|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Duelo implícito entre samba e axé conduz filme "Samba Riachão"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A axé music fantasiou a timbalada e o samba-reggae. O
afropop baiano sucedeu a tropicália. O tropicalismo atropelou a
bossa nova. A bossa baiana de
João Gilberto superou Dorival
Caymmi e o samba da Bahia. E
samba da Bahia é o tema do documentário "Samba Riachão", do
músico baiano Jorge Alfredo.
Riachão, 82, é autor marginal de
sambas como "Cada Macaco no
Seu Galho", resgatado como pop
universal por Caetano Veloso e
Gilberto Gil no pós-tropicália. No
filme em sua honra, ele aparece
menos como personagem, mais
como pretexto, objeto, paisagem.
A figura comovente dança, frenética, os versos tristes que compõe, como a converter tristeza em
euforia. Desnuda-se ao chorar copiosamente diante do retrato da
mãe morta há muito. O filme não
chora por Riachão; antes o usa como pretexto para traçar uma genealogia da música da terra.
Depõem Caymmi, Antônio Risério, Caetano, Tuzé de Abreu,
Gil, Tom Zé, Armandinho... Mas
onde está o axé? Carlinhos Brown
faz a travessia. Contraria o senso
comum e diz que, não, o samba
não nasceu na Bahia: "Nasceu no
mar e precisava de porto".
Enfim aparece Daniela Mercury, dividindo o palco com Riachão, meio generosa, meio aflita.
A música axé não aparece -no
lugar, surge o samba de recôncavo pós-axé da Gang do Samba,
que agrada Riachão pelo modo
"certo" de cantar seu samba.
O sambista não diz que rejeita o
axé -nem o documentarista. Esse só confina o gênero num cantinho carinhoso da tela, bem como
se fizera antes com Riachão. Mostra, com ternura agridoce, que
ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
Samba Riachão
Direção: Jorge Alfredo
Produção: Brasil, 2001
Onde: em cartaz no Cinesesc
Texto Anterior: Show: Bandas Zémaria e Tom Bloch apresentam novo eixo musical Próximo Texto: 18ª SP Fashion Week: Fim de semana será fashion e bem brasileiro Índice
|