descoberta de uma vibrante produção de documentários. Neste ano, as coisas parecem melhorar.
Palavra de Rebecca Yeldham, programadora-sênior do festival e diretora associada dos programas internacionais do Sundance Institute.
"Com mais de 1.600 longas inscritos, incluindo um recorde de 850 longas independentes americanos, nós nunca antes havíamos examinado um universo de trabalhos tão amplo em quantidade, conteúdo e qualidade", disse Yeldham à Folha.
"Tentando organizar um programa que refletisse o ecletismo deste dinâmico universo da produção independente, reunimos alguns dos mais diferentes, provocativos e tocantes filmes da história de nosso festival."
Esses títulos dividem-se em seis programas principais: as mostras competitivas de longas de ficção e de documentários, os inéditos das "Premières", o ciclo paralelo "American Spectrum", a produção indigenista de "Native America" (América Nativa), destaques internacionais em "World Cinema" (Cinema Mundial) e títulos experimentais em "Frontier" (Fronteira).

Atrações
As maiores atrações deste ano concentram-se nas "Premières". Christian Bale ("Velvet Goldmine") protagoniza "American Psycho" na adaptação de Mary Harron ("I Shot Andy Warhol") para o best seller pós-yuppie de Breat Easton Ellis. O eterno iniciante absoluto Julien Temple reconta a saga dos Sex Pistols em "The Filth and the Fury".
Stanley Tucci ("A Grande Noitada") leva às telas um clássico nova-iorquino, "Joe Gould's Secret" de Joseph Mitchell, sobre as peripécias no submundo de Manhattan de um genial vagabundo escritor, ou vice-versa.
Já os irmãos Emilio Estevez ("Tocaia") e Charlie Sheen ("Wall Street") unem forças em "Rated X" para contar a história tipicamente americana da ascensão de outro par de irmãos tornados célebres pelo cinema: Artie e Jim Mitchell, reis do cine pornô dos anos 60 e 70, com títulos como "Atrás da Porta Verde".
Por fim, o grande candidato a cult em "American Spectrum" é "Beat". Gary Walkow reconstitui a trágica morte em 1951 de Joan Burroughs, a mulher do autor de "Almoço Nu".
Kiefer Sutherland faz William Burroughs, cabendo a Courtney Love o papel de Joan. Coragem à moça não falta.


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