|
Texto Anterior | Índice
Intelectual Edoardo Sanguineti morre aos 79
Poeta italiano revigorou
estética com neovanguardista Grupo 63
Professor universitário e
um dos mais influentes
críticos do país, escritor
não resistiu a cirurgia para
retirada de um aneurisma
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu ontem, em Gênova,
aos 79 anos, o intelectual italiano Edoardo Sanguineti. Poeta
vanguardista, dramaturgo, professor universitário, crítico, ensaísta e ativista político, ele não
resistiu a uma cirurgia de urgência para a retirada de um
aneurisma abdominal.
O Ministério Público abriu
investigação para apurar as
causas da morte. Há suspeita de
que houve negligência médica.
Sanguineti integrou nos anos
1960, com Angelo Guglielmi e
Umberto Eco, o Grupo 63.
O movimento neovanguardista foi, na definição de Eco,
"uma espécie de reunião da jovem geração contra o idealismo
de orientação alemã em estética", e inspirou gerações futuras
a subverter os padrões artísticos vigentes -mais tarde seria
criado o Grupo 93.
Sanguineti afirmava que a
sua poesia buscava a "dissolução da linguagem cotidiana".
Publicou dezenas de livros, especialmente de poesia (sendo
"Laborintus", de 1956, o mais
famoso), mas também romances, peças de teatro, ensaios e
tradução. Não há nenhuma
obra sua publicada no Brasil.
Segundo a professora de pós-graduação em teoria literária
da USP Aurora Bernardini, especialista em literatura italiana, Sanguineti organizou as
principais antologias de poesia
contemporânea da Itália e era
tido como um dos principais
críticos daquele país.
"Como poeta, era muito engraçado, sempre querendo encontrar uma nota cômica, diferentemente do crítico, que era
muito sisudo", diz Bernardini.
A professora conta que traduziu, com Haroldo de Campos
(1929-2003), alguns de seus
poemas, "mas, como sempre,
faltou editora [para publicar]".
Esquerdista por toda a vida,
Sanguineti foi deputado pelo
Partido Comunista Italiano.
Embora há alguns anos sem
escrever novos livros, o intelectual se mantinha ativo. Ontem,
publicou no jornal "Corriere
della Sera" o artigo "Homo Ridens", no qual analisa o riso como uma arma de poder.
Rua Augusta
Sanguineti esteve no Brasil
em 1996, a convite do Instituto
Italiano di Cultura, quando
participou de debate na Folha.
Em entrevista ao jornal, comentou o que representava ser
de vanguarda nos anos 50 e 60:
"Significava (...) refutar uma
tradição "novecentesca" cristalizada sobretudo depois do fenômeno daquela restauração
que se deu em grande parte nos
anos 30 sob a forma de um certo neoclassicismo".
"Por outro lado, havia a necessidade de retomar a vertente crítica, eu diria anárquica, da
grande tradição do moderno,
ou seja, tudo o que veio do expressionismo, do dadaísmo, do
surrealismo. Havia, pelo menos para mim, uma exigência
de realismo, ou seja, de achar
modos de expressão adequados
ao que era o mundo depois das
transformações ocorridas com
a Segunda Guerra."
No debate, ele abordou o
"paradoxo das vanguardas",
que acabaram incorporadas às
forças de mercado.
Segundo Aurora Bernardini,
o italiano escreveu, na passagem por São Paulo, um poema
inspirado na rua Augusta.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Folha fará curso de fotojornalismo Índice
|