São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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TELEVISÃO
Marcelinho fica com Helena, diz autor

RUI DANTAS
enviado especial ao Rio

Manoel Carlos, 65, o autor de "Por Amor", revela que no fim da novela Marcelinho ficará com Helena e Atílio, e não com Eduarda e Marcelo. O escritor também comenta o poder que tem escrevendo uma trama para a TV Globo e acredita que, em muitos momentos, faz um trabalho de utilidade pública.

Folha - Sua novela é muito comentada, mas ela não tem enormes índices de Ibope. Por quê?
Manoel Carlos -
"Por Amor" é uma novela de grande repercussão. Chegou a dar 50 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande SP), pois ela tem público cativo. Mas ela não tira audiência do Ratinho. Esticamos a novela para não deixar as pessoas trocarem de canal.
Folha - Você abordou uma série de polêmicas na novela. O que o levou a tocar nesses temas?
Manoel Carlos -
O que leva é o realismo. Em toda família existem problemas. Sempre há uma filha que namora um cara casado, um bêbado, uma filha que troca sempre de namorado, que fica "galinhando". Eu conheço uma mulher que, depois de muito tempo casada, desistiu dos filhos e foi morar com uma outra mulher. Toda novela das oito precisa ter uns "curtos-circuitos".
Folha - Você acredita que suas novelas cumprem um papel de utilidade pública?
Manoel Carlos -
Sim. Faço questão de que isso aconteça. Em "História de Amor", eu toquei no assunto do câncer de mama e, numa reportagem, uma pessoa disse: "Vou fazer o exame da novela das seis". Em "Por Amor", por meio do salão de beleza, eu toquei em muitos temas, como o novo código de trânsito, a reforma da previdência, a doação de órgãos. Era uma espécie de porta-voz da população. Quando toquei no aborto, fiz a Lídia tentar convencer a menina grávida, mas fiz questão de que ela não conseguisse. Evidentemente a menina fez uma autocrítica e se arrependeu.
Folha - Qual sua noção de poder para um autor de novela?
Manoel Carlos -
É uma responsabilidade muito grande, e eu me preocupo muito com isso. A gente não tem 15 espectadores, mas 30 milhões, fora o exterior.
Uma novela que faz sucesso na Vieira Souto, nos Jardins e no sertão de Pernambuco e que fala de aborto, de homossexualismo, tem que ser feita com responsabilidade, para que aquilo não seja distorcido. Temos esse veículo na mão e também nisso funcionamos como Deus. Você distribui valores na novela, fica como um "deuzão" durante oito meses.
Folha - Durante muito tempo, achou-se que esse poder das novelas seria pernicioso, que funcionava para manter o "status quo". Você foi acusado disso?
Manoel Carlos -
Não. Quando eu entreguei a primeira sinopse de "Por Amor", há 15 anos, ela foi censurada em várias partes. Tenho essa sinopse censurada, por uma mulher chamada Solange. Ela censurou várias coisas da novela. Mas eu não fiz a novela na época.
Folha - Com quem fica Marcelinho?
Manoel Carlos -
Ele fica com a Eduarda e o Marcelo, mas fica claro que ele não vai continuar com a Eduarda e o Marcelo. Na última cena, os dois estão de mãos dadas com Marcelinho, e Helena e Atílio estão andando na frente.
O menino se desprende dos dois e dá as mãos para os pais verdadeiros. Fica óbvio que a Helena e o Atílio vão voltar e que ficarão com o bebê.



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