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Segundo longa-metragem de Tata Amaral, "Através da Janela" estréia hoje em SP e no Rio
Filme narra uma complicada relação entre mãe e filho e já foi exibido em festivais, como o de Roterdã (Holanda)
Tragédia do Cotidiano
DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Segundo filme da cineasta Tata
Amaral, 39, "Através da Janela"
chega hoje a três cinemas de São
Paulo e a dois do Rio, depois de
percorrer vários festivais, entre
eles o de Roterdã (Holanda).
Rodado no bairro da Lapa (zona noroeste de São Paulo) em
1998, ao custo de R$ 1,4 milhão, o
filme retrata, resumidamente,
cinco dias da vida de uma mãe superprotetora, Selma (Laura Cardoso), e de seu filho, o desempregado Raimundo, o Raí (Fransérgio Araújo), que a explora de forma, digamos, sedutora.
Tata Amaral filmou uma tragédia, no sentido grego -ou teatral- da palavra, tendo esse cotidiano como pano de fundo. No
primeiro dia (cada dia é um ato),
Selma aparece dona da situação.
Aos poucos, graças à intromissão da amiga Tomasina (Ana Lúcia Torre), Selma vai percebendo
que algo está errado com o filho,
que recebe telefonemas de uma
mulher misteriosa. Mas ela se recusa a querer descobrir quem é.
Tata Amaral espera atrair até
100 mil espectadores para seu filme, embora concorde que "nada
de extraordinário" acontece nele.
Leia a seguir trechos de entrevista
à Folha.
Folha - No filme, não está claro
que existe uma relação incestuosa
entre mãe e filho. Em determinado
momento, eles se dão conta de que
existe erotismo, mas o repelem.
Tata Amaral - O que eu quis contar é exatamente isso. É uma das
características da Selma. Ainda
que esse erotismo aflore, ela não
quer ver, assim como ela não quer
ver que o filho está estranho, que
ele não trabalha. Para ver isso, ela
precisa da vizinha, a Tomasina.
O filme foi construído em cima
dessa personagem, que é aprisionada em seu cotidiano. Procurei
trabalhar todas as ações do filme
dentro do campo do cotidiano.
Nada de extraordinário acontece.
A gente procurou também trabalhar alguns elementos da tragédia
clássica e a Tomasina funciona
como o coro grego, que expressava o ponto de vista do homem comum. A Tomasina vai apontando, mas a Selma, que está dentro
desse mundo que ela criou, não
quer ver. Uma das maneiras de
contar que ela não quer ver foi
com esse erotismo.
Folha - Isso não pode repelir o público?
Tata - Engraçado. Nas sessões
que tenho ido, em pré-estréia, não
tem chocado. Aquela mãe é qualquer mãe, e as pessoas enxergam
isso. Procurei trabalhar essa mãe
como doadora incondicional e
responsável pela integridade do
filho, até as últimas consequências, e essa figura é conhecida de
todos.
Você quis fazer um filme sobre o
cotidiano de mãe e filho?
Tata - Não. Eu queria continuar
a pesquisa, que comecei com
"Um Céu de Estrelas", sobre a estrutura trágica, porque adoro tragédia, a primeira manifestação
dramática do mundo. A tragédia
nasceu para expressar uma crise
entre a tradição dos gregos e a vida contemporânea das cidades.
Por acaso, o Jean-Claude (Bernardet, autor do argumento e co-roteirista, ao lado da própria Tata
Amaral e de Fernando Bonassi)
foi assistir à peça "Vereda da Salvação" (dirigida por Antunes Filho), em que há uma cena em que
o Luiz Mello está falando para o
público, se transformando em líder, e a mãe sai detrás do palco e
fica atrás dele. Essa cena inspirou
todo o roteiro. A mãe é a Laura
Cardoso. Esse filme foi inspirado
por uma cena da Laura.
Folha - É quase um filme-solo para Laura Cardoso?
Tata - É, é um filme para ela.
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