São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

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Berlim confirma avanço global do cinema chinês

Diretor de "Tuya's Marriage", Wang Quan'an prevê "apogeu" do cinema em seu país

Em nome da expansão para o mercado internacional, a censura chinesa tem flexibilizado seus critérios; cineastas evitam o tema

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

"Este é um favor que o Festival de Berlim faz ao cinema chinês, que provará um novo apogeu." Com essa sentença, o diretor chinês Wang Quan'an estendeu a toda a cinematografia de seu país os efeitos do Urso de Ouro que ganhou no sábado.
Com seu terceiro longa, "Tuya's Marriage" (o casamento de Tuya), Quan'an recebeu o prêmio máximo do festival alemão, derrotando 21 concorrentes, inclusive o brasileiro "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" (Cao Hamburger), e dois compatriotas, Li Yu ("Lost in Beijing", perdidos em pequim) e Zhang Lu ("Desert Dream", sonho do deserto).
A forte presença e a vitória da China em Berlim -em reprise do resultado do último Festival de Veneza, que premiou "Still Life" (Jia Zhang-Ke)- corroboram as pretensões do país asiático de expandir para o mercado internacional o alcance de seu cinema, dominante no plano interno -tem 68,5% dos ingressos nas 38,5 mil salas.
Em nome da expansão internacional, a censura chinesa tem flexibilizado seus critérios. É o que permite a diretores como Quan'an discutir inclusive as contradições impostas à China por seu acelerado processo de industrialização e suas aspirações como uma economia de mercado.
"Alguma coisa sempre desaparece com a expansão econômica. Esse filme sobre a Mongólia e o modo como se vive lá é uma oportunidade para refletir sobre o que perdemos com essa expansão", disse Quan'an, após receber seu Urso de Ouro.
A Tuya do título de Quan'an é uma mulher que vive no interior da Mongólia e resiste a deixar para trás a vida rural e o marido inválido, embora fique cada vez mais isolada em sua região, cujos moradores são atraídos pela perspectiva do desenvolvimento urbano e de suas facilidades domésticas.
Junto com o "apogeu" que avista para o cinema chinês, o vencedor do Urso espera que ele "ganhe mais diversidade".
A censura chinesa, apesar de estar mais amena, ainda tem como imperativo a aprovação prévia de todo roteiro, antes de ser filmado. E, mesmo assim, os filmes podem sofrer sanções depois de concluídos.
Foi o que ocorreu com "Lost in Beijing", da diretora Li Yu, cuja exibição em Berlim foi cercada de polêmica, quando se divulgou que o governo chinês exigiu 15 cortes na versão vista e convidada pelo festival.
A partir de um conflito de paternidade, "Lost in Beijing" aborda temas como corrupção moral e econômica, migração interna na China e hábitos sexuais de jovens adultos, com pelo menos uma cena abrasiva, que a censura não cortou.
Para diretores que pretendem continuar filmando na China, a censura é, obviamente, um tema-tabu. Li Yu e seu produtor, Fang Li, evitaram comentários enfáticos sobre os problemas enfrentados pelo seu filme em Berlim e minimizaram o papel da censura.
"Acho que o que está ocorrendo é um conflito de gerações. Os censores são muito velhos e eles simplesmente não gostam de cenas que retratam a realidade dos jovens", disse Li.


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