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ARTES PLÁSTICAS
Em exposição que tem início hoje na galeria Fortes Vilaça, artista apresenta tela comprada pelo MoMA
Beatriz Milhazes recria passeios na praia
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Eu vou dizer uma coisa que talvez espante um pouco. Eu não
consigo ver padronagem no meu
trabalho." A frase é de fato espantosa quando vem de ninguém
menos que Beatriz Milhazes, a
pintora "matisseana" conhecida e
consagrada mundialmente pelas
telas compostas por motivos botânicos, déco, psicodélicos, por
arabescos, babados, cajus e outras
frutas, alvos, estrelas, símbolos da
paz, jóias e outros ornamentos.
"O que existe nas minhas pinturas
é uma conversa entre padrões,
porque cada um dos motivos é
uma forma autônoma."
Os motivos do amplo léxico de
Milhazes podem ser vistos, a partir de hoje, em conversas inéditas,
na galeria Fortes Vilaça. São cinco
telas novas, que vêm somar ao
glossário catalogado pelo crítico
Adriano Pedrosa listras, quadrados e "dripppings". A maior novidade não está na iconografia, e
sim na fatura das pinturas: a artista trabalhou, em três delas, aplicando tinta diretamente na tela.
No processo de Milhazes, a tinta
é decalcada de moldes de plástico
que ela constrói, ou seja, a composição é toda organizada a partir
de formas preexistentes (a não ser
no caso das áreas de cor ou de
"respiro"). Nas telas novas, todas
as áreas listradas foram pintadas
de forma, digamos, convencional,
o que constituiu um problema para a artista. Se os plásticos possibilitam que ela teste o desenho e as
cores em diferentes posições na
tela antes de aplicá-los, a listra não
pode dar errado.
Ela conta que teve medo de perder os trabalhos em que utilizou o
listrado, principalmente o mais
vertical, intitulado "O Caipira",
devido ao formato -que também se impõe como problema em
uma pintura com vocação para se
expandir infinitamente. Perder
uma tela, no caso de Milhazes, é
um risco alto porque ela pinta, em
média, apenas dez telas por ano, o
que resulta numa longa lista de espera de potenciais compradores.
Das cinco telas na mostra, "Avenida Brasil", que foi comprada
pelo MoMA (Museu de Arte Moderna), de Nova York, uma semana antes da abertura da exposição, é a que mais se assemelha a
uma paisagem, devido à linha do
horizonte, mas é a que menos tem
um centro definido. Milhazes
conta que sua intenção nunca é
criar um "all-over", e sim concentrações intensas de superfície. E é
de uma paisagem que vem a inspiração para essas telas: a do passeio na praia. Nas colagens que
são exibidas pela primeira vez em
São Paulo, no piso superior da galeria, a idéia de prazer retorna:
embalagens de chocolate e de bala
são sobrepostas pela artista como
em seu processo de pintar.
MEU PRAZER. Onde: galeria Fortes
Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, SP,
tel. 0/xx/11/3032-7066). Quando:
vernissage hoje, das 19h às 22h; de ter. a
sex., das 10 às 19h; sáb., das 10h às 17h;
até 15/5. Quanto: entrada franca.
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