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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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OUTRA FREQUÊNCIA

Jabá de rádio é vendido pela internet

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi-se o tempo em que as negociações para emplacar uma banda nas rádios ocorriam apenas na surdina. Agora, o jabá (execução de músicas mediante pagamento) tem tabela de preço e contratos explícitos na internet.
As páginas não são de gravadoras (que tradicionalmente pagam para colocar seus artistas no ar e atualmente estão em crise), mas de uma nova classe do esquema: os jabazeiros intermediários.
São profissionais independentes, contratados por iniciantes para negociar com as rádios.
Um deles, consultado por esta coluna, oferece pacotes com estações do interior de São Paulo. Traz uma lista com 28 FMs (entre elas, afiliadas de grandes redes da capital) que aceitariam jabá. A tabela é detalhada, com informações da população da cidade e a potência de transmissão.
O "plano de divulgação" básico dura seis meses, envolve 24 FMs e custa R$ 12 mil. São pagos R$ 500 para cada uma tocar uma música três vezes por dia, durante um mês. No primeiro, há contrato com quatro estações a cerca de 500 quilômetros da capital. No segundo, seis, e a distância diminui para 400 quilômetros.
Assim vai seguindo, aumentando o número de FMs e a proximidade com a região metropolitana de SP, chegando a 50 quilômetros.
O "divulgador" também exige que o artista forneça um "kit promocional", com 10 CDs e 3 discmans, para cada emissora.
A página de abertura do site traz a "filosofia" do negócio. Explica que é melhor começar do interior para a capital, pois "o custo cobrado pelas grandes rádios de São Paulo [capital], o famoso jabá, varia de R$ 10 mil a R$ 20 mil".
E há estilos musicais que o divulgador não aceita, nem pagando. São eles: heavy metal, hardcore, música eletrônica, grunge e "demais que não agradem a maioria dos ouvintes". Ele topa pagode, forró, sertanejo, MPB e "outros estilos comerciais".
Fábio Martins, 28, dono desse site e da Rock Shows Produções Artísticas, com sede na Lapa (SP), disse à Folha que abriu a empresa de "divulgação" há quatro meses.
"O que eu faço é dar espaço para novos talentos." Democratizando o jabá? "Não é isso. Quero mostrar para artistas iniciantes que é possível chegar ao sucesso."
Martins diz que a crise das gravadoras abriu espaço para o seu trabalho. "Hoje há muitas bandas sem gravadoras e, como tenho vários contatos nesse meio, posso negociar direto com as rádios."
Segundo ele, "jabá é um nome que assusta, mas todo mundo sabe que é difícil tocar uma música nova sem pagar e que esse esquema nunca vai mudar".

laura@folhasp.com.br


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