|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
"Cólera" é disciplinado
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
O cinema brasileiro em Berlim não repete este ano, com
"Um Copo de Cólera", de Aloízio Abranches, o fenomenal sucesso de "Central do Brasil",
unânime vencedor do festival
do ano passado. E nem é tarefa
fácil. "Cólera" faz parte dos filmes de temática forte, atrevida,
de amores irregulares. Ou de
amores dilacerados, como quer
o estranho conflito na trapaça
literária de Raduan Nassar.
Julia Lemmertz e Alexandre
Borges fazem boa figura em cena. Mas o texto, praticamente
declamado pela dupla de
amantes, soa datado. O espectador não é preparado para o
que o espera: um amor carnal e
selvagem, um repique demolidor de tudo que segue ao furor
sexual. As esperadas cenas fortes de sexo (quase explícito)
não são de causar estranhamento no panorama desta seleção muito dirigida para a comunidade homossexual. Elas
mais causam constrangimento.
Se assim quis o novato Abranches, ponto para ele.
Senão, esperamos angustiados, na curta duração deste
longa (72 minutos), por um
realismo mais mágico que o
prometido. Prometido nem
tanto pelo que o filme desenrola, e sim pela mítica que envolve a efêmera obra de Nassar.
"Cólera" resulta mais num
exercício de disciplina, uma
respeitosa reverência a um escritor. Como cinema, à parte o
notável esforço de fotografia e
luz de Pedro Farkas, o furor incontido de dois personagens
que se amam e se maltratam,
peca mais por seus excessos
verborrágicos do que carnais.
O conflito parece mais uma
trapaça, um jogo que envolve o
leitor/espectador como quem
quer saídas de emergência para
espaços abertos e arejados. Se
também assim queria o desenrolar da sua adaptação, mais
louvores para o disciplinado
Abranches. Mas não é o que se
passa. O sexo pode ser a síntese
de todos os conflitos e provações. Talvez recursos para um
filme mais longo completassem o que parece faltar na apresentação do casal que se ama e
se odeia. Para não banalizar a
essência do seu jogo, nada melhor do que um verniz literário.
É como o filme parece querer se
resolver.
Texto Anterior: Cinema: Cineastas preparam "ópera-documentário" Próximo Texto: Dança: Cia. de Diadema estréia "Trêsmaisum" Índice
|