|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OUTRA FREQUÊNCIA
Jabá de rádio é vendido pela internet
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi-se o tempo em que as negociações para emplacar uma
banda nas rádios ocorriam apenas na surdina. Agora, o jabá
(execução de músicas mediante
pagamento) tem tabela de preço e
contratos explícitos na internet.
As páginas não são de gravadoras (que tradicionalmente pagam
para colocar seus artistas no ar e
atualmente estão em crise), mas
de uma nova classe do esquema:
os jabazeiros intermediários.
São profissionais independentes, contratados por iniciantes para negociar com as rádios.
Um deles, consultado por esta
coluna, oferece pacotes com estações do interior de São Paulo.
Traz uma lista com 28 FMs (entre
elas, afiliadas de grandes redes da
capital) que aceitariam jabá. A tabela é detalhada, com informações da população da cidade e a
potência de transmissão.
O "plano de divulgação" básico
dura seis meses, envolve 24 FMs e
custa R$ 12 mil. São pagos R$ 500
para cada uma tocar uma música
três vezes por dia, durante um
mês. No primeiro, há contrato
com quatro estações a cerca de
500 quilômetros da capital. No segundo, seis, e a distância diminui
para 400 quilômetros.
Assim vai seguindo, aumentando o número de FMs e a proximidade com a região metropolitana
de SP, chegando a 50 quilômetros.
O "divulgador" também exige
que o artista forneça um "kit promocional", com 10 CDs e 3 discmans, para cada emissora.
A página de abertura do site traz
a "filosofia" do negócio. Explica
que é melhor começar do interior
para a capital, pois "o custo cobrado pelas grandes rádios de São
Paulo [capital], o famoso jabá, varia de R$ 10 mil a R$ 20 mil".
E há estilos musicais que o divulgador não aceita, nem pagando. São eles: heavy metal, hardcore, música eletrônica, grunge e
"demais que não agradem a
maioria dos ouvintes". Ele topa
pagode, forró, sertanejo, MPB e
"outros estilos comerciais".
Fábio Martins, 28, dono desse
site e da Rock Shows Produções
Artísticas, com sede na Lapa (SP),
disse à Folha que abriu a empresa
de "divulgação" há quatro meses.
"O que eu faço é dar espaço para
novos talentos." Democratizando
o jabá? "Não é isso. Quero mostrar para artistas iniciantes que é
possível chegar ao sucesso."
Martins diz que a crise das gravadoras abriu espaço para o seu
trabalho. "Hoje há muitas bandas
sem gravadoras e, como tenho vários contatos nesse meio, posso
negociar direto com as rádios."
Segundo ele, "jabá é um nome
que assusta, mas todo mundo sabe que é difícil tocar uma música
nova sem pagar e que esse esquema nunca vai mudar".
laura@folhasp.com.br
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Manifestação: Grupo monta rádio sem autorização na Paulista Índice
|