São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

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TEATRO
Texto de Jayme Compri, morto em 96, terá leitura aberta ao público hoje, às 19h30, no auditório da Folha
"Olimpo..." leva mitologias à favela

da Reportagem Local

Guerra de drogas, suicídios, prostituição, teologias e justiçamentos são os temas de "Olimpo dos Orixás", peça do diretor e dramaturgo Jayme Compri, morto em 1996, que será lida hoje, às 19h30, no auditório da Folha.
O texto, de acordo com o diretor Eduardo Bonito, que orienta a leitura, transita entre duas vertentes: o tempo moderno das favelas e o arcaico da mitologia da África e da Grécia.
A história se passa numa favela dominada pela desordem social e pela promiscuidade. Diz o texto do autor: "Superando um caos nem sempre controlado pelas alturas, uma concentração de apartados lares desafia as estéticas uns dentro dos outros e alguns por cima de outros. Minúsculos caminhos, atalhos e escadarias de barro primordial unem cada nada aos lugares nenhuns adjacentes. Porém, conservam sempre uma tendência à elevação".
Não há propriamente uma ação, embora a história trate também de uma guerra de traficantes. Há, sim, várias situações vividas pelos personagens, todas articuladas em torno do "complexo de barracos" de Mãinha (a ser lida pela atriz Angela Barros), matriarca, macumbeira, traficante e lésbica.
De acordo com Bonito, a peça tem estrutura de tragédia clássica grega e forma poética de canto dos orixás. Vale-se também de um tratamento linguístico assemelhado ao estilo de Guimarães Rosa, com encadeamentos e repetições de palavras que rompem seu sentido e instalam novas possibilidades.
O ator Adão Filho ("A Vida de Galileu") fará um personagem chamado Filinho, drogado e homossexual passivo. Para Adão Filho, o texto incorpora a estrutura dos ritos de candomblé, com evocações à natureza, cantilenas dos negros escravos no trabalho, ecos das celebrações católicas. O namorado mais fixo de Filinho é Castralves (lido pelo ator Roberto Mattos), poeta, "teólogo da libertação sem Deus" e drogado.
"Olimpo dos Orixás" terá uma versão inglesa preparada pelo dramaturgo Mark O'Thomas ("False Feeding", "Salvador") e por Bonito, com estréia prevista para o ano que vem.
Segundo O'Thomas, os personagens estão dispostos na forma de um coro grego, que não chega a participar da ação, dedicando-se mais a narrar e comentar os acontecimentos.
A maior dificuldade da tradução, diz ele, será encontrar as referências, ou "entradas", para que o público inglês consiga se orientar no imaginário e nas situações de uma favela brasileira.
Participam também os atores Francisco Bretas (que lerá o personagem Paizim), Letícia Teixeira (Tarita Platinada), Marcelo Decária (Casimiro Varéola, Membro do Frei Armado e Pequena Leonor), Nilton Bicudo (Joca Brocha, Alcoforado), Renato Caldas (Irmão Damião), Silvana Funchal (DonÁbade, Metralhadora) e Wladimir Mafra (Narrador).
No próximo fim-de-semana, a peça será lida na favela do morro do Vidigal (zona sul do Rio) pelos atores do grupo Nós do Morro.
Em sua carreira, Jayme Compri revezou direção e dramaturgia. Foi fundador do grupo Iwamba e durante sete anos dramaturgo e diretor artístico no Boi Voador. Sua última direção no Brasil foi a peça "Rancor", de Otavio Frias Filho, em 1993. Aos 33 anos, Compri morreu de aneurisma cerebral em Londres, onde fazia pós-graduação.
Os interessados em assistir à leitura da peça na Folha devem fazer reservas, entre 14h e 17h, pelo telefone (011) 224-3473. O auditório do jornal fica na al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, região central. A entrada é franca.



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