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Depois do sucesso de "Laços de Família", Manoel Carlos, 67, caça histórias em recortes de jornal
O sr. Audiência
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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O autor de novelas Manoel Carlos e seu gato Romeu, em seu apartamento, no bairro do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro |
Nome mais festejado da teledramaturgia brasileira, autor prepara a minissérie "A Presença de Anita" para 2002 e, em entrevista à Folha, aconselha a Globo a adotar esquema hollywoodiano de produção
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LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
As férias de Manoel Carlos, autor de "Laços de Família", prometem não durar muito. Depois de
dar à Globo recordes de audiência
com a novela e ter atingido 60
pontos no Ibope com o último capítulo, há duas semanas, o autor
finca o pé no primeiro time da
emissora.
Enquanto descansa, já prepara
seu próximo projeto: a minissérie
"A Presença de Anita", que deve ir
ao ar no próximo ano. E faz planos ambiciosos para a Globo,
aconselhando a emissora a adotar
um esquema hollywoodiano de
produção de novelas e séries.
Aos 67 anos, Manoel Carlos tem
bem definido seu papel: "Não sou
pago pela Globo para escrever novela. Sou pago para escrever novela que dê ibope".
Assim, aposta sempre na mesma fórmula para suas tramas
("Falar do cotidiano, de história
banais até. É o que sei e gosto de
fazer") e se orgulha de nunca ter
decepcionado ("Todas as minhas
novelas tiveram boa audiência").
Em seu apartamento no Leblon,
no Rio, esse paulistano do Pari
junta recortes de jornais e revistas
e joga em uma caixa que chama
de lixo, de onde já tirou muita novela de sucesso. Nesse cenário,
que parece parte de suas tramas,
ele recebeu a Folha para a seguinte entrevista:
Folha - "Laços de Família" foi o
maior ibope em novela nos últimos
cinco anos e ajudou a audiência
média da Globo em 2000 a crescer
6%. Para o sr., o que significou?
Manoel Carlos - "Laços de Família" foi uma vitória muito grande
não só nossa, mas significativa
para todos os autores e diretores
da Globo. Isso porque foi talvez a
primeira novela em que Marluce
Dias da Silva (diretora-geral da
Globo) pediu uma sinopse, eu entreguei, ela leu e falou: "Sinal verde. Faça com quem quiser, como
quiser". Não houve nenhuma interferência. Tanto que foi a primeira novela em que nós participamos da escolha das músicas. A
trilha antes era feudo da Som Livre (braço musical da Globo).
Folha - Que tipo de interferência
prejudica a criação? Ter de esticar a
história, por exemplo?
Manoel Carlos - Isso atrapalha.
Evidentemente, nunca me neguei
a esticar a novela diante de um
problema da Globo. As reuniões
de grupo que a Globo faz para saber o que os telespectadores pensam costumam interferir também. Só acompanhei isso uma vez
e não gosto do método. Não acredito nas mulheres que vão sabendo que vão interferir na Globo,
dar palpite na novela dos outros.
Elas saem de casa e dizem para o
marido: "Hoje eu vou mexer na
novela da Globo".
Folha - Como é trabalhar na pressão de ter que manter a audiência
da novela anterior?
Manoel Carlos - Nunca senti essa
pressão porque minhas novelas
sempre corresponderam ao que a
Globo esperava. Mas tenho uma
opinião sobre isso: eu não me sinto pago para escrever uma novela,
eu me sinto pago para escrever
uma novela de sucesso. A novela
das oito não pode dar errado, é
um produto vital para a empresa.
Em "Por Amor", eu era obrigado a fazer, às vezes, capítulos de
uma hora e meia para neutralizar
o Ratinho. O dia mais forte do Ratinho era quinta-feira. Uma vez,
tive de jogar um episódio importante da quarta para a quinta.
Folha - É possível experimentar
ou é necessário trabalhar com uma
fórmula certa para o Ibope?
Manoel Carlos - Minha fórmula
talvez seja uma que dê certo sempre, é natural, e usei em todas as
novelas que escrevi. É uma história realista, do cotidiano. São novelas em que até o nome da protagonista é o mesmo, e as relações
são absolutamente iguais, normais, cotidianas, banais até.
Folha - Já existe uma história para sua próxima novela?
Manoel Carlos - Ainda não tenho
nada definido, mas tenho muita
coisa guardada. Sou um rato de
jornais. A Capitu de "Laços de Família" tirei de uma reportagem da
Revista da Folha.
Gosto de fazer novelas sobre
coisas que realmente conheço, como o Rio, mas gostaria muito de
fazer uma novela passada em São
Paulo, porque sou de lá e amo minha cidade. Em novelas passadas
em São Paulo, sempre mostram o
Minhocão, quatro cenas da avenida Paulista e o resto é no estúdio
da Globo, no Projac. E a minha
novela não vive disso, vive das
ruas. Eu queria fazer uma novela
que tivesse o Brás, o Bixiga, o Pari,
onde eu nasci.
Folha - Como o sr. analisa o problema da novela com a Justiça?
Manoel Carlos - Na verdade, o
problema foi menor do que parecia. Para mim, o pior foi tirar as
crianças das cenas já escritas. Isso
deu um trabalho de 15 dias. Foi
necessário regravar algumas cenas. E isso impulsionou a novela.
Teve gente que não via antes e
passou a ver. Essas coisas sempre
beneficiam.
Acho que no caso das crianças
tivemos uma cena que foi um excesso e um pecado de todos nós.
Foi a cena em que Clara (Regiane
Alves) era atropelada com a filhinha no colo. Fiquei apavorado de
ver que ela teve de repetir a cena,
cheia de tensão, dez vezes. A menina chorava e a cena se repetia.
Ela não conseguiu mais trabalhar
na novela e teve de ser substituída.
Com relação às cenas de sexo,
acho que estavam dentro de um
realismo possível.
Folha - Por que Edu (Reynaldo
Gianecchini) foi perdendo espaço
na trama e participou pouco do último capítulo, nem ficando ao lado
da mulher durante o transplante?
Manoel Carlos - Não, ele não sumiu. Mas o galã, quando se casa,
diminui o papel. Não tem mais assunto. Se o casamento for feliz,
pior ainda. Costumo dizer que felicidade não dá ibope. No transplante, não era pertinente que ele
entrasse. Em primeiro lugar, ele
não era um bom médico. Fez medicina para agradar a tia. E, na hora difícil, as pessoas querem a mãe
e não o marido ou a mulher.
Folha - Como é escrever tendo de
encaixar publicidade na história?
Manoel Carlos - Nada é definido
sem a autorização do autor. Há
pessoas dizendo que fazem merchandising em minhas novelas,
mas é mentira. O merchandising
social sou eu que coloco, porque
acho importante. Tudo que foi dito sobre livros não era comercial.
Eu queria promover aquelas
obras. O merchandising comercial é acertado entre o autor, um
departamento especializado da
Globo e a empresa interessada.
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