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REVIVAL
Clássico urbano de 1979 de Arrigo Barnabé estréia hoje no Sesc Ipiranga, para gravação de versão ao vivo
"Clara Crocodilo" escapole e volta a SP
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
"Clara Crocodilo fugiu/ Clara
Crocodilo escapuliu." Os versos
são para avisar que Arrigo Barnabé
comemora 20 anos de carreira em
show no Sesc Ipiranga, que será
gravado para o lançamento do CD
"Clara Crocodilo - Ao Vivo".
Barnabé apareceu em 1979, num
festival universitário de música
promovido pela TV Cultura. Foi
um choque. A impressão que se tinha era de que alguém cantava, pela primeira vez, como os jovens de
todas as partes do Brasil urbano
sobreviviam "aos duros anos".
Na banda estavam Itamar Assumpção, no baixo, Vânia Bastos e
Suzana Salles, nos vocais. Sua música "Diversões Eletrônicas" ganhou o festival; Tom Zé era o presidente do júri.
Algo nascia para preencher a
despoluída bossa nova, o tropicalismo adormecido e o bucolismo
mineiro, algo que deu no disco
"Clara Crocodilo".
"Clara Crocodilo" não é somente
um vinil empoeirado no fundo do
armário. Era uma ópera que celebra a industrialização e a renovação brasileira. Uma ode à vida na
metrópole, inspirada na narrativa
de histórias em quadrinhos, linguagem urbana na essência.
Para entender o disco é preciso
voltar ao Brasil de 1979. Arrigo
Barnabé veio do meio universitário (Escola de Comunicações e Artes da USP). "As coisas", naquela
época, aconteciam no meio universitário. Porque era um território livre, em que não entravam os
tentáculos do regime autoritário.
E, inacreditavelmente, alguém
falava de São Paulo. Estava lá o Riviera, bar da moçada paulistana:
"Era um balcão de fórmica vermelha..." Estava lá o creme do vício
dos vícios: "Diversões Eletrônicas". Estavam lá Will Eisner,
monstros mutantes, terror pela cidade e o "Acapulco Drive-in".
Era a música dos garotos que
nasceram sob os tanques e em
frente à TV. Garotos que colecionaram figurinhas de "Perdidos no
Espaço", que cresceram vendo as
experiências sem nexo de "Terra
dos Gigantes","Túnel do Tempo".
Barnabé uniu Brasil, rock pesado
e música erudita, Orson Welles,
Angeli e Godzila. Pagou um preço
caro, porque o grande público
queria o "baticum-lelê" de muitos
quadris e pensar pouco.
Luiz Waack, na guitarra, Ana
Amélia e Tuca Fernandes, nos vocais, Paulo Braga, no piano, e outros estarão no show com o Quarteto de Cordas da Cidade de São
Paulo. Tranquem as crianças em
casa. "Clara Crocodilo" voltou.
Folha - "Clara Crocodilo" voltou?
Arrigo Barnabé - Nesse disco,
não existem só canções, mas muito
material para se trabalhar.
Folha - Por que ressuscitá-lo?
Barnabé - Porque tinha muita falação, no disco anterior, que me fazia sentir envergonhado. No mais,
era uma gravação independente. O
produtor era um amigo meu de
Londrina. O estúdio era caro. Algumas frases musicais eu não gosto. Refiz tudo, uma outra versão,
mais próxima do que penso hoje.
Folha - O que você tem feito?
Barnabé - De 1992 para cá, mudei
muito o jeito de escrever. Tenho
me dedicado mais à música erudita. Trabalho com um quarteto de
cordas e tenho escrito para sopros.
Folha - Você chegou a se formar?
Barnabé - Não. Eu estava quase
para me formar. Não sou um
maestro, mas um compositor.
Folha - Incomodava o fato de não
fazer sucesso popular?
Barnabé - Tanto "Clara" como
"Tubarões Voadores", que veio a
seguir, eram discos complicados.
Eu estava meio abalado, desiludido, por não conseguir ganhar dinheiro com música. Eu era super-solicitado para fazer trilhas, como
a do filme "Cidade Oculta", mas
não conseguia pagar o aluguel.
Folha - Foi por isso que você fez o
disco "Suspeito"?
Barnabé - Tinha a música "Uga-Uga", um negócio meio retardado,
voltada para o mercado. Cheguei a
tocar no "Chacrinha", "Bolinha".
É um trabalho difícil fazer música
de mercado. É para o resto da vida.
Decidi abandonar esse projeto, e
fiz a ópera "Gigante Negão", mais
um disco independente.
Folha - Por que poucos falam de
suas letras?
Barnabé - Pouca gente valoriza as
letras. Só ficam falando que o som
é uma coisa muito louca, atonal.
Mas as letras são crônicas de uma
época, sem rimas ricas.
Folha - Orson Welles foi uma inspiração?
Barnabé - Por eu usar um estilo
de locução de rádio, parece.
Folha - Qual foi a vendagem de
"Clara Crocodilo"?
Barnabé - Não sei. Sei que foram
prensadas 50 mil cópias. Era produção independente que foi comprada por uma grande gravadora.
Show: Clara Crocodilo - Ao Vivo
Onde: Sesc Ipiranga (rua Bom Pastor, 822;
tel. 011/3340-2000)
Quando: hoje, amanhã, às 21h; domingo, às
20h; e dias 26, 27 e 28 de fevereiro
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (comerciários e
estudantes)
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