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TELEVISÃO
Criada pela Câmara dos Deputados, ranking da baixaria na TV recebe críticas enquanto conquista pequenas vitórias
Redes revidam ataque de campanha
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Quem financia a baixaria é contra a cidadania. Dois anos depois
de criado, o slogan da campanha
liderada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados é colocado
em xeque pelos principais representantes da TV brasileira, programas que dão mais audiência e
faturamento às emissoras.
É o caso de João Kléber, o apresentador-símbolo dessa geração
que explora a sexualidade na tela.
Seus programas, "Tarde Quente"
e "Eu Vi na TV", dividem o primeiro lugar no ranking da baixaria, divulgado no início da semana passada.
"Há alguns anos procurei a organização da campanha para me
informar sobre os critérios do
ranking, mas percebi que se pretende interferir na liberdade de
criação e de expressão artística,
como que querendo impor ao telespectador o que ele deve ou não
assistir. Ao que parece, a grande
inovação tecnológica chamada
controle remoto não chegou ao
conhecimento de alguns", diz
Kléber à Folha.
A Globo, apontada no ranking
com três programas -as novelas
"Senhora do Destino", "América"
e "A Lua me Disse"- tenta desqualificar o levantamento. Por
meio da Central Globo de Comunicação, divulgou que "o universo
das pessoas que se manifestam é
tão inexpressivo que chega a ser
consagrador para a Globo em termos de qualidade". No mesmo
comunicado, alega que "por ser a
mais vista, é natural que seja uma
das mais citadas". "Já recomendamos à comissão que busque mecanismos para obter resultados
mais legítimos e representativos."
Para Ricardo de Barros, 34, diretor do "Pânico na TV!" (4º lugar
no ranking), há preocupação com
o humor ácido, mesmo não acreditando que a campanha possa
servir como referência. "Nós modificamos o programa desde que
ele começou. É difícil fazer humor
sendo politicamente correto.
Quando a pessoa assiste a um
programa é porque gosta do jeito
que são feitas as brincadeiras",
afirma. Segundo ele, o fim do quadro "A Hora da Morte", uma cópia de "Jackass", é exemplo de
evolução no programa.
Resultados
O objetivo da campanha é promover reflexão. Desde que foi
criada, em novembro de 2002, levou ao Ministério Público representações contra os programas e
apresentadores mais citados. Até
o início deste mês, a campanha recebeu 17.415 denúncias, a maioria
criticando a violência, o apelo sexual e avaliando que o horário dos
programas seria impróprio.
Preocupada com a ética na TV,
uma série de entidades se filiou à
campanha e levou aos anunciantes a proposta de boicote à baixaria. Mas nem sempre a proposta é
bem acolhida. O Santander/Banespa, que patrocina "América",
discorda do ranking. "A empresa
não patrocina programas de baixaria e não reconhece a novela como baixaria", diz a assessoria de
imprensa do banco.
A campanha comemora resultados. A Casas Bahia, uma das
empresas brasileiras que mais investem na TV, aderiu à campanha, comprometendo-se a não
"financiar" a baixaria a partir deste ano, a partir do término dos
contratos. O apresentador Carlos
Massa, o Ratinho, viu seu programa ser atacado por críticas. Hoje,
adota tom mais leve, em que satiriza o país, conversa com o público sobre os acontecimentos do
dia e distribui prêmios.
Influenciada ou não, outra que
aderiu à campanha contra a baixaria foi a Record, que tirou do ar,
no início do mês, a edição nacional do "Cidade Alerta".
Segundo o deputado federal Orlando Fantazzini, 46, já não se
vêem mais tão explicitamente na
TV aberta cenas de exposição do
corpo humano nos programas de
domingo à tarde. Ele é um dos pilares da campanha, que, em 2004,
lançou um dia contra a baixaria,
quando estimulou os telespectadores a desligar o aparelho no dia
17/10, um domingo, obtendo 14%
menos audiência que o normal.
"Se o ranking é tão insignificante, por que eles mudam tanto os
programas?", questiona, avisando
que, neste ano, no segundo domingo de outubro, vai incentivar
os telespectadores a um novo protesto. A idéia é transformar a
campanha da Câmara dos Deputados numa ONG cuja intenção é
discutir com a sociedade projetos
de lei que possam regulamentar
uma espécie de código de ética
para as TVs. "Há um debate na
sociedade sobre o conteúdo da
TV. Aos poucos, conseguimos alterar muita coisa. É um processo
cultural que não muda num estalar de dedos", diz o deputado.
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