KIL ABREU
CRÍTICO DA FOLHA

O Circo Grafitti coloca-se a tarefa de retomar o espírito dos cabarés que nasceram e multiplicaram-se na Europa entre o final do século 19 e a Segunda Guerra, recuperando dali o casamento entre teatro, música popular e poesia, alinhavados com alguma intenção de observar as agruras da vida em sociedade. "O Gato Preto" é um ato de variedades: uma coleção de cenas curtas, musicadas e de bom efeito cômico. A cenografia e as marcações são simples, as passagens são ágeis e os números intercalam gags novas com boas piadas.
Desfilam no palco uns tantos tipos estranhos, que falam direto ao público e dividem-se em intervenções que vão da tradicional cena de platéia, passando pela paródia e chegando ao inevitável tom grave e melodramático de textos "sérios". É quando o espetáculo revela que a despeito da permitida mistura de gêneros, a crítica social funciona melhor na chave que felizmente predomina: a satírica .
Entre os atores, o melhor fica por conta do convidado, Moises Ignácio. Sem se comprometer com o elã francês que ensaia reger o espetáculo, ele se movimenta com personalidade sobre as variações propostas. Rosi Campos, Gerson de Abreu e Helen Helene desempenham com a desenvoltura conhecida, mas sem a surpresa sempre esperada da invenção.
Na direção musical, Pedro Paulo Bogossian amarra os quadros no espírito do improviso. A música alinha-se ao jogo dos atores, ao teatralismo declarado, e marca a descontinuidade do espetáculo, inventando um fôlego novo a cada cena.

O Gato Preto
   
Com: Rosi Campos, Gerson de Abreu, Helen Helene, Moises Ignacio, Cléo Antunes
Direção geral: Circo Grafitti
Onde: Tusp (r. Maria Antônia, 294, SP, tel. 0/xx/11/3259-8342)
Quando: sex e sáb., às 21h; e dom., às 19h
Quanto: R$ 20