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Curador descarta novidades
da Reportagem Local
O crítico de arte Nelson Aguilar
é o curador-geral da Mostra do
Redescobrimento e responsável
direto pela seleção de obras e artistas dos módulos de arte moderna e arte contemporânea.
Curador de duas Bienais de São
Paulo (1994 e 1996), Aguilar falou
em entrevista à Folha sobre algumas características que nortearão
seus dois módulos no evento e divulgou a lista completa de artistas
selecionados por ele.
(CF)
Folha - Você privilegiou artistas com individuais ou retrospectivas nos módulos de arte
moderna e contemporânea?
Nelson Aguilar - Existem artistas com um número de obras importantes, que são espécies de
charneiras. O Volpi terá mais de
20 obras. Sérgio Camargo e Hélio
Oiticica terão representações expressivas. Jorge Guinle também
estará bem representado.
Folha - Hélio Oiticica e Lygia
Clark têm sido motivo de muitas
exposições, no Brasil e no exterior. O que você acrescentou à
trajetória deles nessa mostra?
Aguilar - Me inspirei um pouco
naquilo que a Catherine David fez
na última Documenta, só que ela
foi um pouco mais macabra.
Mostrou parangolés pendurados,
máscaras expostas em mesas...
Acho que também não tem sentido reconstruir "A Casa É o Corpo", de Lygia Clark. Agindo assim, corre-se o risco de transformar a obra desses artistas em uma
pequena Disneylândia. Por isso
mostraremos apenas obras que
dão pistas dos possíveis caminhos
que eles trilharam, obras que eles
controlaram.
Ao mostrar uma obra de arte recriada hoje, corre-se o risco de
criar um falso, algo que pertence
muito pouco ao artista.
Folha - Por que você não encomendou obras inéditas?
Aguilar - Em primeiro lugar, eu
não queria competir com a Bienal. Já fui curador da Bienal duas
vezes e sei bem que, quando a
gente pode encomendar uma
obra, conversar com o artista, ter
um diálogo e ser uma espécie de
motivador dessa obra, é muito de
acordo com o tema do evento ou
com a oportunidade de relacionar
um artista com outros.
Nessa exposição estamos mostrando artistas com uma produção muito clara, mesmo os mais
jovens. Mas é a reunião dessas
obras que vai criar um panorama
e dar um fôlego novo à exposição.
O aspecto da novidade nunca foi
uma preocupação forte.
Folha - Sua idéia inicial se
transformou nos três anos em
que você trabalhou na mostra?
Aguilar - Parti do "Museu das
Origens", do Mário Pedrosa, que
já tinha uma idéia de fazer um panorama da arte brasileira. Mas, à
medida em que o trabalho foi
avançando, fomos corrigindo essa proposta, pois a idéia ficou datada. Vimos que essa idéia do Mário Pedrosa era tributária do
"Museu Imaginário", de Malraux.
O museu é um sonho de dominação, ainda está ligado a uma política de dominação do homem sobre a cultura.
É necessário um ponto de vista
mais aberto para lidar com a idéia
do Mário para o "Museu das Origens".
Também sempre havia algo de
ideologia no Mário Pedrosa. Ele
era um trotskista e, como tal, tinha uma relação profunda com
Andrè Breton. Acredito que esse
apreço que tinha pelas imagens
do inconsciente venha do Breton.
Ele tinha algo do século 19, essa
necessidade de estar dentro de
uma ideologia.
Se existe algo que o final do século 20 revelou foi a morte das
ideologias. Nesse sentido, é uma
exposição nova, pois não tem esse
empenho ideológico que atravessa a crítica do Pedrosa.
Folha - Comente um pouco a
cenografia dos módulos de arte
moderna e contemporânea, que
parecem ser os que menos interferem na exposição das
obras.
Aguilar - A arte do século 20 inventa a sua própria cenografia. Na
instalação, o artista toma conta do
espaço. Qualquer cenografia interferiria no destino das obras,
criaria um efeito desvirtualizante,
e o público se perderia.
A exposição começa arquitetônica, como uma galeria de retratos, como o corredor vasariano,
em Florença, em que você vê quadros dos dois lados da parede.
Mas chega um momento em que
o objetos começam a voar.
O arquiteto Paulo Mendes da
Rocha, responsável pela cenografia, é muito atencioso para esse tipo de comportamento que acontece em silêncio.
Era fundamental ele criar um silêncio para que o público percebesse pela sensação o que constitui o devir da arte do século 20,
como ela coloca em cheque suas
próprias premissas e se transforma em algo ambiental e territorial.
Folha - O time selecionado
não é pequeno?
Aguilar - É bom que a mostra
tenha poucos artistas. As outras
instituições devem aproveitar isso
para fazer o trabalho delas. Esse
não é o ponto de vista absoluto da
arte brasileira, mas apenas um
dos pontos de vista possíveis.
Os museus que fizerem exposições simétricas a essa devem tentar corrigir, alargar e mostrar a
eficácia de outras possibilidades.
Essa mostra não é o capitalismo
da arte brasileira no século 20,
mas apenas uma visão.
Eu acho que essa exposição deve ser refeita várias vezes e não
pode ser uma exposição que recebe um patrocínio apenas porque
o Brasil faz 500 anos.
Se for sempre assim, teremos
que esperar muito tempo para ver
outra.
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