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Com leveza e humor, os escritores Dave Eggers e Jonathan Franzen enxergam
os EUA por meio de infortúnios familiares
Ironia americana
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Das centenas de milhares de livros que o mercado editorial norte-americano já despejou nas prateleiras desde o começo
do novo milênio, foram
poucos os que pararam
tão de pé quanto "As Correções", de Jonathan
Franzen, e "Uma Comovente Obra de Espantoso
Talento", de Dave Eggers.
Os dois catataus não são
parentes literários de primeiro
grau, mas existe ao menos uma
boa meia dúzia de genes unindo
essa dupla de "espantosos" sucessos de crítica e público, dobradinha não usual na terra do tio Sam.
Franzen e Eggers são jovens,
nasceram na Costa Oeste americana e acertaram na Mega-Sena
da literatura escrevendo sobre famílias devastadas pelas doenças
de seus patriarcas -e abordando
o tema nada sorridente com a pena leve e bem-humorada. Quis o
acaso que os dois trabalhos desses
expoentes da nova ironia ianque
brotassem no Brasil na colheita da
Bienal 2003.
O estande da Companhia das
Letras exibe o recém-saído do forno "As Correções". "Uma Comovente Obra de Espantoso Talento" (U.C.O.E.T) mora no espaço
da Rocco. Franzen e Eggers não
vieram ao país para o megaevento
carioca -ainda que o primeiro
tenha sido convidado. Então a Folha foi até eles.
Primeiro, os mais jovens. Eggers, 33 anos, furou a seca narrativa americana como um cacto raro. E sem espinhos. Em 2000, estreou com "U.C.O.E.T", livro no
qual narra as memórias da perda
repentina do pai e da mãe para o
câncer, quase simultaneamente.
Em texto às vezes insuperavelmente irônico, em outros momentos quase abobado, mas com
originalidade e competência inegáveis, ele narra como se transformou, junto aos irmãos, um jovem
pai do caçula da família, Toph.
Em entrevista por e-mail, das
raras concedidas pelo escritor
-que lançou, no ano passado,
seu segundo livro-, Eggers se
mostrou bem menos histriônico.
Acompanhe em seguida trechos
do bate-papo com um dos queridinhos das letras norte-americanas de hoje.
Folha - Ainda que conte uma história triste, verdadeira e sua, "Uma
Comovente..." tem uma forte base
humorística. Até que ponto você
acha que essa comicidade está relacionada ao seu sofrimento, como
quando pessoas que estão muito
nervosas gargalham em vez de
chorar?
Dave Eggers - Para ser honesto,
não injeto propositalmente nada
de humor no que faço. Minha família era engraçada, meus amigos
encontram humor na maior parte
das coisas, assim como eu. Livros
sem humor não estão falando a
verdade completa. Na vida, piadas são tão comuns quanto as folhas de árvores. Livros sem leveza
descrevem só um mundo árido e
invernal.
Folha - As ironias tomam importante espaço na sua escrita. Não seria a auto-ironia uma forma de se
proteger dos críticos, já que você
mesmo apontou os problemas?
Eggers - Bem, não sou muito de
comentar o tema ironia. É como
falar sobre o ar. A ironia é uma
parte de como nos comunicamos
e assim é algo muito difícil de ser
separada e examinada. Há partes
do livro que são bem pouco conscientes já que o que descrevo é
forte o bastante para obstruir
qualquer autovigília.
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