São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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IMPRENSA
Autor do livro "Estação Carandiru" terá textos quinzenais no caderno
Drauzio Varella estréia coluna na Ilustrada

DA REPORTAGEM LOCAL

O que macacos, o bairro paulistano do Brás, presos e plantas amazônicas têm em comum? Assuntos tão díspares fazem parte do cotidiano do médico e escritor Drauzio Varella, que a partir de amanhã passa a assinar coluna quinzenal na Ilustrada.
Varella, 57, gosta de temas polêmicos e vai tratar deles em seus artigos, "a partir da ótica médica", contou à Folha. Mas Varella não é um médico típico. Sua forma particular de ver a realidade já dá amostras disso. A mais nítida delas é "Estação Carandiru", livro que escreveu a partir de sua experiência como voluntário na Casa de Detenção de São Paulo, o maior presídio do país.
No mês passado, a obra, que já vendeu mais de 120 mil exemplares, recebeu o Prêmio Jabuti e o título de Livro do Ano na categoria não-ficção.
Atualmente ele prepara dois outros livros, que serão lançados em junho. O primeiro é "Macacos", que faz parte da nova série "Folha Explica", da Publifolha. O segundo é "Nas Ruas do Brás", livro infantil sobre suas memórias no bairro onde cresceu, que sai pela Cia. das Letras. "Apesar de ser um texto infantil, não escrevi de forma a imbecilizar as crianças."
Além dos dois livros, o oncologista também coordena uma extensa pesquisa na Amazônia para mapear substâncias naturais que possam combater doenças.
Na entrevista a seguir, Varella fala sobre seus livros, pesquisas e futuros artigos.

Folha - Quais assuntos o sr. pretende abordar no jornal?
Drauzio Varella -
Eu sou médico, tudo o que fiz na vida tem a ver com medicina. O que imagino que se espera de mim, quando alguém for ler minha coluna, não é algo como crítica literária. No meu primeiro artigo, por exemplo, já vou falar sobre o maior problema de saúde que existe no país: o cigarro. Ataco o cigarro do ponto de vista daquilo que ele realmente é, ou seja, um dispositivo para administração de droga. A nicotina é a droga que mais vicia. É pior que o crack.

Folha - Por que o sr. resolveu trabalhar com detentos do Carandiru?
Varella -
Foi por curiosidade. Sempre tive fantasias em que me imaginava preso e como faria para sobreviver. Acho que todo mundo já pensou nisso. Quando percebi que poderia fazer um trabalho educativo lá, achei que poderia matar essa curiosidade. Com o tempo, fui me envolvendo e comecei a entender a profissão de maneira diferente. Por isso escrevi "Estação Carandiru", para contar o que vi lá, mas da maneira mais objetiva possível. Até porque não gosto de violência.

Folha - Para domesticar a violência, a civilização não criou mais violência?
Varella -
Num sentido, sim, mas também criou as sinfonias de Bach. Tem os dois lados. Nós temos os mesmos mecanismos básicos. Ficamos mais horrorizados com um estupro do que com um assassinato. Assim também é na cadeia, um matador é respeitado, um estuprador não tem futuro. Por quê? Porque somos selecionados entre os que conseguiram proteger suas mulheres dos estupros, dos que não souberam fazer isso e não deixaram descendentes. Somos herdeiros de pessoas que tiveram sucesso em suas estratégias sexuais. Na pesquisa que faço sobre os macacos, constatei que, em todos os primatas, as fêmeas jovens são atraídas pelos machos mais velhos, dominantes, pois o filhote vai ter mais chance de sobrevivência. Mas ela não sabe disso, apenas se sente atraída. É uma longa história evolutiva.


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