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Olhar era mais que produtora
especial para a Folha
No começo dos anos 80,
não havia TV por assinatura, as TVs abertas estavam
fechadas, ousavam muito
pouco, produziam seus
próprios programas e torciam o nariz para a palavra
"terceirização". Uma camada grande de telespectadores se sentia órfã.
Para furar esse bloqueio e
diante de uma tecnologia
cada vez mais acessível, foram-se criando produtoras
independentes de vídeo, como TV Tudo, Conecta, Vídeo Imagem, Conspiração
(no Rio) e Olhar Eletrônico.
Não eram apenas produtoras que gravavam casamentos, festas, "institucionais" e documentários. Todas tinham projetos ambiciosos. Experimentavam a
linguagem do vídeo. Namoravam a ficção. Incorporaram os abusos estéticos de
Glauber Rocha e Zé Celso.
Nasceram festivais, mostras e um público cativo.
Não deu outra: enquanto as
emissoras de TV hibernavam, o que era independente frutificou e é, hoje, o time
de ponta do mercado.
A Olhar Eletrônico rendeu diretores de cinema e
comerciais, programas de
TV, publicitários e apresentadores de TV, fruto de um
trabalho que não se restringia à prestação de serviços.
Havia em sua sede, em SP,
um entra-e-sai de gente de
fora do meio. Havia os Culturais: um grupo de pessoas
se reunia para ler e discutir.
Ou traziam-se pessoas de
fora, ou realizavam-se ciclos por assunto. Houve um
semestre inteiro em que se
discutiram as civilizações.
Houve um ciclo grande
com o psiquiatra Luciano
Colela. Houve um ciclo sobre filosofia, produto que
gerou a série "Ética", exibida pela TV Cultura.
O apresentador Goulart
de Andrade, que apadrinhou a produtora, ofereceu
um espaço em seu programa na TV Gazeta.
"Nosso primeiro programa, "Antena", era horrível.
Entrevistávamos amigos famosos, na Gazeta, às 23h.
Depois, ficamos bons",
lembra Meirelles.
A Olhar produziu, ainda,
os programas "Crig Rá",
"23ª Hora", "Olho Mágico",
"Vídeo Surf", para a Band, e
especiais para o "Fantástico" e da Rita Lee, para a
Globo. Depois, vieram as
encomendas do mercado
publicitário.
A Olhar foi desmontada
em 91. Marcelo Machado
dirigiu a MTV e foi para a
DPZ. Humberto Salatine
montou sua própria produtora. Marcelo Tas foi para a
Globo e, hoje, apresenta o
"Vitrine". O desmonte
aconteceu quando a produtora estava em alta na publicidade. Era a produtora da
moda. Fez história.
(MRP)
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