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FESTIVAL DE CANNES
"Carandiru", que concorre com 19 produções pela Palma de Ouro, será exibido no Teatro Lumière
Babenco experimenta o tapete vermelho
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O longa-metragem brasileiro
"Carandiru", de Hector Babenco,
será exibido hoje em sessão de gala na competição pela Palma de
Ouro do 56º Festival de Cannes.
No Brasil, onde está em cartaz
desde 11 de abril, os resultados de
bilheteria do último fim de semana devem transformá-lo no título
nacional de maior público desde
o início dos anos 90, superando a
marca de "Cidade de Deus"
(2002), de Fernando Meirelles,
com seus 3,3 milhões de espectadores. Até o penúltimo domingo,
"Carandiru" contava com público
de 3,1 milhões.
Estava prevista para ontem a
chegada em Cannes de Babenco,
do médico e colunista da Folha
Drauzio Varella, autor do livro
"Estação Carandiru" (Companhia das Letras), no qual o filme se
baseia, e de parte do elenco: Rodrigo Santoro, Maria Luísa Mendonça, Caio Blat e Aída Lerner.
Além de "Carandiru", estréia
hoje na competição de Cannes
"Dogville", de Lars von Trier
("Dançando no Escuro"), que pode se tornar uma sensação do festival ou sua grande decepção.
Com quase três horas de duração, o novo filme do ideólogo do
movimento Dogma 95 (que pregou o despojamento técnico no
cinema) é encenado à maneira de
uma montagem teatral, abdica de
cenários e tem a estrela Nicole
Kidman como protagonista.
Inaugurado na última quarta-feira, o festival ainda não apontou
um grande favorito. Os filmes que
mais chamaram a atenção até
aqui foram "Ce Jour-Là" (Este
Dia), do franco-chileno Raoul
Ruiz, e "Uzak" (Longe), do turco
Nuri Bilge Ceylan. Os dois contam com os mais consistentes desempenhos de atores, sobretudo
nos papéis masculinos -Bernard
Giraudeau (em "Ce Jour-Là") e
Muzaffer Ozdemir (em "Uzak").
Ambientado na Suíça, o filme
de Ruiz mistura temas como a
loucura, a morte e a exploração
comercial, num tom de fábula absurda. Foi saudado pelo diário
"Le Monde" como dono de "elegância dramatúrgica", "enunciados inesquecíveis" e "inventor de
uma geografia própria".
"Uzak" é um retrato da decadência econômica da Turquia e
do fiasco pessoal de personagens
extraídos de sua classe média.
A história é contada em estilo
minimalista, a partir do momento
em que um fotógrafo de Istambul
hospeda o primo desempregado,
que vem do interior em busca de
trabalho na capital.
Produção caseira, "Uzak" foi filmado no apartamento do diretor,
e o elenco desempenhou também
as funções técnicas.
"Quis fazer um filme sobre o vazio, a falta de sentido da vida",
disse Ceylan. Mas, não necessariamente, uma defesa da desistência. "Não é só o lado positivo da
vida que traz esperanças. Particularmente, tenho mais esperança
quando experimento coisas negativas, que dão vontade de lutar."
Entre os demais concorrentes já
apresentados pelo festival, o francês André Téchiné agradou com
seu "Les Égares" (Os Desgarrados), o italiano Pupi Avati mostrou um constrangedor "Il Cuore
Altrove" (O Coração Alhures) e a
iraniana Samira Makhmalbaf decepcionou com o pretensioso e
frágil "Panj É Asr" (Às Cinco Horas da Tarde). O americano Gus
van Sant (com seu "Elephant", sobre a violência juvenil nos EUA)
foi o primeiro a polarizar a crítica,
recebendo vaias e aplausos.
A premiação ocorrerá no próximo domingo.
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