São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

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Daniel Castro dcastro@folhasp.com.br




Globo repete clichês e reaproveita fórmulas no Carnaval 2007

A reprise de um "Globo Repórter" justamente sobre reciclagem, algo inédito, pelo menos na história recente da emissora, já era um sinal do que viria pela frente. Mesmo com ajustes, a transmissão do Carnaval da Globo neste ano foi igualzinha a de anos anteriores.
Em São Paulo, o padrão Globo de transmissão de Carnaval de novo teve a comentarista Leci Brandão chamando sambistas pelo apelido ou no diminutivo. Maurício Kubrusly, também num esforço de demonstração de intimidade com o samba, voltou a se referir aos carnavalescos apenas pelo primeiro nome ou relatando encontros em que o artista lhe falou sobre o enredo.
Também nunca faltam na Globo explicações (sempre mirabolantes, épicas, mitológicas) sobre o que o carnavalesco quis dizer com determinado carro alegórico ou qual fato histórico a ala que está passando na tela quis retratar. Renata Ceribelli faz isso com a determinação de quem realmente acredita no que está falando, por mais nonsense ou abstrato que pareça.
O padrão Globo de transmissão de Carnaval abusa das informações inúteis. Logo na primeira noite, já foram registradas frases como "A banana é uma riqueza natural" (Chico Pinheiro) e "A China foi o primeiro país a exportar aço".
Mas o que mais caracteriza o padrão Globo de transmissão de Carnaval é a overdose de efeitos visuais e, no caso do Rio, também de luzes. Neste ano, a emissora anunciou, orgulhosa, que uma equipe de dez pessoas trabalhou desde setembro na criação em computação gráfica de 27 novos personagens animados e tridimensionais, cada um caracterizando uma escola diferente (13 no Rio e 14 em SP). Mais do mesmo. No ano passado já foi assim.
Em São Paulo (25 câmeras nas mesmas posições de sempre), a Globo usou enquadramentos mais fechados, mesmo nas tomadas gerais, e não encheu tanto a tela com confetes e serpentinas como no ano passado. Mas mesmo assim, continua exagerando, poluindo.
O padrão Globo de transmissão de Carnaval neste ano foi seguido à risca até quando, no último desfile do primeiro dia de São Paulo, teve que mostrar um enredo que contava a história de João Saad, fundador do Grupo Bandeirantes -que até o ano passado fazia oposição institucional à Globo, mas não faz mais, agora que são parceiros no futebol.
O desfile da Nenê de Vila Matilde foi mostrado pela Globo com o mesmo padrão de sempre. A emissora nem recorreu ao truque de não mostrar artistas da concorrente - alguns, como Leão Lobo, tiveram uma exposição recorde. Leci Brandão até achou que era o caso de louvar no ar essa atitude "digna" da Globo. Acorda, Leci, a principal razão da transmissão do Carnaval de São Paulo é o dinheiro do anunciante.


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