São Paulo, sábado, 19 de março de 2005

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MÚSICA

Apresentação do cantor americano em São Paulo, anteontem, levou 18 mil pessoas, segundo a PM, ao Pacaembu

Chuva e ingresso caro afastam fãs de Kravitz

DIEGO ASSIS
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode ter sido a chuva, pode ter sido o preço do ingresso ou pode ser que o apelo de Lenny Kravitz já não seja o de dez anos atrás. O show do cantor norte-americano, anteontem, levou ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, bem menos gente do que as 30 mil esperadas pela produção do evento.
Segundo os organizadores, 22 mil pessoas estiveram presentes -número menor do que os 23 mil divulgados pouco antes do início do show. Mas, para a Polícia Militar, só 18 mil fãs se dispuseram a enfrentar a chuva que atingiu a cidade por volta das 20h30.
Das pessoas ouvidas pela Folha dentro e fora do estádio, todas assistiram ao show com ingresso de meia entrada (podia ser utilizada por estudantes com carteirinha ou por quem doasse dois quilos de alimentos não-perecíveis).
Como o preço dos ingressos era considerado alto (o mais barato era o de arquibancada, R$ 120; o gramado, R$ 160; a área VIP, de R$ 600 a R$ 800), na prática, quem não tinha carteira de estudante optou por doar alimentos.
Isso gerou alguns transtornos na porta do Pacaembu, pois aqueles que levavam alimentos deveriam trocá-los numa barraca de arrecadação, para ter o ingresso carimbado. O problema é que, na frente do estádio, havia apenas uma dessas barracas.
A partir das 20h, a fila para a troca dos alimentos era enorme. Demorava-se, em média, meia hora. Joel Aquino, coordenador da captação dos alimentos (Banco de Alimentos de São Paulo, ligado ao Fome Zero), disse que a estimativa de arrecadação foi entre 30 e 40 toneladas. "Não abrimos exceção: para aqueles que não trouxeram os alimentos, pedimos que comprassem num supermercado."
O show estava previsto para começar às 21h (teve início às 21h30). Às 20h30, com o início da chuva, a demora na fila aumentou ainda mais. As amigas Cíntia Cardoso e Ana Paula Junqueira, ambas de 17 anos, entraram no estádio chorando, com Kravitz cantando já a terceira música -"Let Love Rule"-, após esperar meia hora para a troca dos alimentos. Elas haviam desembolsado R$ 300 cada uma por um lugar em frente ao palco, na área VIP.
Os primeiros fãs a chegar ao estádio foram as amigas Caroline de Mattos, 19, Rosemeire Lira, 20, e Regiane Moura, 26, que "acamparam" em frente ao Pacaembu desde as 4h. Como agüentaram tanto tempo na fila? "A gente fica conversando e nem percebe. Qualquer coisa vale a pena para ver esse show", justifica Caroline.
Os médicos Andréia Mitsugui, 27, e Daniel Oliveira, 28, desembolsaram, como meia entrada, R$ 300 cada um para um lugar na área VIP. "Espero por este show desde o primeiro álbum dele", disse Andréia. "Se precisasse arrumar mais dinheiro, arrumava."
O público que foi assistir ao show era heterogêneo. Adolescentes eram maioria, mas havia muitos que já eram adolescentes quando Kravitz lançou o primeiro álbum, "Let Love Rule", em 1989. "Ele não é preocupado com padrões, tem um estilo de se vestir todo particular", citava Simone Mariane Gramado, 35.
Já o comerciante Vitor Alves, 21, viajou de São Bento do Sul (SC) com uma amiga após ganhar promoção de uma rádio. "Mandei 2.230 cartas. Eu tinha que vir."
Debbie, 49, e Allison Hammer, 16, de Michigan (EUA), moram há dois anos em São Paulo. Foi a primeira vez que viram um show de Kravitz. Quem é a fã? "Ela", disseram ao mesmo tempo, apontando uma para a outra.

O show
Com um problema na voz, Lenny Kravitz descartou duas das 19 canções que entram no set list da turnê brasileira, iniciada terça-feira em Porto Alegre.
Diferentemente do ocorrido em Santiago, no Chile, o público paulistano foi mais comportado, não houve gritaria ou muita empolgação. Isso, em parte, devido a um equívoco da ordem das canções.
Vestindo o habitual figurino (camisa e calça pretos, colados ao corpo, um lenço vermelho no pescoço) um Kravitz de barba por fazer iniciou o show com "Minister of Rock and Roll". Pouco depois, os hits "Let Love Rule" e "It Ain't Over Till It's Over" despertaram a atenção do público. Mas o meio do set, baseado em baladas e canções de seu último álbum, o fraco "Baptism", esfriou a temperatura. Apenas com "Fly Away", após quase 1h30 de show, o público realmente se empolgou e cantou junto. No último bis -de um total de três- Kravitz encerrou com seu maior sucesso, "Are You Gonna Go My Way".
O cantor se apresenta hoje, em Brasília, e segunda, na praia de Copacabana, no Rio.


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