São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Gardiner desvenda a música coral

Coletânea do maestro inglês traz interpretação primorosa de obras de Brahms e Beethoven

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Ao lado da "Sinfonia n.4" de Brahms (1833-1897), que dá nome ao CD, uma combinação de compositores e obras aparentemente insólita: além da abertura com "Coriolano", de Beethoven (1770-1827), obras corais de J.S. Bach (1685-1750), Heinrich Schütz (1585-1672), Giovanni Gabrieli (c.1554/7-1612) e do próprio Brahms.
Poderia parecer um retorno aos programas dos LPs dos anos 50-60, quando predominavam coletâneas cuja intenção era emular a variedade de um concerto ao vivo, ao contrário dos álbuns monográficos -tão comuns nas últimas décadas- que pretendem ser um simulacro da partitura, a busca por uma realização autêntica.
O idealizador do projeto é, entretanto, o regente inglês John Eliot Gardiner, um dos mais respeitáveis nomes das escolas de interpretação.
Ele atua ao lado de dois organismos fundados por ele mesmo em momentos diferentes de sua carreira: The Monteverdi Choir (que existe desde 1964) e a Orchestre Révolutionnaire et Romantique (fundada em 1989).
Gardiner chega a obras e autores não por se situar aquém, mas por transcender a homogeneidade temática do academicismo escolar.
E a sinfonia de Brahms que podemos ouvir ao final -com trompas naturais e dimensões orquestrais compatíveis com a época- emerge de um contexto cuidadosamente traçado em som e pensamento.
Mais radical do que justapor Brahms com o seu antecessor Beethoven é alinhavar os conflitos que separam o mundo sinfônico dos ditames da música coral.
O elo está no movimento final da "Cantata BWV 150" de Bach, cuja linha de baixo serviu para Brahms elaborar o final da "Sinfonia": ouvir as duas obras lado a lado é uma experiência preciosa.

MELHOR CORO
As peças do barroco Schütz e do renascentista Gabrieli, por seu turno, foram estudadas e regidas por Brahms, além de servirem de referência para a sua própria produção coral, aqui representada por "Geistliches Lied", op. 30, e por "Fest-und Gedenksprüche", op.109.
Não bastassem tantas justificativas, o CD se sustenta igualmente pela pura presença do Monteverdi Choir -que acaba de ser eleito o melhor coro do mundo pela revista inglesa Gramophone- e pela interpretação para a "Quarta Sinfonia".
Ao aliar a ênfase no contraponto com inesperadas mudanças de andamento e uma sonoridade quente, a versão do maestro inglês parece seguir as pistas do verso de Jorge Luis Borges (1899-1986) -citado "en passant" no encarte- que atribui à música de Brahms uma alegria composta de "fogo" e "cristal".

"BRAHMS SYMPHONY N.4"

ARTISTA John Eliot Gardiner
LANÇAMENTO Soli Deo Gloria
QUANTO R$ 68,00 em média
AVALIAÇÃO ótimo


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