São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

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Chris Isaak vira rebelde em "Speak of the Devil"

da Reportagem Local

Está mudado o romântico incurável Chris Isaak. Dono do clássico derramado "Wicked Game" (89), o cantor e compositor faz de "Speak of the Devil", seu CD mais recente, o mais furioso de sua carreira.
Bem, é claro que "furioso" não é, nunca, o termo mais adequado para definir Chris Isaak. Apenas acontece que ele decidiu sujar os timbres (quase) sempre delicados de suas criações com uma dose pesada de rock "guitarrístico" em "Speak of the Devil".
Chega a ser um desvio de direção. Ao longo de seis álbuns -"Silvertone" (85), "Chris Isaak" (87), "Heart Shaped World" (89), "San Francisco Days" (91), "Forever Blue" (94) e "Baja Sessions" (96)- ele preservara intactas doçura e delicadeza, com resultados admiráveis nos dois últimos.
Em "Speak of the Devil", parece querer se demonstrar "bad boy". Não funciona. A doçura de voz (e talvez a qualidade de intérprete seja a mais forte do artista) continua compacta, mas soterrada sob uma montanha de rock'n'roll.
"Please", que abre o disco, começa enganando. Chris vem mansinho, sedutor -parece que o velho romântico está de volta. Mas logo o mundo cai, e dá vontade -quem diria- de tapar os ouvidos ao escutar mr. Veludo.
Acontece igualzinho na segunda faixa, "Flying", em que a aspereza aborta o vôo que aqueles falsetes sempre ameaçam provocar. E vai predominar na primeira metade das 14 -14!- faixas.
Na segunda metade, a tempestade amansa, em "Don't Get So Down on Yourself", "Lonely Nights", não muito inspiradas, de qualquer forma, ou "Black Flowers", uma flor no meio do matagal. OK, ele deve estar se sentindo impelido a provar alguma coisa, fazer o quê? O dileto discípulo de Roy Orbison -e outros roqueiros polpudos dos 50/60- deu de virar rebelde já marmanjo. Depois passa. (PAS)
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Disco: Speak of the Devil Artista: Chris Isaak Lançamento: WEA Quanto: R$ 18, em média


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