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ARTES PLÁSTICAS
Pinacoteca inaugura hoje mostra de 50 gravuras em água-forte do artista veneziano do século 18
Piranesi sonha com teatro de arquiteturas
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
O mestre gravador italiano Giovanni Battista Piranesi (1720-1778)
viveu um sonho que o perseguiu
toda a vida. Sonhou que era arquiteto -quem sabe um novo Borromini?-, mas pouco projetou.
Sublimou essa sua frustração ao
criar uma nova e arrojada arquitetura, de sonhos e pesadelos, em séries de gravuras em água-forte, algumas delas expostas a partir de
hoje na Pinacoteca do Estado, provenientes da coleção do Museu
Nacional de Belas Artes de Valência, na Espanha.
O período em que Piranesi nasceu ajudou muito na construção
desse seu delírio artístico. A Itália
passava por um momento de renovação estilística arquitetônica,
que se faria sentir profundamente
no artista.
Em 1723, Francesco De Sanctis
projetou a cenográfica escadaria
de Trinità dei Monti, na Piazza di
Spagna, em Roma. A obra se inseria nas novas concepções urbanísticas que privilegiavam efeitos pictóricos e teatrais na arquitetura e
aproveitavam as inovações estilísticas de Francesco Borromini
(1599-1667).
Também em Roma, em 1732, Nicola Salvi projetou e iniciou a
construção da monumental e ``cinematográfica'' Fontana di Trevi
(finalizada apenas em 1763).
Mais ao sul, na Sicília, entre 1730
e 1755, Giovanni Battista Vaccarini
projetou a reconstrução da cidade
de Catânia, destruída pelo terremoto de 1693, utilizando uma linguagem rica em elementos borrominescos. Também na ilha italiana, a cidade de Noto foi reconstruída com base em elementos e
organização cenográficos.
Na área pictórica, nas últimas
décadas do século 17 e nas primeiras do 18, o pintor e arquiteto
Francesco Solimena e o pintor Luca Giordano realizaram uma
``pintura monumental'', de ampla
concepção compositiva cenográfica.
No final de sua carreira, Giordano concebeu sua ``pintura atmosférica'', formada a partir de uma
composição experimental, desligada de referências naturalistas.
Giordano e Solimena trabalharam
em suportes bidimensionais as
pesquisas e inovações barrocas de
Borromini.
Entre as principais obras do arquiteto Borromini, estão o projeto
da igreja de San Carlo alle Quattro
Fontane, o restauro da basílica de
San Giovanni in Laterano e a construção da igreja de Sant'Ivo alla Sapienza (todas em Roma).
Suas obras são marcadas por elementos típicos de uma representação teatral, como a complexidade
geométrica (que remete a um embate dramático de forças), cuidadosa organização de espaços e calculados pontos de difusão de luz.
Borromini recusava veementemente a idéia clássica da forma como representação da realidade.
Mas, voltando a Piranesi, o artista partiu dessa idéia da impossibilidade da representação para criar
suas gravuras em água-forte (técnica que usa ácido nítrico, antigamente conhecido como água-forte, para fixar a imagem na chapa de
cobre).
A Pinacoteca exibe 50 gravuras
de quatro séries do artista: ``Cárceres de Invenção'', ``Vistas de
Roma'', ``Antiguidades Romanas'' e ``Antiguidades de Albano e
do Castelgandolfo''.
As criações de Piranesi evidenciam sua formação em áreas distintas, como perspectiva e desenho
cenográfico. Isso mostra que, além
de preocupações de ordem matemática, as suas ilusões na concepção de espaços partiam também de
um desejo pessoal de ficção.
Em seus sonhos arquitetônicos,
Piranesi subverteu perspectivas,
trabalhou com vários focos de luz,
inverteu proporções, misturou estilos.
A maioria de seus ``cárceres'',
por exemplo, uma de suas séries
mais célebres, pouco tem de prisões. São formados por arquiteturas emprestadas de fortalezas,
pontes, santuários, palácios de nobres e mesmo ruínas fictícias. São,
na verdade, templos imaginários
executados com virtuosismo intenso, algo que beira à loucura.
Mostra: Piranesi - Uma Visão do Artista
Através da Coleção de Gravuras da Real
Academia de Belas Artes de São Carlos
Onde: Pinacoteca do Estado (av.
Tiradentes, 141, Luz, tel. 011/227-6329)
Vernissage: hoje, às 15h
Quando: até 25 de maio
Quanto: R$ 4 e R$ 2 (estudantes)
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