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LITERATURA Livro recupera poemas que uma das maiores escritoras americanas do século fez no país; Ouro Preto discute a partir de hoje obra da poeta
Bishop comeu caju e não deixou mais o Brasil
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Existem muito poucos indícios
de que a poeta norte-americana
Elizabeth Bishop (1911-1979) tenha
passado pelo Paraíso, mas, assim
como Eva, foi comendo um fruto
proibido que ela mudou para sempre sua trajetória.
A guloseima em questão, nem
tão proibida assim, era um caju. O
local, uma rua de Petrópolis (RJ),
ano de 1951. A escritora fazia uma
escala no Brasil durante uma viagem de circunavegação pela América. No Rio de Janeiro, encontrou
uma amiga de uma amiga que ofereceu à poeta abrigo durante os
dias em que o navio de nome Bowplate ficasse ancorado no país.
Foi então que Bishop cruzou
com a serpente, ou melhor, com
um vendedor de cajus e resolveu
experimentar o fruto. Sintoma:
uma reação alérgica tão forte que
por alguns dias mal pôde abrir os
olhos. Resultado: quando conseguiu enxergar, já estava apaixonada pela sua anfitriã, a arquiteta carioca Maria Carlota Macedo Soares, a Lota, que declarara o mesmo
enquanto ajudava a tratar do rosto
inchado da poeta, com quem viveu
por quase 15 anos.
Bishop passou, com poucos intervalos, 20 anos no Brasil. E foi
aqui que construiu (em inglês)
uma parte substancial de seus cerca de cem poemas, que a credenciam como uma das maiores poetas da língua inglesa deste século,
vencedora dos dois grandes prêmios literários dos EUA: o Pulitzer
e o National Book Award.
Esta semana a obra da poeta de
Massachusetts volta a frutificar no
Brasil. Começa hoje encontro internacional em Ouro Preto (MG)
para discutir a obra de Bishop (leia
texto ao lado), ao mesmo tempo
que chega às livrarias o volume
"Poemas do Brasil", com 16 poemas selecionados e traduzidos por
Paulo Henriques Britto.
A edição bilíngue, publicada pela
Companhia das Letras, reúne, nas
palavras de Brito, "textos poéticos
que registram o impacto do Brasil
sobre a autora". Algumas vezes, as
referências são oblíquas. É o caso
do poema inédito em português
"The Shampoo" (leia ao lado), em
que a alusão ao Brasil, observa
Britto, está na referência a uma bacia de lata amassada.
Nesse "O Banho de Xampu", o
tradutor e poeta também encontra
reflexos de algumas das características centrais da escritora. Há nele
o "tom menor" característico de
Bishop, que já teve sua obra definida como sendo "spectacular in
being unspectacular" (espetacular
em ser não-espetacular).
Segundo Britto, essa poética sem
fogos de artifício vive hoje uma explosão. "Ela é uma das autoras que
mais cresce na Bolsa de Valores literária", brinca, citando a valorização atual que se dá às minorias.
Bishop era mulher e homossexual.
E, ao comer um caju, a poeta, que
morreu em Boston (EUA), passou
a ser um pouco brasileira.
Livro: Poemas do Brasil
Autora: Elizabeth Bishop
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 23 (192 págs.)
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