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LIVROS/LANÇAMENTOS
"ISADORA: A SENSATIONAL LIFE"
Vida de dançarina é vista à distância
JENNIFER DUNNING
DO "NEW YORK TIMES"
Será que o mundo precisa de
outra biografia de Isadora
Duncan? Mais histórias de promiscuidade alcoólica, dança desgrenhada e catástrofes melodramáticas? O título pouco promissor da nova biografia de Peter
Kurth alimenta essa fadiga com
respeito a Duncan. E isso é uma
pena. Kurth pesquisou exaustivamente e obteve acesso a arquivos
pouco conhecidos. Mas absorveu
o material como um dançarino
alojando uma coreografia em sua
memória muscular e destilou os
detalhes em uma evocação pungente e altamente legível da tumultuada vida de Duncan.
Kurth não é especialista em
dança. Seus livros anteriores incluem biografias do czar Nicolau
e sua mulher Alexandra e da jornalista norte-americana Dorothy
Thompson. Uma das poucas coisas que falta no bem produzido
"Isadora: A Sensational Life" é
um senso forte do arco e do impacto da carreira de uma artista
considerada como a primeira
dançarina moderna dos EUA.
Mesmo leitores sofisticados em
termos de balé provavelmente encontrarão suas revelações sobre a
arte de Duncan nas minúcias de
sua vida e carreira, registradas por
Kurth a uma distância discreta, às
vezes irônica, de um assunto que
ele claramente admira.
Kurth é um guia cheio de tato
sobre os eventos maiores na momentosa vida da bailarina. Descreve as profundas alterações em
sua carreira, repleta de exaltações
e de quedas humilhantes.
E Kurth não simpatiza muito
com a maioria dos amantes de
Duncan, que no geral eram homens complicados. Ele é especialmente severo quanto a Gordon
Craig, o cenógrafo que foi um dos
primeiros grandes amores da
dançarina. Mas, como bom biógrafo, Kurth é, ao mesmo tempo,
capaz de sugerir o quanto Duncan
deve ter sido difícil como amante.
Os empreendimentos de Duncan no campo da educação para a
dança também são tratados com
cuidado. Kurth relata com graça
os fatos das turnês intermináveis
dela, no começo da carreira, para
angariar o dinheiro necessário a
manter suas escolas gratuitas em
funcionamento e para sustentar
Craig e a família de Duncan, perpetuamente empobrecida. Excertos bem selecionados de resenhas
sugerem a ascensão e queda de
sua reputação artística, muitas vezes mais ligada a boatos sobre seu
comportamento do que ao desempenho dela em cena.
Ele não se prende aos detalhes
dos desastres na vida de Duncan.
A descrição que faz da morte da
dançarina é rápida e brutal como
deve ter sido a fratura das vértebras dela quando o lenço que usava ao pescoço se prendeu à roda
do carro em que viajava.
A infância relativamente singela
de Duncan é a parte mais fascinante da biografia. Ainda intocada pela imensa escala dos eventos
posteriores de sua vida, Kurth reflete sobre como aquela menina
se tornou Isadora Duncan. A mãe
desequilibrada, abandonada pelo
marido, pai de Duncan e seus três
irmãos, a preparou cedo para a vida de independência sexual.
A personalidade desse pai tão
almejado por ela ressurge, ainda
que sutilmente, em todos os
amantes de Duncan, homens tão
incapazes quanto ele de fidelidade
e de vidas práticas. Kurth oferece
o contexto para o trabalho e a
obra de Duncan, incluindo análises sucintas do efeito que as teorias científicas e sociais de sua
época tiveram sobre a bailarina.
"Ela não era feminista em nenhum sentido organizado ou político", escreve ele. Do mesmo
modo que rejeitava o casamento
como opressivo e desnecessário,
"negava que uma dançarina precisava de homens que a dirigissem, treinassem, guiassem".
Em todo o livro, enfim, Kurth
sugere um imenso valor intrínseco para uma vida e uma carreira
profundamente problemáticas.
Tradução Paulo Migliacci
ISADORA: A SENSATIONAL LIFE. De Peter Kurth. Editora: Little, Brown &
Company. 652 págs., US$ 29,95. Onde encontrar: www.amazon.com.
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