São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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Intelectual Edoardo Sanguineti morre aos 79

Poeta italiano revigorou estética com neovanguardista Grupo 63

Professor universitário e um dos mais influentes críticos do país, escritor não resistiu a cirurgia para retirada de um aneurisma


DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu ontem, em Gênova, aos 79 anos, o intelectual italiano Edoardo Sanguineti. Poeta vanguardista, dramaturgo, professor universitário, crítico, ensaísta e ativista político, ele não resistiu a uma cirurgia de urgência para a retirada de um aneurisma abdominal.
O Ministério Público abriu investigação para apurar as causas da morte. Há suspeita de que houve negligência médica.
Sanguineti integrou nos anos 1960, com Angelo Guglielmi e Umberto Eco, o Grupo 63.
O movimento neovanguardista foi, na definição de Eco, "uma espécie de reunião da jovem geração contra o idealismo de orientação alemã em estética", e inspirou gerações futuras a subverter os padrões artísticos vigentes -mais tarde seria criado o Grupo 93.
Sanguineti afirmava que a sua poesia buscava a "dissolução da linguagem cotidiana". Publicou dezenas de livros, especialmente de poesia (sendo "Laborintus", de 1956, o mais famoso), mas também romances, peças de teatro, ensaios e tradução. Não há nenhuma obra sua publicada no Brasil.
Segundo a professora de pós-graduação em teoria literária da USP Aurora Bernardini, especialista em literatura italiana, Sanguineti organizou as principais antologias de poesia contemporânea da Itália e era tido como um dos principais críticos daquele país.
"Como poeta, era muito engraçado, sempre querendo encontrar uma nota cômica, diferentemente do crítico, que era muito sisudo", diz Bernardini.
A professora conta que traduziu, com Haroldo de Campos (1929-2003), alguns de seus poemas, "mas, como sempre, faltou editora [para publicar]".
Esquerdista por toda a vida, Sanguineti foi deputado pelo Partido Comunista Italiano.
Embora há alguns anos sem escrever novos livros, o intelectual se mantinha ativo. Ontem, publicou no jornal "Corriere della Sera" o artigo "Homo Ridens", no qual analisa o riso como uma arma de poder.

Rua Augusta
Sanguineti esteve no Brasil em 1996, a convite do Instituto Italiano di Cultura, quando participou de debate na Folha.
Em entrevista ao jornal, comentou o que representava ser de vanguarda nos anos 50 e 60:
"Significava (...) refutar uma tradição "novecentesca" cristalizada sobretudo depois do fenômeno daquela restauração que se deu em grande parte nos anos 30 sob a forma de um certo neoclassicismo".
"Por outro lado, havia a necessidade de retomar a vertente crítica, eu diria anárquica, da grande tradição do moderno, ou seja, tudo o que veio do expressionismo, do dadaísmo, do surrealismo. Havia, pelo menos para mim, uma exigência de realismo, ou seja, de achar modos de expressão adequados ao que era o mundo depois das transformações ocorridas com a Segunda Guerra."
No debate, ele abordou o "paradoxo das vanguardas", que acabaram incorporadas às forças de mercado.
Segundo Aurora Bernardini, o italiano escreveu, na passagem por São Paulo, um poema inspirado na rua Augusta.

Com agências internacionais



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