São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

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CRÍTICA CONTOS

Teresa Veiga transita entre enigmas e extemporaneidade

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

A literatura portuguesa também tem seus mistérios -e um deles é Teresa Veiga, pseudônimo de uma escritora talvez nascida em Lisboa em 1945, talvez formada em direito e filologia românica, talvez ex-funcionária de um cartório.
Não se sabe muito mais coisas a respeito desta autora, que estreou na vida literária em 1980.
Teresa Veiga jamais dá entrevistas nem revela suas origens, embora não seja tão arredia quanto foi J.D. Salinger (1919-2010) ou é Thomas Pynchon.

PREMIAÇÃO
Misantropa cordial, ela permite que a imprensa a fotografe, profere discursos e chega até a sorrir, como na ocasião em que recebeu pela segunda vez, em 2009, o Prêmio Camilo Castelo Branco por "Uma Aventura Secreta do Marquês de Bradomín".
É justamente com essa obra, publicada pela Companhia das Letras, que a autora faz sua segunda aparição nas prateleiras das livrarias brasileiras -a primeira foi em 2006, com "As Enganadas" (ed. 7Letras).
O novo livro é composto de três contos centrados em segredos e fantasmas de famílias: "As Parcas", "Uma Aventura Secreta do Marquês de Bradomín" e "O Maldito, Marianina, e o Feitiço da Rocha da Pena".

AMBIENTAÇÃO
As mulheres são sempre as protagonistas das tramas, que se desenvolvem em ambientes fechados e tradicionais, atravessados por episódios enigmáticos.
Os contos são realizados com uma notável habilidade, ainda que cedam, por vezes, ao vício do virtuosismo estilístico.
São também ironicamente extemporâneos, como se a história, a moral e a literatura houvessem estagnado em Portugal.
Emulam sem receio a grande prosa do século 19, dos realistas aos góticos, e parecem todos eles alheios às rupturas provocadas pela literatura moderna.
É preciso um olhar sagaz para perceber a atualidade do livro de Teresa Veiga, escondida nos arranjos perversos da narrativa e no humor cruel de sua escrita.



UMA AVENTURA SECRETA DO
MARQUÊS DE BRADOMÍN

AUTOR Teresa Veiga
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 33 (128 págs.)
AVALIAÇÃO bom



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