São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2001

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Carisma é o de menos no Rock in Rio adolescente

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Só após as 22h de ontem, com a entrada do grupo Five no palco, o dia teen do Rock in Rio recebeu uma injeção de carisma.
Embora sigam os parâmetros da atual onda adolescente, os rapazes nem são tão teens assim e sabem usar rock'n'roll ("Everybody Get Up") e pop-funk à Michael Jackson ("Slam Dunk the Funk") a seu favor. Escorregam no dietético nas baladas meladas e nas coreografias pagodeiras.
Antes, o tempo esteve nublado, apesar do sol e das quatro estações trazidas por Sandy e Júnior, que atualizam, precoces saudosistas e ainda mais abregalhados, os velhos e bons Carpenters.
Os anos 70 resplandeceram no show, em "Fascinação" (ex-sucesso com Elis Regina), "Enrosca" (idem com Guilherme Lamounier, alguém lembra?), o hit gringo "All by Myself" (Eric Carmen).
No palco entre 20h25 e 21h25, os pequenos irmãos fincaram o triunfo da técnica, da pirotécnica e da substância nenhuma -a cara do pop-teen atual, mas também em alguma coisa parecidos a Axl Rose de volta da tumba.
Tentando dialogar com as insistentes críticas ao "Pop in Rio", Sandy e Júnior tentaram puxar um coro que modificava o tema do festival, transformando-o em "ô ô ô ô, Pop in Rio". Não pegou, e nem era verdade -ali, cantando "Olha o Que o Amor Me Faz", era o desenlace do Sertanejo in Rio.
O mundo em que Sandy reina como princesinha -foi um sucesso o show, de fato- é povoado de bailarinos e acrobatas fazendo ameba, horrendos cenários suntuosos, figurinos cafonas.
Dizem que Sandy é boa cantora ("As Quatro Estações" serve de álibi), como se o mundo já estivesse tão repleto de boas cantoras medíocres (uma delas, Celine Dion, é o modelo da garota)...
Bem, o que ela tem já é dela, mas falta o resto: música. Só ao se livrar de tamanha e tão vazia parafernália a menina poderá abandonar o mundo das caricaturas. Ainda é cedo, para ela e para o mano.
Mais cedo ainda é para Aaron Carter, 13, garotinho dum tempo em que todos os fãs do Jackson Five ficaram loirinhos, como por encanto. Entre funks aguados e raps de massinha, seu show foi um fiapo, uma brincadeira de moenda do festival.
Moraes Moreira, a primeira atração do dia do palco principal, não pisou no palco principal do festival. Seu trio elétrico percorreu em cerca de 50 minutos, a partir das 18h, a pista de asfalto que contorna o gramado, tentando promover um "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu".
A máxima não valeu -o trio elétrico é que tinha de seguir os cidadãos. Esperto, Moraes se livrava de equívocos como o da escalação de Carlinhos Brown, deixando o palco central a quem lhe era ontem de direito, as crianças.
Em tal cenário, o pop na Tenda Brasil até parecia música de gente grande. O funkeiro Vinny quis exibir uma nova face, cantando em tempo de rock forte "Fuck the Fashion", bradando "Ronaldinho, se eu fosse como tu botava a mão no bolso e chutava o pé na bola" e dedicando seu show a "uma das melhores pessoas que a gente conhece, Carlinhos Brown". Rock às avessas.
Trocando em miúdos: um pouco de tudo, mas nada tanto assim. O Rock in Rio pelo mundo de amanhã segue cheio de saudades.


Five:   ; Sandy e Júnior: ; Aaron Carter: ; Moraes Moreira:  ; Vinny:   



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