São Paulo, Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 1999
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GASTRONOMIA
Guia brinda a alma carioca dos botequins

BRUNO GARCEZ
especial para a Folha


No Rio de Janeiro, o botequim é uma instituição das mais sérias, capaz de abrigar até um escritório de advocacia. É o que acontece no bar Pinhel, um entre os 50 bares reunidos pelo recém-lançado "Rio Botequim 1999 - 50 Bares e Botequins com a Alma Carioca".
Trata-se de um bar cuja área dos fundos é usada para os despachos de um advogado que teve o escritório destruído por um incêndio. Devido à localização insólita, ao lado de uma pia, o advogado foi apelidado de Araújo Pinga-Pinga.
O mais difícil, conta o jornalista Paulo Thiago de Mello, que fez a redação final e participou da pesquisa do guia, foi chegar a um consenso quanto aos bares que entrariam no roteiro. Mello conseguiu incluir pelo menos uma de suas escolhas: o bar do seu Manoel, que fica em Maracanã (r. General Canabarro, 218, tel. 021/568- 9511).
O mais curioso da casa é o estranho rito que ela promove no último sábado do mês, quando se reúnem os integrantes da Confraria do Bode Cheiroso. Para ingressar na irmandade, o candidato deve usar um chapéu de viking, comer churrasco e tomar muita cerveja.
"Rio Botequim" teve sua primeira edição lançada em 98. A atual está acrescida com dez novos bares. Os pesquisadores que realizaram o trabalho preferiram incluir no livro textos sobre casas tradicionais.
Menções às cadeias de choperias, como Sindicato do Chopp, que proliferam no Rio, só se deram na votação do público, que votou em cinco categorias: melhor bar, chope, garçom, petisco e comida.
Mas o público também soube premiar a tradição. Tanto que, do alto de seus 112 anos, o bar Luiz venceu em duas categorias: melhor chope e melhor comida (kassler com salada de batata).
Quando fundada, em 1887, pelo alemão Adolf Rumjaneck, a casa se chamava Braço de Ferro. Rumjaneck, exímio na queda-de-braço, propunha um desafio aos clientes: se ele perdesse, pagava o vinho. Se ganhasse, eles tinham de beber chope, costume até então pouco conhecido entre os cariocas.
O bar Lagoa, outra casa tradicional, é lembrada por algumas de suas marcas registradas: o bom kassler e o mau humor dos garçons. Certa vez, um cliente reclamou que o garçom estava demorando para servi-lo e ouviu como resposta: "Não atendo homem de brinquinho". Curiosamente, a casa vive lotada e tem clientela fiel.
Lar de músicos, poetas performáticos, atores e reles mortais em busca de companhia, o Hipódromo já é sinônimo de uma área da zona sul carioca: o Baixo Gávea.
O livro não tenta explicar a mística do local, mas o fato é que o bar lota quase todos os dias. A casa ganhou novo fôlego quando, há alguns anos, um cliente, ao discutir com um segurança, foi assassinado no Sagre's, casa rival situada a alguns metros. Clientes do Sagre's migraram para o Hipódromo.
O chope do bar é honesto, e os muito bêbados ou pouco exigentes apreciam a suspeitíssima pizza de Catupiry. Como tantos outros botecos do Rio, a casa não tem nada que justifique a hiperlotação, mas vá dizer isso à sua clientela.

Livro: Rio Botequim 1999 - 50 Botequins com a Alma Carioca
Lançamento: Casa da Palavra
Quanto: R$ 19 (144 págs.)
Como encomendar: tel. 021/540-0130
Patrocínio: Prefeitura do Rio de Janeiro



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