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TEATRO
Obra é autorizada pela Prefeitura de São Paulo
Zé Celso cria debate sobre shopping de SS
da Redação
A metáfora do beco sem saída
volta a rondar o Oficina. Os tijolos
na parede de fundo do teatro,
"muro" simbólico de resistência
cultural, tantas foram as lutas para se manter o espaço desde a década de 60, estão ameaçados de
não ver mais o sol do outro lado,
com a anunciada construção de
um shopping do Grupo Silvio
Santos no quarteirão da rua Jaceguai, na Bela Vista, em São Paulo.
O estacionamento localizado
atrás do Oficina sempre foi alvo
do Grupo SS, o proprietário, para
novos empreendimentos. Tentou-se até a incorporação do teatro concebido pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito -isso
até 1982, quando o prédio foi
tombado como patrimônio histórico. Seu entorno, porém, continua do grupo empresarial.
No dia 22/3, o "Diário Oficial do
Município" publicou despacho
da Prefeitura de São Paulo autorizando a construção do shopping,
endossada por laudo técnico emitido em 97 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do
Estado (Condephaat).
"Essas aprovações criam um
impasse, um beco para o prosseguimento da história do Oficina",
afirma o diretor José Celso Martinez Corrêa, 62.
Segundo o presidente do Condephaat, José Roberto Melhem,
58, foi aprovado apenas o pré-projeto do Bela Vista Festival
Center (nome provisório). A
construção efetiva implicaria novo laudo.
Dada como certa, não se sabe
quando a obra será iniciada (procurado pela Folha, o Grupo SS
não se pronuncia).
O shopping terá 8.300 m2 de
área construída, com oito pavimentos, seis cinemas, quatro teatros, 74 lojas e vagas para cerca de
mil veículos.
"Na sua concepção original, o
Oficina é anti-shopping por excelência, um teatro que tem o seu
próprio céu, que deixa o sol entrar
para as sessões de matinê, um espaço que é presente, vivo, com
uma árvore, uma fonte de água,
enfim, o oposto das relações estabelecidas por um shopping", explica o diretor, um dos fundadores do grupo Oficina, há 42 anos.
A nova temporada de "Boca de
Ouro", que segue até dia 23, está
servindo para mobilizar a opinião
pública sobre o assunto. Os espectadores estão participando do
abaixo-assinado.
O documento cita a Constituição Federal, em seu artigo 23, que
diz, entre outras coisas, que "o
poder público, com a colaboração
da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural
brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação".
"Nós não fomos consultados,
então, em princípio, somos contra o shopping", avisa Zé Celso.
"Eu estou vivo, por coincidência,
então eu tenho de ser consultado."
(VALMIR SANTOS)
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