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Ameaça de impeachment ronda a Fundação Bienal
CELSO FIORAVANTE E
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A novela da crise na Fundação
Bienal, surgida no início desta semana, pode ainda ter vários capítulos, embora o presidente da Bienal, Carlos Bratke, tenha se esforçado na manhã de ontem em dar
um ponto final na história e criar
um "final feliz" para os acontecimentos.
Em entrevista à Folha, Bratke
explicou todo o cronograma de
reformas necessárias no Pavilhão
da Bienal e garantiu que Ivo Mesquita, demitido por ele do cargo
de curador da Bienal na segunda-feira, reassumirá o cargo (sua demissão foi o estopim da crise).
Bratke também aventou a possibilidade de entrar com um pedido de impeachment contra o presidente do Conselho da Fundação
Bienal, Luiz Seraphico, que, segundo Bratke, "está trabalhando
contra a Bienal".
Disse ainda que o adiamento da
25ª Bienal atende a interesses da
Mostra do Redescobrimento e
também do próprio evento, mas
que nunca foi procurado por Edemar Cid Ferreira (presidente da
Associação Brasil 500 Anos, instituição que organiza a Mostra do
Redescobrimento) para que mudasse a data.
Carlos Bratke reconsiderou sua
decisão de demitir Mesquita, motivada por declarações suas à Folha na última segunda-feira, e
afirmou que ele será o curador da
Bienal em 2002. "Vamos fazer a
25ª edição com o Ivo Mesquita. A
sua demissão aconteceu porque
ele me colocou em uma situação
em que eu não tinha saída, mas tivemos uma conversa ontem à
noite (anteontem) e ele concordou em ser o curador em 2002."
Para Ivo Mesquita, porém, a sua
volta não é tão certa e depende de
uma nova conversa com o presidente, prevista para hoje.
"O Carlos Bratke pode ter dito
isso baseado no fato de que eu
gostaria de sentar e conversar sobre vários pontos pendentes. Mas
minha volta depende de uma posição clara em relação à confiabilidade do uso do edifício e da discussão de questões de custos da
mostra e viabilidade do meu projeto", disse. Sobre a data em que o
evento se realizará, colocada como condição "sine qua non" para
a sua volta, Mesquita resolveu reconsiderar sua opinião inicial.
Antes, ele havia afirmado que o
adiamento colocaria em jogo a
"credibilidade da Bienal". Ontem,
já admitia que "a questão da data
é menos importante e que é preciso reavaliar questões como custos
da mostra e viabilidade do meu
projeto", disse. Mas ressaltou: "Se
eu perceber a menor possibilidade de crise, eu não fico, pois a instituição não vai sobreviver", disse.
Apesar de tentar apaziguar os
ânimos, Bratke acena com uma
ameaça a Seraphico. "Existe um
movimento no Conselho para pedir o impeachment do Seraphico,
pois ele está trabalhando contra a
Fundação Bienal. Ele não tem o
apoio do conselho para pedir o
meu impeachment, que é o que
ele deveria estar propondo."
A declaração foi uma resposta
às críticas que Seraphico fez a ele
durante a semana. "Fui ofendido
por esse senhor, que está querendo me derrubar. Ele disse que eu
sou um atormentado, mas eu é
que estou sendo atormentado por
ele", afirmou Bratke.
Seraphico não gostou das declarações. "Isso é uma ameaça. Se
houver o pedido de impeachment, eu abro mão do meu cargo,
pois significa que o conselho se
tornou um caudatário do senhor
Edemar. Não pretendo permanecer presidente do conselho de
uma fundação sem independência, que tornou-se um apêndice
da Associação Brasil 500 anos. O
que está em jogo não são interesses intelectuais, mas pura vaidade", afirmou Seraphico.
Seraphico se refere a Cid Ferreira. Além de Seraphico, outros
conselheiros acusam Carlos Bratke de submissão a Cid Ferreira,
que não teria interesses em ter outra grande mostra concorrendo
com a sua na captação de recursos
para a itinerância da Mostra.
"A mudança de data da 25ª Bienal atende os interesses da Mostra
do Redescobrimento, mas atende
também os interesses da Bienal.
Existe uma fofoca de que estou
sendo seduzido pelo Edemar Cid
Ferreira, que casaremos sob a
marquise, mas isso não é verdade.
Existe uma concorrência entre a
Bienal e a Mostra do Redescobrimento para a captação de recursos, mas não existe um acordo entre eu e o Edemar", disse o presidente da Bienal.
Bratke admitiu que há uma disputa entre dois grupos. "Eu e o
Ivo estamos no meio de um tiroteio". Ele preferiu não citar nomes, mas referia-se aos grupos de
Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil 500 Anos e conselheiro da Bienal, e Milú Villela,
presidente do MAM-SP e também conselheira.
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