São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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Ameaça de impeachment ronda a Fundação Bienal

CELSO FIORAVANTE E
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A novela da crise na Fundação Bienal, surgida no início desta semana, pode ainda ter vários capítulos, embora o presidente da Bienal, Carlos Bratke, tenha se esforçado na manhã de ontem em dar um ponto final na história e criar um "final feliz" para os acontecimentos.
Em entrevista à Folha, Bratke explicou todo o cronograma de reformas necessárias no Pavilhão da Bienal e garantiu que Ivo Mesquita, demitido por ele do cargo de curador da Bienal na segunda-feira, reassumirá o cargo (sua demissão foi o estopim da crise).
Bratke também aventou a possibilidade de entrar com um pedido de impeachment contra o presidente do Conselho da Fundação Bienal, Luiz Seraphico, que, segundo Bratke, "está trabalhando contra a Bienal".
Disse ainda que o adiamento da 25ª Bienal atende a interesses da Mostra do Redescobrimento e também do próprio evento, mas que nunca foi procurado por Edemar Cid Ferreira (presidente da Associação Brasil 500 Anos, instituição que organiza a Mostra do Redescobrimento) para que mudasse a data.
Carlos Bratke reconsiderou sua decisão de demitir Mesquita, motivada por declarações suas à Folha na última segunda-feira, e afirmou que ele será o curador da Bienal em 2002. "Vamos fazer a 25ª edição com o Ivo Mesquita. A sua demissão aconteceu porque ele me colocou em uma situação em que eu não tinha saída, mas tivemos uma conversa ontem à noite (anteontem) e ele concordou em ser o curador em 2002."
Para Ivo Mesquita, porém, a sua volta não é tão certa e depende de uma nova conversa com o presidente, prevista para hoje.
"O Carlos Bratke pode ter dito isso baseado no fato de que eu gostaria de sentar e conversar sobre vários pontos pendentes. Mas minha volta depende de uma posição clara em relação à confiabilidade do uso do edifício e da discussão de questões de custos da mostra e viabilidade do meu projeto", disse. Sobre a data em que o evento se realizará, colocada como condição "sine qua non" para a sua volta, Mesquita resolveu reconsiderar sua opinião inicial.
Antes, ele havia afirmado que o adiamento colocaria em jogo a "credibilidade da Bienal". Ontem, já admitia que "a questão da data é menos importante e que é preciso reavaliar questões como custos da mostra e viabilidade do meu projeto", disse. Mas ressaltou: "Se eu perceber a menor possibilidade de crise, eu não fico, pois a instituição não vai sobreviver", disse.
Apesar de tentar apaziguar os ânimos, Bratke acena com uma ameaça a Seraphico. "Existe um movimento no Conselho para pedir o impeachment do Seraphico, pois ele está trabalhando contra a Fundação Bienal. Ele não tem o apoio do conselho para pedir o meu impeachment, que é o que ele deveria estar propondo."
A declaração foi uma resposta às críticas que Seraphico fez a ele durante a semana. "Fui ofendido por esse senhor, que está querendo me derrubar. Ele disse que eu sou um atormentado, mas eu é que estou sendo atormentado por ele", afirmou Bratke.
Seraphico não gostou das declarações. "Isso é uma ameaça. Se houver o pedido de impeachment, eu abro mão do meu cargo, pois significa que o conselho se tornou um caudatário do senhor Edemar. Não pretendo permanecer presidente do conselho de uma fundação sem independência, que tornou-se um apêndice da Associação Brasil 500 anos. O que está em jogo não são interesses intelectuais, mas pura vaidade", afirmou Seraphico.
Seraphico se refere a Cid Ferreira. Além de Seraphico, outros conselheiros acusam Carlos Bratke de submissão a Cid Ferreira, que não teria interesses em ter outra grande mostra concorrendo com a sua na captação de recursos para a itinerância da Mostra.
"A mudança de data da 25ª Bienal atende os interesses da Mostra do Redescobrimento, mas atende também os interesses da Bienal. Existe uma fofoca de que estou sendo seduzido pelo Edemar Cid Ferreira, que casaremos sob a marquise, mas isso não é verdade. Existe uma concorrência entre a Bienal e a Mostra do Redescobrimento para a captação de recursos, mas não existe um acordo entre eu e o Edemar", disse o presidente da Bienal.
Bratke admitiu que há uma disputa entre dois grupos. "Eu e o Ivo estamos no meio de um tiroteio". Ele preferiu não citar nomes, mas referia-se aos grupos de Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil 500 Anos e conselheiro da Bienal, e Milú Villela, presidente do MAM-SP e também conselheira.


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