São Paulo, Sexta-feira, 19 de Março de 1999
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Olhar era mais que produtora

especial para a Folha

No começo dos anos 80, não havia TV por assinatura, as TVs abertas estavam fechadas, ousavam muito pouco, produziam seus próprios programas e torciam o nariz para a palavra "terceirização". Uma camada grande de telespectadores se sentia órfã.
Para furar esse bloqueio e diante de uma tecnologia cada vez mais acessível, foram-se criando produtoras independentes de vídeo, como TV Tudo, Conecta, Vídeo Imagem, Conspiração (no Rio) e Olhar Eletrônico.
Não eram apenas produtoras que gravavam casamentos, festas, "institucionais" e documentários. Todas tinham projetos ambiciosos. Experimentavam a linguagem do vídeo. Namoravam a ficção. Incorporaram os abusos estéticos de Glauber Rocha e Zé Celso.
Nasceram festivais, mostras e um público cativo. Não deu outra: enquanto as emissoras de TV hibernavam, o que era independente frutificou e é, hoje, o time de ponta do mercado.
A Olhar Eletrônico rendeu diretores de cinema e comerciais, programas de TV, publicitários e apresentadores de TV, fruto de um trabalho que não se restringia à prestação de serviços.
Havia em sua sede, em SP, um entra-e-sai de gente de fora do meio. Havia os Culturais: um grupo de pessoas se reunia para ler e discutir.
Ou traziam-se pessoas de fora, ou realizavam-se ciclos por assunto. Houve um semestre inteiro em que se discutiram as civilizações. Houve um ciclo grande com o psiquiatra Luciano Colela. Houve um ciclo sobre filosofia, produto que gerou a série "Ética", exibida pela TV Cultura.
O apresentador Goulart de Andrade, que apadrinhou a produtora, ofereceu um espaço em seu programa na TV Gazeta.
"Nosso primeiro programa, "Antena", era horrível. Entrevistávamos amigos famosos, na Gazeta, às 23h. Depois, ficamos bons", lembra Meirelles.
A Olhar produziu, ainda, os programas "Crig Rá", "23ª Hora", "Olho Mágico", "Vídeo Surf", para a Band, e especiais para o "Fantástico" e da Rita Lee, para a Globo. Depois, vieram as encomendas do mercado publicitário.
A Olhar foi desmontada em 91. Marcelo Machado dirigiu a MTV e foi para a DPZ. Humberto Salatine montou sua própria produtora. Marcelo Tas foi para a Globo e, hoje, apresenta o "Vitrine". O desmonte aconteceu quando a produtora estava em alta na publicidade. Era a produtora da moda. Fez história. (MRP)


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