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Berlim confirma avanço global do cinema chinês
Diretor de "Tuya's Marriage", Wang Quan'an prevê "apogeu" do cinema em seu país
Em nome da expansão para o mercado internacional, a censura chinesa tem flexibilizado seus critérios; cineastas evitam o tema
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
"Este é um favor que o Festival de Berlim faz ao cinema chinês, que provará um novo apogeu." Com essa sentença, o diretor chinês Wang Quan'an estendeu a toda a cinematografia
de seu país os efeitos do Urso de
Ouro que ganhou no sábado.
Com seu terceiro longa, "Tuya's Marriage" (o casamento de
Tuya), Quan'an recebeu o prêmio máximo do festival alemão, derrotando 21 concorrentes, inclusive o brasileiro "O
Ano em que Meus Pais Saíram
de Férias" (Cao Hamburger), e
dois compatriotas, Li Yu ("Lost
in Beijing", perdidos em pequim) e Zhang Lu ("Desert
Dream", sonho do deserto).
A forte presença e a vitória da
China em Berlim -em reprise
do resultado do último Festival
de Veneza, que premiou "Still
Life" (Jia Zhang-Ke)- corroboram as pretensões do país
asiático de expandir para o
mercado internacional o alcance de seu cinema, dominante
no plano interno -tem 68,5%
dos ingressos nas 38,5 mil salas.
Em nome da expansão internacional, a censura chinesa
tem flexibilizado seus critérios.
É o que permite a diretores como Quan'an discutir inclusive
as contradições impostas à China por seu acelerado processo
de industrialização e suas aspirações como uma economia de
mercado.
"Alguma coisa sempre desaparece com a expansão econômica. Esse filme sobre a Mongólia e o modo como se vive lá é
uma oportunidade para refletir
sobre o que perdemos com essa
expansão", disse Quan'an, após
receber seu Urso de Ouro.
A Tuya do título de Quan'an é
uma mulher que vive no interior da Mongólia e resiste a deixar para trás a vida rural e o marido inválido, embora fique cada vez mais isolada em sua região, cujos moradores são atraídos pela perspectiva do desenvolvimento urbano e de suas facilidades domésticas.
Junto com o "apogeu" que
avista para o cinema chinês, o
vencedor do Urso espera que
ele "ganhe mais diversidade".
A censura chinesa, apesar de
estar mais amena, ainda tem
como imperativo a aprovação
prévia de todo roteiro, antes de
ser filmado. E, mesmo assim, os
filmes podem sofrer sanções
depois de concluídos.
Foi o que ocorreu com "Lost
in Beijing", da diretora Li Yu,
cuja exibição em Berlim foi cercada de polêmica, quando se divulgou que o governo chinês
exigiu 15 cortes na versão vista
e convidada pelo festival.
A partir de um conflito de paternidade, "Lost in Beijing"
aborda temas como corrupção
moral e econômica, migração
interna na China e hábitos sexuais de jovens adultos, com
pelo menos uma cena abrasiva,
que a censura não cortou.
Para diretores que pretendem continuar filmando na
China, a censura é, obviamente,
um tema-tabu. Li Yu e seu produtor, Fang Li, evitaram comentários enfáticos sobre os
problemas enfrentados pelo
seu filme em Berlim e minimizaram o papel da censura.
"Acho que o que está ocorrendo é um conflito de gerações. Os censores são muito velhos e eles simplesmente não
gostam de cenas que retratam a
realidade dos jovens", disse Li.
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