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Daniel Castro dcastro@folhasp.com.br
Globo repete clichês e reaproveita fórmulas no Carnaval 2007
A reprise de um "Globo Repórter" justamente sobre reciclagem, algo inédito, pelo menos na história recente da
emissora, já era um sinal do que
viria pela frente. Mesmo com
ajustes, a transmissão do Carnaval da Globo neste ano foi
igualzinha a de anos anteriores.
Em São Paulo, o padrão Globo de transmissão de Carnaval
de novo teve a comentarista
Leci Brandão chamando sambistas pelo apelido ou no diminutivo. Maurício Kubrusly,
também num esforço de demonstração de intimidade com
o samba, voltou a se referir aos
carnavalescos apenas pelo primeiro nome ou relatando encontros em que o artista lhe falou sobre o enredo.
Também nunca faltam na
Globo explicações (sempre mirabolantes, épicas, mitológicas)
sobre o que o carnavalesco quis
dizer com determinado carro
alegórico ou qual fato histórico
a ala que está passando na tela
quis retratar. Renata Ceribelli
faz isso com a determinação de
quem realmente acredita no
que está falando, por mais nonsense ou abstrato que pareça.
O padrão Globo de transmissão de Carnaval abusa das informações inúteis. Logo na primeira noite, já foram registradas frases como "A banana é
uma riqueza natural" (Chico
Pinheiro) e "A China foi o primeiro país a exportar aço".
Mas o que mais caracteriza o
padrão Globo de transmissão
de Carnaval é a overdose de
efeitos visuais e, no caso do Rio,
também de luzes. Neste ano, a
emissora anunciou, orgulhosa,
que uma equipe de dez pessoas
trabalhou desde setembro na
criação em computação gráfica
de 27 novos personagens animados e tridimensionais, cada
um caracterizando uma escola
diferente (13 no Rio e 14 em
SP). Mais do mesmo. No ano
passado já foi assim.
Em São Paulo (25 câmeras
nas mesmas posições de sempre), a Globo usou enquadramentos mais fechados, mesmo
nas tomadas gerais, e não encheu tanto a tela com confetes e
serpentinas como no ano passado. Mas mesmo assim, continua exagerando, poluindo.
O padrão Globo de transmissão de Carnaval neste ano foi
seguido à risca até quando, no
último desfile do primeiro dia
de São Paulo, teve que mostrar
um enredo que contava a história de João Saad, fundador do
Grupo Bandeirantes -que até
o ano passado fazia oposição
institucional à Globo, mas não
faz mais, agora que são parceiros no futebol.
O desfile da Nenê de Vila Matilde foi mostrado pela Globo
com o mesmo padrão de sempre. A emissora nem recorreu
ao truque de não mostrar artistas da concorrente - alguns,
como Leão Lobo, tiveram uma
exposição recorde. Leci Brandão até achou que era o caso de
louvar no ar essa atitude "digna" da Globo. Acorda, Leci, a
principal razão da transmissão
do Carnaval de São Paulo é o dinheiro do anunciante.
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