São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2000


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TEATRO
Obra é autorizada pela Prefeitura de São Paulo
Zé Celso cria debate sobre shopping de SS

da Redação

A metáfora do beco sem saída volta a rondar o Oficina. Os tijolos na parede de fundo do teatro, "muro" simbólico de resistência cultural, tantas foram as lutas para se manter o espaço desde a década de 60, estão ameaçados de não ver mais o sol do outro lado, com a anunciada construção de um shopping do Grupo Silvio Santos no quarteirão da rua Jaceguai, na Bela Vista, em São Paulo.
O estacionamento localizado atrás do Oficina sempre foi alvo do Grupo SS, o proprietário, para novos empreendimentos. Tentou-se até a incorporação do teatro concebido pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito -isso até 1982, quando o prédio foi tombado como patrimônio histórico. Seu entorno, porém, continua do grupo empresarial.
No dia 22/3, o "Diário Oficial do Município" publicou despacho da Prefeitura de São Paulo autorizando a construção do shopping, endossada por laudo técnico emitido em 97 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephaat).
"Essas aprovações criam um impasse, um beco para o prosseguimento da história do Oficina", afirma o diretor José Celso Martinez Corrêa, 62.
Segundo o presidente do Condephaat, José Roberto Melhem, 58, foi aprovado apenas o pré-projeto do Bela Vista Festival Center (nome provisório). A construção efetiva implicaria novo laudo.
Dada como certa, não se sabe quando a obra será iniciada (procurado pela Folha, o Grupo SS não se pronuncia).
O shopping terá 8.300 m2 de área construída, com oito pavimentos, seis cinemas, quatro teatros, 74 lojas e vagas para cerca de mil veículos.
"Na sua concepção original, o Oficina é anti-shopping por excelência, um teatro que tem o seu próprio céu, que deixa o sol entrar para as sessões de matinê, um espaço que é presente, vivo, com uma árvore, uma fonte de água, enfim, o oposto das relações estabelecidas por um shopping", explica o diretor, um dos fundadores do grupo Oficina, há 42 anos.
A nova temporada de "Boca de Ouro", que segue até dia 23, está servindo para mobilizar a opinião pública sobre o assunto. Os espectadores estão participando do abaixo-assinado.
O documento cita a Constituição Federal, em seu artigo 23, que diz, entre outras coisas, que "o poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação".
"Nós não fomos consultados, então, em princípio, somos contra o shopping", avisa Zé Celso. "Eu estou vivo, por coincidência, então eu tenho de ser consultado." (VALMIR SANTOS)


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