|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GASTRONOMIA
Guia brinda a alma carioca dos botequins
BRUNO GARCEZ
especial para a Folha
No Rio de Janeiro, o botequim é uma instituição das
mais sérias, capaz de abrigar
até um escritório de advocacia. É o que acontece no bar Pinhel,
um entre os 50 bares reunidos pelo
recém-lançado "Rio Botequim
1999 - 50 Bares e Botequins com a
Alma Carioca".
Trata-se de um bar cuja área dos
fundos é usada para os despachos
de um advogado que teve o escritório destruído por um incêndio. Devido à localização insólita, ao lado
de uma pia, o advogado foi apelidado de Araújo Pinga-Pinga.
O mais difícil, conta o jornalista
Paulo Thiago de Mello, que fez a
redação final e participou da pesquisa do guia, foi chegar a um consenso quanto aos bares que entrariam no roteiro. Mello conseguiu
incluir pelo menos uma de suas escolhas: o bar do seu Manoel, que fica em Maracanã (r. General Canabarro, 218, tel. 021/568- 9511).
O mais curioso da casa é o estranho rito que ela promove no último sábado do mês, quando se reúnem os integrantes da Confraria
do Bode Cheiroso. Para ingressar
na irmandade, o candidato deve
usar um chapéu de viking, comer
churrasco e tomar muita cerveja.
"Rio Botequim" teve sua primeira edição lançada em 98. A atual está acrescida com dez novos bares.
Os pesquisadores que realizaram o
trabalho preferiram incluir no livro textos sobre casas tradicionais.
Menções às cadeias de choperias,
como Sindicato do Chopp, que
proliferam no Rio, só se deram na
votação do público, que votou em
cinco categorias: melhor bar, chope, garçom, petisco e comida.
Mas o público também soube
premiar a tradição. Tanto que, do
alto de seus 112 anos, o bar Luiz
venceu em duas categorias: melhor
chope e melhor comida (kassler
com salada de batata).
Quando fundada, em 1887, pelo
alemão Adolf Rumjaneck, a casa se
chamava Braço de Ferro. Rumjaneck, exímio na queda-de-braço,
propunha um desafio aos clientes:
se ele perdesse, pagava o vinho. Se
ganhasse, eles tinham de beber
chope, costume até então pouco
conhecido entre os cariocas.
O bar Lagoa, outra casa tradicional, é lembrada por algumas de
suas marcas registradas: o bom
kassler e o mau humor dos garçons. Certa vez, um cliente reclamou que o garçom estava demorando para servi-lo e ouviu como
resposta: "Não atendo homem de
brinquinho". Curiosamente, a casa
vive lotada e tem clientela fiel.
Lar de músicos, poetas performáticos, atores e reles mortais em
busca de companhia, o Hipódromo já é sinônimo de uma área da
zona sul carioca: o Baixo Gávea.
O livro não tenta explicar a mística do local, mas o fato é que o bar
lota quase todos os dias. A casa ganhou novo fôlego quando, há alguns anos, um cliente, ao discutir
com um segurança, foi assassinado
no Sagre's, casa rival situada a alguns metros. Clientes do Sagre's
migraram para o Hipódromo.
O chope do bar é honesto, e os
muito bêbados ou pouco exigentes
apreciam a suspeitíssima pizza de
Catupiry. Como tantos outros botecos do Rio, a casa não tem nada
que justifique a hiperlotação, mas
vá dizer isso à sua clientela.
Livro: Rio Botequim 1999 - 50 Botequins
com a Alma Carioca
Lançamento: Casa da Palavra
Quanto: R$ 19 (144 págs.)
Como encomendar: tel. 021/540-0130
Patrocínio: Prefeitura do Rio de Janeiro
Texto Anterior: Debate: "Revista USP" é lançada na Folha Próximo Texto: Ferreira Gullar ia ao Zepelim Índice
|