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IMPRENSA
Autor do livro "Estação Carandiru" terá textos quinzenais no caderno
Drauzio Varella estréia coluna na Ilustrada
DA REPORTAGEM LOCAL
O que macacos, o bairro paulistano do Brás, presos e plantas
amazônicas têm em comum? Assuntos tão díspares fazem parte
do cotidiano do médico e escritor
Drauzio Varella, que a partir de
amanhã passa a assinar coluna
quinzenal na Ilustrada.
Varella, 57, gosta de temas polêmicos e vai tratar deles em seus
artigos, "a partir da ótica médica",
contou à Folha. Mas Varella não é
um médico típico. Sua forma particular de ver a realidade já dá
amostras disso. A mais nítida delas é "Estação Carandiru", livro
que escreveu a partir de sua experiência como voluntário na Casa
de Detenção de São Paulo, o
maior presídio do país.
No mês passado, a obra, que já
vendeu mais de 120 mil exemplares, recebeu o Prêmio Jabuti e o título de Livro do Ano na categoria
não-ficção.
Atualmente ele prepara dois outros livros, que serão lançados em
junho. O primeiro é "Macacos",
que faz parte da nova série "Folha
Explica", da Publifolha. O segundo é "Nas Ruas do Brás", livro infantil sobre suas memórias no
bairro onde cresceu, que sai pela
Cia. das Letras. "Apesar de ser um
texto infantil, não escrevi de forma a imbecilizar as crianças."
Além dos dois livros, o oncologista também coordena uma extensa pesquisa na Amazônia para
mapear substâncias naturais que
possam combater doenças.
Na entrevista a seguir, Varella
fala sobre seus livros, pesquisas e
futuros artigos.
Folha - Quais assuntos o sr. pretende abordar no jornal?
Drauzio Varella - Eu sou médico,
tudo o que fiz na vida tem a ver
com medicina. O que imagino
que se espera de mim, quando alguém for ler minha coluna, não é
algo como crítica literária. No
meu primeiro artigo, por exemplo, já vou falar sobre o maior
problema de saúde que existe no
país: o cigarro. Ataco o cigarro do
ponto de vista daquilo que ele
realmente é, ou seja, um dispositivo para administração de droga.
A nicotina é a droga que mais vicia. É pior que o crack.
Folha - Por que o sr. resolveu trabalhar com detentos do Carandiru?
Varella - Foi por curiosidade.
Sempre tive fantasias em que me
imaginava preso e como faria para sobreviver. Acho que todo
mundo já pensou nisso. Quando
percebi que poderia fazer um trabalho educativo lá, achei que poderia matar essa curiosidade.
Com o tempo, fui me envolvendo
e comecei a entender a profissão
de maneira diferente. Por isso escrevi "Estação Carandiru", para
contar o que vi lá, mas da maneira
mais objetiva possível. Até porque não gosto de violência.
Folha - Para domesticar a violência, a civilização não criou mais violência?
Varella - Num sentido, sim, mas
também criou as sinfonias de
Bach. Tem os dois lados. Nós temos os mesmos mecanismos básicos. Ficamos mais horrorizados
com um estupro do que com um
assassinato. Assim também é na
cadeia, um matador é respeitado,
um estuprador não tem futuro.
Por quê? Porque somos selecionados entre os que conseguiram
proteger suas mulheres dos estupros, dos que não souberam fazer
isso e não deixaram descendentes. Somos herdeiros de pessoas
que tiveram sucesso em suas estratégias sexuais. Na pesquisa que
faço sobre os macacos, constatei
que, em todos os primatas, as fêmeas jovens são atraídas pelos
machos mais velhos, dominantes,
pois o filhote vai ter mais chance
de sobrevivência. Mas ela não sabe disso, apenas se sente atraída. É
uma longa história evolutiva.
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