São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Professor quer integrar o museu no cenário artístico da cidade e se diz favorável a grandes mostras
Teixeira Coelho assume direção do MAC

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O professor universitário, romancista e ensaísta José Teixeira Coelho Neto, 54, assume hoje na USP, às 18h30, a direção do MAC (Museu de Arte Contemporânea). Substitui a professora Lisbeth Rebollo Gonçalves e deve cumprir uma gestão de quatro anos.
Professor na graduação da USP desde 1973, atualmente se ocupa dos cursos de política cultural e cinema na ECA (Escola de Comunicações e Artes) da universidade.
Em entrevista anteontem à Folha, falou dos problemas que pode encontrar no museu e como deverá enfrentá-los.
O novo diretor adiantou que, por se tratar de uma instituição ligada à universidade, o MAC também deverá sofrer problemas de recursos. Prevê um ano difícil pois as verbas já estão sendo cortadas em outros departamentos da universidade. Não precisou, porém, o orçamento deste ano. "Prefiro assumir antes para ver a verba no papel", disse.
Uma das prioridades do novo diretor é integrar o MAC de maneira mais ativa no cenário das artes da cidade. O fato de este ser um ano de Bienal pode conturbar o início do mandato. "Nossas relações com a Bienal deveriam ser revistas. O MAC tende a sumir nos anos do evento, já que tem cedido seu espaço para a Bienal", disse. O MAC possui duas sedes, uma no 3º andar do Pavilhão da Bienal e outra no campus da USP.
Outro ponto com o qual Teixeira Coelho terá de lidar se deve ao fato de o MAC estar ligado à USP. "A arte não tem os mesmos objetivos da universidade e isso pode causar atritos. A arte não tem o objetivo de ser politicamente correta, por exemplo. A função do museu é criar um espaço para o desenvolvimento e fortalecimento de uma arte contemporânea radical."
Teixeira Coelho, que publicou no ano passado o livro "Dicionário de Política Cultural" (Iluminuras), em que discute a necessidade de organização das estruturas culturais, pretende aplicar alguns dos pontos do livro em sua gestão.
"Um dos problemas da cultura no Brasil é a descontinuidade. Quando muda uma gestão, tudo muda na instituição. Eu não quero cair nesse erro. Vou seguir a programação já organizada, mas sei que há espaço para alterações. Quero ser um diretor-curador."
Outro ponto importante de política cultural é o entendimento do que seria uma "ação cultural" a ser desenvolvida pelo museu.
"O trabalho educativo de uma universidade tem objetivos precisos a se alcançar. A ação cultural, não. Hoje a USP pode bancar um programa de ação cultural mais livre e descompromissado de seus objetivos e fazer com que o MAC se torne um centro de cultura viva e não um lugar de cultura patrimonialista. A obra de arte é para se gastar e não para se conservar. Ela tem que circular, que ser usada pelas pessoas", disse.
Também se disse favorável às grandes mostras, não importando se as obras expostas são as melhores ou as piores de um determinado artista. "Esse é um pensamento do historiador de arte e não do espectador. O fato é que a arte deve se tornar um ponto de atração. A arte deveria ser sempre uma festa. Um dia com a arte é um dia ganho contra a barbárie."



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