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TEATRO
Texto de Jayme Compri, morto em 96, terá leitura aberta ao público hoje, às 19h30, no auditório da Folha
"Olimpo..." leva mitologias à favela
da Reportagem Local
Guerra de drogas, suicídios,
prostituição, teologias e justiçamentos são os temas de "Olimpo
dos Orixás", peça do diretor e dramaturgo Jayme Compri, morto
em 1996, que será lida hoje, às
19h30, no auditório da Folha.
O texto, de acordo com o diretor
Eduardo Bonito, que orienta a leitura, transita entre duas vertentes:
o tempo moderno das favelas e o
arcaico da mitologia da África e da
Grécia.
A história se passa numa favela
dominada pela desordem social e
pela promiscuidade. Diz o texto do
autor: "Superando um caos nem
sempre controlado pelas alturas,
uma concentração de apartados
lares desafia as estéticas uns dentro dos outros e alguns por cima
de outros. Minúsculos caminhos,
atalhos e escadarias de barro primordial unem cada nada aos lugares nenhuns adjacentes. Porém,
conservam sempre uma tendência
à elevação".
Não há propriamente uma ação,
embora a história trate também de
uma guerra de traficantes. Há,
sim, várias situações vividas pelos
personagens, todas articuladas em
torno do "complexo de barracos"
de Mãinha (a ser lida pela atriz Angela Barros), matriarca, macumbeira, traficante e lésbica.
De acordo com Bonito, a peça
tem estrutura de tragédia clássica
grega e forma poética de canto dos
orixás. Vale-se também de um tratamento linguístico assemelhado
ao estilo de Guimarães Rosa, com
encadeamentos e repetições de palavras que rompem seu sentido e
instalam novas possibilidades.
O ator Adão Filho ("A Vida de
Galileu") fará um personagem
chamado Filinho, drogado e homossexual passivo. Para Adão Filho, o texto incorpora a estrutura
dos ritos de candomblé, com evocações à natureza, cantilenas dos
negros escravos no trabalho, ecos
das celebrações católicas. O namorado mais fixo de Filinho é Castralves (lido pelo ator Roberto
Mattos), poeta, "teólogo da libertação sem Deus" e drogado.
"Olimpo dos Orixás" terá uma
versão inglesa preparada pelo dramaturgo Mark O'Thomas ("False
Feeding", "Salvador") e por Bonito, com estréia prevista para o
ano que vem.
Segundo O'Thomas, os personagens estão dispostos na forma de
um coro grego, que não chega a
participar da ação, dedicando-se
mais a narrar e comentar os acontecimentos.
A maior dificuldade da tradução, diz ele, será encontrar as referências, ou "entradas", para que o
público inglês consiga se orientar
no imaginário e nas situações de
uma favela brasileira.
Participam também os atores
Francisco Bretas (que lerá o personagem Paizim), Letícia Teixeira
(Tarita Platinada), Marcelo Decária (Casimiro Varéola, Membro
do Frei Armado e Pequena Leonor), Nilton Bicudo (Joca Brocha,
Alcoforado), Renato Caldas (Irmão Damião), Silvana Funchal
(DonÁbade, Metralhadora) e
Wladimir Mafra (Narrador).
No próximo fim-de-semana, a
peça será lida na favela do morro
do Vidigal (zona sul do Rio) pelos
atores do grupo Nós do Morro.
Em sua carreira, Jayme Compri
revezou direção e dramaturgia.
Foi fundador do grupo Iwamba e
durante sete anos dramaturgo e
diretor artístico no Boi Voador.
Sua última direção no Brasil foi a
peça "Rancor", de Otavio Frias
Filho, em 1993. Aos 33 anos, Compri morreu de aneurisma cerebral
em Londres, onde fazia pós-graduação.
Os interessados em assistir à leitura da peça na Folha devem fazer
reservas, entre 14h e 17h, pelo telefone (011) 224-3473. O auditório
do jornal fica na al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, região central. A entrada é
franca.
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