São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Em exposição que tem início hoje na galeria Fortes Vilaça, artista apresenta tela comprada pelo MoMA

Beatriz Milhazes recria passeios na praia

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Eu vou dizer uma coisa que talvez espante um pouco. Eu não consigo ver padronagem no meu trabalho." A frase é de fato espantosa quando vem de ninguém menos que Beatriz Milhazes, a pintora "matisseana" conhecida e consagrada mundialmente pelas telas compostas por motivos botânicos, déco, psicodélicos, por arabescos, babados, cajus e outras frutas, alvos, estrelas, símbolos da paz, jóias e outros ornamentos. "O que existe nas minhas pinturas é uma conversa entre padrões, porque cada um dos motivos é uma forma autônoma."
Os motivos do amplo léxico de Milhazes podem ser vistos, a partir de hoje, em conversas inéditas, na galeria Fortes Vilaça. São cinco telas novas, que vêm somar ao glossário catalogado pelo crítico Adriano Pedrosa listras, quadrados e "dripppings". A maior novidade não está na iconografia, e sim na fatura das pinturas: a artista trabalhou, em três delas, aplicando tinta diretamente na tela.
No processo de Milhazes, a tinta é decalcada de moldes de plástico que ela constrói, ou seja, a composição é toda organizada a partir de formas preexistentes (a não ser no caso das áreas de cor ou de "respiro"). Nas telas novas, todas as áreas listradas foram pintadas de forma, digamos, convencional, o que constituiu um problema para a artista. Se os plásticos possibilitam que ela teste o desenho e as cores em diferentes posições na tela antes de aplicá-los, a listra não pode dar errado.
Ela conta que teve medo de perder os trabalhos em que utilizou o listrado, principalmente o mais vertical, intitulado "O Caipira", devido ao formato -que também se impõe como problema em uma pintura com vocação para se expandir infinitamente. Perder uma tela, no caso de Milhazes, é um risco alto porque ela pinta, em média, apenas dez telas por ano, o que resulta numa longa lista de espera de potenciais compradores.
Das cinco telas na mostra, "Avenida Brasil", que foi comprada pelo MoMA (Museu de Arte Moderna), de Nova York, uma semana antes da abertura da exposição, é a que mais se assemelha a uma paisagem, devido à linha do horizonte, mas é a que menos tem um centro definido. Milhazes conta que sua intenção nunca é criar um "all-over", e sim concentrações intensas de superfície. E é de uma paisagem que vem a inspiração para essas telas: a do passeio na praia. Nas colagens que são exibidas pela primeira vez em São Paulo, no piso superior da galeria, a idéia de prazer retorna: embalagens de chocolate e de bala são sobrepostas pela artista como em seu processo de pintar.


MEU PRAZER. Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, SP, tel. 0/xx/11/3032-7066). Quando: vernissage hoje, das 19h às 22h; de ter. a sex., das 10 às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 15/5. Quanto: entrada franca.


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