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ROCK
Vocalista comenta as tensões na banda e como as canções do U2 são concebidas, em processo que se aproxima do jazz
Para Bono, The Edge é gigante da guitarra
DA "ROLLING STONE"
Leia continuação da entrevista
de Bono, que fala sobre sua viagem à África e da relação com os
integrantes da banda:
Pergunta - Depois da viagem à
África a banda atingiu um pico.
Bono - Nos anos 90, eu estava me
divertindo muito. Nunca me senti
muito bem na posição de astro do
rock. Sempre pensei que o posto
foi dado ao sujeito errado, que era
melhor que fosse entregue ao cantor magricela e pretensioso, e não
ao cara com jeito de pedreiro ou
boxeador. Eu não era bom naquilo, mas acabei me tornando.
Começou com "Pop", cuja idéia
era ser um disco em que celebraríamos a superfície das coisas. Tínhamos uma vida ótima. Ouvíamos dance music, passávamos a
noite acordados. Éramos jovens,
tínhamos amigos por perto. Foi
um período maravilhoso, e tentamos capturá-lo em canções como
"Discotheque" e "If You Wear
That Velvet Dress". Aquelas canções bonitas, sensuais. Mas em lugar de criarmos um som de festa,
nós acabamos com uma espécie
de som de ressaca pós-festa. Eu
queria descrever meu hedonismo
em termos religiosos -como o
conceito de Carnaval. Mas o Carnaval talvez tenha durado demais.
Pergunta - Assim, você começou
a ascensão ou queda ao estrelato
do rock com "The Joshua Tree"?
Bono - Um pouco, mas não realmente. Nós éramos muito sérios.
O que explica aquelas fotos que se
tornaram ícones, nossos rostos
impassíveis que Anton Corbijn só
fotografava depois que parávamos de rir. Lembro que meu
agente, Paul McGuinness, me disse: "Você corre o risco de parecer
aqueles caras idiotas demais para
apreciarem o fato de que estão no
topo das paradas". Nós sempre rimos muito, mas nossa persona
pública era um tanto consciente,
forçada, e precisávamos descarregar a bagagem moral -foi o que
fizemos em "Zoo TV". A dualidade, que sempre esteve presente
em nós, se destacou mais nos
anos 90. E a seguir pode ser que
nossos sentidos tenham ficado
um pouco sobrecarregados. E eu
precisava voltar ao ponto de onde
comecei.
Pergunta - Vocês encontraram os
problemas habituais do rock quanto a dinheiro, drogas e sucesso.
Bono - Bem, não pretendo explicá-los em detalhe, mas posso dizer que provei a pizza.
Pergunta - Como vocês lidam com
as tensões na banda?
Bono - Nós evoluímos na maneira pela qual enfrentamos a insatisfação. Talvez o segredo seja que
nós damos preferência às idéias e
não às pessoas que as tiveram. É
justo, essa idéia é boa ou não?
Pergunta - Como é que você se
submete à vontade de um grupo?
Bono - Se isso beneficia a música
que fazemos, eu não tenho objeções. Se isso beneficia as personalidades das pessoas que fazem a
música, tenho. Tenho perfeita
consciência do quanto preciso deles. A idéia de estar numa sala cercado por pessoas que concordam
comigo é aterrorizante porque
não estou certo de que meu julgamento seja consistente o bastante.
Pergunta - Qual foi a última grande disputa na banda?
Bono - No começo deste álbum
["How to Dismantle an Atomic
Bomb"], havia uma certa irritação
entre a gente. Alguém estava tocando canções às quais muito
tempo e energia haviam sido dedicados, e as outras pessoas não
estavam muito impressionadas. E
eu considerei que a resposta delas
foi rude. Mas, na verdade, é possível que estivessem certas. Componho muito rápido e improviso
letras e melodias. Se elas não funcionam e alguém diz "isso me entedia", é fácil perder a calma.
Larry Mullen é parte da banda. Ele
está sempre entediado. Você pode
cantar com a maior emoção, e ele
boceja. Mas seus instintos estão
certos 80% do tempo. Se você ficou nos outros 20%, machuca.
Adam cai dormindo.
Pergunta - E aí o que acontece,
você sai gritando?
Bono - Eu estou sempre a ponto
disso, de qualquer maneira. A fim
de cantar, você está sempre a ponto de pular de um edifício alto.
Pergunta - Sobre The Edge, qual é
a importância dele para o U2? Acha
que ele recebe o crédito merecido?
Bono - Eu sou definitivamente
superestimado no esquema das
coisas do U2. É simplesmente
uma das coisas que vêm com o
território. No entanto, me irrita
que esse gênio da guitarra -e gênios raramente são modestos-
não se exiba mais. A maior parte
do trabalho de guitarra da era do
rock é composta por velhos riffs
negros retrabalhados por músicos brancos. Há versões maravilhosas deles; mas esse cara, esse
homem que eu gosto de definir
como zen presbiteriano, realmente redefiniu o território emocional
que uma guitarra pode criar.
Há sentimentos que The Edge
consegue evocar quando toca guitarra que não existiam no passado. Já vi gente colocar outros guitarristas acima dele em listas porque eles tocam mais rápido. Isso
equivale a dizer que a pintura de
Jackson Pollock era suja. The Edge é um gigante entre os guitarristas. Um dos grandes.
Pergunta - Como é que vocês concebem uma canção? É possível descrever o processo?
Bono - Às vezes trabalhamos
com composição tradicional, eu e
The Edge criamos seqüências de
acordes e um esboço de melodia,
ou refrão, ou título. Mas a outra
maneira de compor é por improviso, e é aí que Larry e Adam contribuem. "Miracle Drug", do novo
álbum, começou pela parte de
baixo de Adam, e aí eu comecei a
cantar; The Edge, a improvisar.
Larry tem forte senso melódico.
Ele sempre pressiona por clareza.
Para uma banda punk, é uma
abordagem que tem muito de
jazz. Mesmo que o resultado não
seja um desses acordes chatos de
fusion, ou nada parecido com
rock cabeça. "Stuck In a Moment
You Can't Get Out Of" é um improviso melódico de The Edge
com acordes de piano.
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