Em show gratuito, paulistana apresenta o disco "Sweet Jardim", composto quando sofria de doença no pulmão

Cantora acaba de retornar de temporada em Paris, Londres, Berlim e Nova York; hoje, o show acontece na choperia do Sesc Pompeia

MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tiê, 29, é daquelas cantoras de voz tão delicada que, usando uma expressão criada por críticos de jazz para definir artistas como Chet Baker e João Gilberto, "mal pode ser ouvida do segundo andar de uma casa de bonecas".
Em março, ela lançou "Sweet Jardim", seu ótimo primeiro álbum, com uma minitemporada no Studio SP. Lotou os quatro shows de estreia, tomou coragem e partiu para a estrada: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Paris, Londres, Berlim e Nova York. Volta nesta noite a São Paulo, para apresentação única no Sesc Pompeia.
"Se me perguntassem numa redação de escola quem é Tiê, eu colocaria como elementos uma certa doçura, um pouquinho de amargo, uma tristezinha e a simplicidade de falar as coisas na cara", define-se. E é assim que se pode descrever também sua música. Confessionais, as canções de "Sweet Jardim" latejam de tão cruas e diretas. Encontram na fragilidade sua força inacreditável. E em temas tão íntimos e pessoais o caminho para uma linguagem universal.

Composições febris
Foram compostas enquanto Tiê convalescia de uma doença um tanto misteriosa, que começou como uma febre que nunca passava. "Encontraram um tumor infeccioso no meu pulmão e acharam que era lúpus. Todo mundo me dizia que doença no pulmão era tristeza.
E eu era muito fechada, muito insegura", lembra. "Tive que voltar para a casa da minha mãe e ficar quieta por seis meses. Como não podia fazer mais nada, abri a caixa de Pandora: ficava em casa tocando violão, compondo."
Tiê teve alta há cerca de nove meses. Além da doença misteriosa, expulsou de si uma coleção de canções (com um bocado de tristeza, doçura e insegurança), um disco e uma série de shows. "O saldo final de tudo foi mais positivo que mil divãs", ela diz em "Chá Verde", a primeira das composições que nasceram nessa fase. Canta isso com voz tão delicada que só escuta o recado quem estiver atento, no mesmo andar que ela na casa de bonecas. Vale a pena fazer silêncio.