São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

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Ronaldo Fraga se inspira em Drummond

JACKSON ARAUJO
EDITOR-ASSISTENTE DA REVISTA MODA

Depois de encantar o público da São Paulo Fashion Week em julho passado, com sua coleção tropicalista de verão inspirada no cantor baiano Tom Zé, o estilista mineiro Ronaldo Fraga mostra hoje seu inverno 2005 motivado pela obra do poeta e escritor também mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
"O ponto de partida é o famoso poema "Todo Mundo e Ninguém", em que o personagem Todo Mundo dialoga com o Ninguém, mediados por Belzebu", explica o estilista.
O desfile acontece hoje na sala 3, a partir das 15h30. Leia a seguir conversa com o estilista.
 

Folha - Qual a diferença entre olhar para Tom Zé e agora para a obra de Carlos Drummond de Andrade?
Ronaldo Fraga -
No verão falei de otimismo com Tom Zé, agora falo de preciosismo com Drummond. A idéia é tratar de coisas cujo valor não tem preço. É o fim do luxo explícito.

Folha - De que maneira a obra de Drummond influenciou o seu trabalho?
Fraga -
Busco o valor das sensações, que é o que sinto na obra dele. Ele se fez sentir pela simplicidade, usando palavras do vocabulário do homem comum. A inspiração para a coleção não vem da figura de Drummond ou de suas roupas: ele usou bege e cinza a vida inteira; só quando estava perto de morrer foi usar jeans e tênis. O jeans, aliás, entra pouquíssimo no desfile, apesar de eu estar licenciando uma linha de índigo pelo grupo da marca capixaba Lei Básica, para quem eu também desenho.

Folha - Como é a coleção?
Fraga -
É uma tentativa de diálogo com o tempo em que estamos vivendo. Meu maior desafio foi não fazer uma coleção retrô. Como Drummond, quero falar de todo o tempo e não falar de tempo nenhum. No desfile, uma blusa romântica tipo anos 50 aparece com uma calça desestruturada dos anos 80, por exemplo. Vou mostrar 32 looks, entre masculino e feminino, sem preocupação com unidade de grupo. Cada look é um look. A marca da coleção são imagens de árvores, frondosas, sem folhas e secas. Eu procurei usar tecidos que pareçam estar em extinção.

Folha - Você usa textos do escritor como estampas?
Fraga -
Apesar de a família dele ter liberado toda a obra para a minha coleção, não há estampas de texto. Quero usar a clássica tipologia de Drummond no labirinto de páginas escritas que compõe a cenografia.


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